Por bferreira

Rio - Horas depois de ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acusou o governo de estar por trás das investigações. Em nota, ele disse que é inocente e está “absolutamente sereno” com as denúncias a seu respeito.

Na denúncia, Janot pede a condenação de Eduardo Cunha por corrupção passiva e lavagem de dinheiroLevy Ribeiro / Agência O Dia

“Sou inocente e com essa denúncia me sinto aliviado, já que agora o assunto passa para o Poder Judiciário”, afirmou Cunha. E disse ter sido “escolhido para ser investigado”. “Agora, ao que parece, estou sendo escolhido para ser denunciado, e, ainda, figurando como o primeiro da lista”, observou. “Não participei e não participo de qualquer acordão e certamente, com o desenrolar, assistiremos à comprovação da atuação do governo, que já propôs a recondução do Procurador, na tentativa de calar e retaliar a minha atuação política”, argumentou.

Na nota, Cunha demonstrou estranheza com o fato de “não ter ainda nenhuma denúncia contra membro do PT ou do governo, detentor do foro privilegiado”.

‘Festim midiático’, reage Collor

O senador Fernando Collor (PTB-AL) acusou ontem o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de fazer um “festim midiático”. A denúncia de Collor está sob sigilo.

“Como um teatro, o PGR encarregou-se de selecionar a ordem dos atos para a plateia, sem nenhuma vista pela principal vítima dessa trama, que também não teve direito a falar nos autos. Por duas vezes, o senador solicitou o depoimento, que foi marcado e, estranhamente, desmarcado às vésperas das datas estabelecidas”, escreveu Collor, no Facebook.

“Se tivesse havido respeito ao direito de o senador se pronunciar e ter vista dos autos, tudo poderia ter sido esclarecido. Fizeram opção pelo festim midiático, em detrimento do direito e das garantias individuais”, afirmou.

Janot denuncia Cunha e pede devolução de R$ 270 milhões

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentou denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF) em que acusa o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de ter recebido propina no valor de ao menos US$ 5 milhões (R$ 17,3 milhões) no esquema de corrupção na Petrobras, investigado pela Operação Lava Jato.

Na denúncia, Janot pede a condenação de Cunha pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro e também da ex-deputada federal e atual prefeita de Rio Bonito, Solange Almeida (PMDB-RJ), por corrupção.

Além da condenação criminal, o procurador-geral pede na denúncia que os envolvidos nas fraudes devolvam U$ 80 milhões (R$ 270 milhões) aos cofres públicos. Deste total, US$ 40 milhões correspondem aos valores desviados. Outros US$ 40 milhões são relativos à reparação dos danos causados à Petrobras e à administração pública.

Segundo Janot, a propina a Cunha e a outros supostos envolvidos nas fraudes foi paga no exterior, com contratos de consultoria fajutos, emissão de notas fiscais frias e até com a transferência de R$ 250 mil para uma igreja evangélica vinculada ao presidente da Câmara.

A defesa do peemedebista afirmou que ainda não teve acesso ao documento produzido pela Procuradoria, mas que a acusação “é facilmente derrubável”.

Segundo a denúncia, Cunha recebeu US$ 5 milhões em propina após o fechamento de contratos firmados entre 2006 e 2007 entre a Petrobras e a Samsung Heavy Industries, da Coreia, para fornecimento de navios-sonda para a estatal do petróleo.

A intermediação foi feita pelo lobista Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, operador ligado à diretoria Internacional da Petrobras, de indicação do PMDB. A propina foi oferecida, prometida e paga pelo empresário Júlio Camargo, segundo a denúncia.

Deputados de dez partidos — Psol, PSB, PT, PPS, PDT, PMDB, PR, PSC, PROS e PTB — divulgaram ontem manifesto pedindo a saída do deputado Eduardo Cunha da Presidência da Câmara. No documento, eles alegam que a denúncia é gravíssima.

Além de Cunha, Janot denunciou o senador Fernando Collor (PTB-AL) e o ex-ministro Pedro Paulo Leoni Ramos também por suposta participação no esquema investigado pela Polícia Federal.

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