Por felipe.martins

Rio - Das urnas para as ruas mais uma vez. Quatro meses depois, o governo Dilma Rousseff volta a ser alvo de manifestações nesta semana. Hoje, milhares de pessoas protestarão em 200 cidades Brasil afora, segundo os organizadores, para pedir a saída da presidenta. E na quinta-feira, atos puxados por centrais sindicais, organizações do movimento estudantil e partidos políticos defenderão o mandato da petista, sem deixar de lado as críticas ao ajuste fiscal e os ataques ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Se em março e abril movimentos como o Vem Pra Rua, Movimento Brasil Livre e Revoltados Online divergiram sobre métodos e pautas, organizadores acreditam que agora, enfim, todos marcharão juntos. E a presença de defensores de um golpe militar contra a presidenta nas passeatas é tratada como um eco da democracia. “O Vem Pra Rua é contra intervenção militar, defendemos a saída da Dilma pelas vias democráticas. Os intervencionistas vão aparecer, porque a indignação é tanta que leva a isso”, relativiza a estilista Adriana Balthazar, 45 anos, uma das lideranças do Vem Pra Rua.

Grupos anti-Dilma e anti-PT voltam às ruas hoje. Em março%2C 25 mil pessoas lotaram a orla de CopacabanaAgência O Dia

Desta vez, a novidade é a declarada presença de políticos no ato. O PSDB, do candidato derrotado à Presidência e senador Aécio Neves (MG), usou a TV para convocar o protesto pró-impeachment, e parlamentares aproveitarão para fazer campanha visando as próximas eleições. Exemplo é o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), ícone da nova direita, que levou seu clã para participar do ato em Fortaleza.

No dia 20, o ato convocado com o mote de “respeito à democracia” tem como pauta principal a crítica ao debate em torno da saída da presidenta Dilma. Secretário de comunicação do PC do B no Rio, Daniel Illiescu é um dos que está participando das reuniões sobre o ato na capital. “São cerca de 100 centrais sindicais puxando esse ato pelo Brasil todo, que não é de apoio à presidenta Dilma, e sim contra a tentativa de golpe.

É pela normalidade democrática, contra Cunha e a retirada de direitos feita pelo ajuste fiscal”, conta o militante. Um dos pontos de concentração previstos para a manifestação no Rio é a Avenida Nilo Peçanha, no Centro, onde Eduardo Cunha mantém um escritório.


‘Golpismo é um falso discurso’

“O PSDB decidiu apoiar oficialmente a mobilização do dia 16, se somar aos milhares de brasileiros, mas não vai subir ao palanque. É um instante muito vivo da democracia, da cidadania, e o partido apenas se junta aos que repudiam os atos deste governo.

Em comparação entre os momentos das outras manifestações, percebo que há mais consistência na indignação. A Operação Lava Jato, que diariamente é informada aos brasileiros, chama muita atenção. O combate à corrupção é necessário, e a pressão popular é fundamental para o país num momento como o atual.

Manifestantes contra o impeachment da presidenta irão às ruas dia 20. Em Brasília%2C Marcha das Margaridas reuniu milhares na última semanaEfe

O PT e seus aliados, ao acusarem o atual movimento de golpista, estão fazendo um falso discurso. Há casos, como o do presidente da Central Única dos Trabalhadores, de incitação à violência, ao confronto. Isso sim é uma postura antidemocrática.

Há quem defenda intervenção militar, e fato é que as pessoas são livres para se expressar, mesmo quem assume posições que não defendemos. Não aceitaremos que estas pessoas falem em nome do movimento. São grupos isolados, inexpressivos e que não têm a menor importância”.


‘A DILMA NÃO É COLLOR, O PT NÃO É O PRN’, DIZ CIENTISTA POLÍTICO

Professor de Ciência Política da Unirio e membro do Grupo de Investigação Eleitoral da universidade, Felipe Borba acredita que não há motivos para impeachment de Dilma.

1) O que esperar das manifestações de hoje e de quinta-feira?

— A força de domingo vai ser menor do que as anteriores. Não há diferença de pauta, e o perfil das pessoas que irão também é igual: o perfil vai ser o mesmo, serão as pessoas com mais renda, mais escolarizadas e que votaram no Aécio Neves, batendo na tecla da corrupção e do antipetismo. No dia 20, será o eleitor de esquerda, que está insatisfeito com o governo, mas não quer a saída da presidenta da República.

2) O que o governo pode esperar dessas duas manifestações?

— Cabe ao governo encontrar nesses movimentos uma chance de reencontrar o seu rumo. Houve algumas melhorias de março para cá, Dilma conseguiu se aproximar do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O Eduardo Cunha, agora, está enfraquecido, pois pode ser denunciado em breve. O governo pode, em breve, recuperar um pouco as rédeas da política.

3) Em 1991, o Brasil passou por um processo de impeachment com Fernando Collor. Nossa democracia ainda é jovem: já temos maturidade institucional para passar por isto de novo?

— Maturidade tem, mas eu não vejo razão para um novo processo de impeachment. Tudo isso só gera uma instabilidade maior para o país. A Dilma não é o Collor, o PT não é o PRN. Ela tem uma base social que já avisou estar a postos para ir às ruas em qualquer chance do impeachment vingar. Por isso, não há um interesse político real nesse debate, é apenas uma forma estratégica de enfraquecer ainda mais o governo e fortalecer a oposição.Crise política e econômica, neste cenário, se retroalimentam. Quando uma aumenta, a outra aumenta também, e tudo contribui para a insatisfação com o governo.


‘Não engrosso o fora Cunha’

“Essa manifestação de hoje começou a ser alimentada num contexto de insuflação do golpe, do impeachment da presidenta Dilma. Isso se esvaziou um pouco. As notícias sobre isto arrefeceram um pouco. Não sei qual será o comportamento na hora, tampouco dá para mensurar a quantidade: já houve a perspectiva de que essa manifestação seria maior do que será hoje. Não estou dizendo, contudo, que ela será pequena ou insignificante.

A manifestação do dia 20 pretende defender a legalidade democrática, a defesa do mandato presidencial. E fazer lembrar as pessoas que elas devem ter paciência constitucional. É uma lição simples, mas o fato de que a presidenta tem quatro anos de mandato não é mais tão óbvio para as pessoas, como esses bobalhões que estão defendendo intervenção militar.

Há uma contradição, nesta manifestação, que é a grito ‘fora Eduardo Cunha’. Não engrosso esse coro, pois defendo o processo legal para todas as pessoas. Se, no entanto, ele acabar sendo denunciado pela Procuradoria Geral da República, defendo que ele deixe a Presidência da Câmara dos Deputados”.

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