Por bferreira

São Paulo - Diante de uma plateia repleta de petroleiros, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que “pede a Deus todos os dias que a presidente Dilma Rousseff não perca a tranquilidade”. Ao reconhecer que o país atravessa um momento difícil, ele afirmou que o governo do PT “está precisando conversar outra vez com o povo brasileiro”.

“Acho que ela (Dilma) tem a noção exata do que estou falando. Ela conviveu muito tempo comigo e sabe que, nas horas difíceis, nas horas mais difíceis, não tem outra alternativa a não ser encostar a cabeça no ombro do povo e conversar com ele. Explicar quais são as dificuldades e quais são as perspectivas”, disse Lula, durante a 5ª Plenária Nacional da Federação Única dos Petroleiros (FUP), em Guararema, região metropolitana de São Paulo.

Para ele, Dilma precisa colocar “o pé na rua” e falar com a parcela da população que torce para ela governar o país. Para o ex-presidente, existe hoje pelo Brasil um mau humor. “É nessas horas que a gente tem que provar por que fomos eleitos, provar e dizer para o povo que valeu a pena a confiança que vocês tiveram em mim. Estamos vivendo um tempo difícil, mas vamos consertar. E é isso que a nossa presidente está fazendo”, afirmou Lula. “Tem que fazer o que tiver para fazer em Brasília e, oh, pé na estrada. Ela e os ministros”, disse.

Lula afirmou ainda que que fará o mesmo movimento. “Não vou me matar, não vou sair do país, eu vou para a rua”, disse Lula. “Se quiserem me derrubar, vão ter que me derrubar na rua.”

Em meio à Operação Lava Jato, que apura irregularidades na Petrobras, Lula defendeu a estatal e pediu punição. “Se vocês quiserem um brasileiro que tem orgulho da Petrobras, ele está aqui. Um brasileiro que não tem vergonha de dizer que sente orgulho da Petrobras. Se alguém de dentro ou de fora fez alguma sacanagem, ou roubou a Petrobras, essa pessoa que pague. E que os trabalhadores da Petrobras não sejam punidos”, disse o ex-presidente.

No discurso, Lula chamou de “irresponsáveis” os que atribuem toda a culpa do cenário econômico à presidenta Dilma e disse que há uma tentativa de “criminalizar o PT e a esquerda”.

‘Não sou nenhuma besta-fera’

Em encontro com jornalistas e estudantes, em São Paulo, o juiz federal Sérgio Moro criticou ontem o que chamou de “demonização” de sua imagem. “Não sou nenhuma besta-fera”, disse, quando questionado sobre a pressão de setores insatisfeitos pela forma como conduz as ações.

Ainda no evento, o juiz criticou o foro privilegiado. Para Moro, o foro a políticos com mandato fere o princípio da igualdade. Ele criticou o uso da prerrogativa como instrumento para causar morosidade aos processos penais.

“Vejo este instituto não muito com viés positivo porque é contrário ao princípio da igualdade. Pensando o foro privilegiado como um forma de maior controle (da gestão pública) é positivo. Mas pensando em outra forma, como um mecanismo de proteção (de figuras públicas), eu tenho dúvida da sua validade”.

Para reforçar seu argumento, disse lembrar de uma frase do personagem Homem-Aranha, nas histórias em quadrinho, nas quais dizia que “quanto maior o poder, maior a responsabilidade”. “Acho que o sistema tem que ser construído em cima disso”, concluiu.

Contra a redução da maioridade

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem a aprovação em primeiro turno, na Câmara, da redução da maioridade penal de 18 para 16 anos de idade para crimes graves, como homicídio e estupro. Para Lula, a iniciativa joga “nas costas de meninos de 16 anos a responsabilidade de coisas que os governos não fazem”.

“Será que o Estado brasileiro cumpriu suas obrigações com os jovens de 16, 17 anos? Será que oferecemos a educação necessária? Na cidade, no estado? Será que oferecemos oportunidades para esses jovens terem opção?”, questionou.

Em sua avaliação, o Brasil tem “uma dívida histórica” com os adolescentes. Para ele, o Estado não cumpriu suas obrigações e acha que vai acabar com a violência “colocando os meninos na cadeia”.

Lula observou ainda que a redução da maioridade penal tem o apoio de grande parte da população. “Sei que é um tema que se for pra plebiscito ganha, como talvez ganhe a pena de morte (se for a voto da população). Mas o Estado tem obrigação de saber se está cumprindo a sua obrigação”, afirmou.

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