Por fernanda.macedo

Brasília e Buenos Aires - A Polícia Federal pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja ouvido no inquérito que investiga envolvimento de políticos no esquema de corrupção na Petrobras, no âmbito da Operação Lava Jato. O pedido foi feito pelo delegado Josélio Sousa, que admitiu não ter provas contra o ex-presidente.

Em viagem pela Argentina, Lula afirmou não ter sido comunicado sobre a ação da PF. “Eu não sei como comunicaram a você e não me comunicaram. É uma pena”, disse Lula. Segundo a assessoria do Instituto Lula, o ex-presidente não teve acesso ao texto do documento enviado ao Supremo. Lembrou ainda que o pedido é “de um delegado da PF”, e não da corporação.

O pedido da PF ainda será analisado pelo Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot. Se ele for contrário à ideia de ouvir Lula, o ministro do STF, Teori Zavascki, responsável pelos casos da Lava Jato, não irá convocar o ex-presidente para depor.

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No documento, o delegado Josélio admitiu que não há provas do envolvimento direto de Lula, mas observou que a investigação “não pode se furtar à luz da apuração dos fatos” se o ex-presidente foi ou não beneficiado “pelo esquema em curso na Petrobras”, “obtendo vantagens para si, para seu partido, o PT, ou mesmo para seu governo, com a manutenção de uma base de apoio partidário sustentada à custa de negócios ilícitos na referida estatal”.

O delegado reconheceu que o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa apenas “presumem que o ex-presidente da República tivesse conhecimento do esquema de corrupção”, tendo em vista “as características e a dimensão do mesmo”.

No relatório entregue ao Supremo, Josélio destacou que “os colaboradores, porém, não dispõem de elementos concretos que impliquem a participação direta do então presidente Lula nos fatos”. Além de Lula, o delegado da PF quer que sejam ouvidos os políticos do PT Rui Falcão, presidente do partido; José Eduardo Dutra e José Sérgio Gabrielli, ambos ex-presidentes da Petrobras; José Filippi Jr., ex-tesoureiro das campanhas de Lula e Dilma Rousseff; e os ex-ministros Ideli Salvatti, Gilberto Carvalho e José Dirceu. Ele também pediu que sejam ouvidos políticos do PP e do PMDB, como os ex-ministros Mario Negromonte e Francisco Dornelles, hoje vice-governador do Rio. 


Youssef envolve PP no esquema de propina

Um dos principais delatores da Operação Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef afirmou à Polícia Federal que lideranças do PP procuraram ministros do governo Dilma Rousseff para discutir a destinação de propina do esquema.

Segundo o doleiro, no início do governo Dilma, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa “mencionou claramente nas reuniões com lideranças do PP que necessitava de uma indicação do Palácio do Planalto acerca de a qual grupos do PP o mesmo deveria direcionar os recursos do esquema de corrupção na Petrobras”.

O documento da PF afirma que a questão foi tratada com o ex-ministro Gilberto Carvalho, que ocupou a Secretaria-Geral da Presidência do governo Dilma e foi chefe de gabinete do ex-presidente Lula, e a ex-ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) que era responsável pela articulação política com o Congresso. Mas, aos investigadores, Paulo Roberto Costa negou ter tratado “tal assunto” com Ideli e Gilberto.

Em depoimento nesta sexta-feira à PF, Youssef afirmou que o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), recebeu US$ 150 mil para se filiar ao partido. Segundo ele, a verba foi acertada com o ex-deputado José Janene (PP), morto em 2010.


‘É um processo doído’

O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), lamentou nesta sexta-feira que seu pai tenha morrido sem ter visto o desfecho das investigações da Polícia Federal sobre seu suposto envolvimento na Operação Lava Jato. Anteontem, a PF recomendou ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) o arquivamento de inquérito aberto contra Pezão, o ex-governador Sérgio Cabral e o ex-chefe da Casa Civil Régis Fichtner. Para ser encerrado, no entanto, o inquérito ainda precisa passar pelo Ministério Público Federal (MPF) e pelo STJ.

“É um processo doído, só quem sofre sabe o que passa. Fico mais triste por ter perdido meu pai e ele não ter visto esta reparação”, afirmou Pezão. Segundo o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, os três peemedebistas teriam recebido R$ 30 milhões em caixa dois na campanha de 2010.

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