Por gabriela.mattos

Brasília - Após ter provocado uma corrida às lojas e a duas semanas do prazo final para a troca de extintores de incêndio de automóveis para os do tipo ABC, decisão do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) surpreendeu nesta quinta-feira a todos. Os equipamentos, de qualquer tipo, não serão mais obrigatórios em carros de passeio, utilitários e caminhonetes.

Resolução de 2009 exigia que, a partir de janeiro de 2015, todos os veículos deveriam ter extintores do tipo ABC, indicados para combater fogo em sólidos, líquidos e gases combustíveis, além de equipamentos elétricos. A exigência anterior era de que os equipamentos fossem do tipo BC (não indicado para sólidos inflamáveis). Entretanto, com as reclamações sobre a falta do produto no mercado diante do aumento da procura, o Contran adiou o prazo para 1º de abril, e, depois, para 1º de outubro.

O fim da obrigatoriedade começará a valer a partir da publicação da resolução no Diário Oficial, que deverá ocorrer nos próximos dias. A nova decisão irritou, sobretudo, os comerciantes. “Realmente não entendo. Foi uma procura absurda, principalmente em janeiro e fevereiro. Ninguém tinha, e os fornecedores chegaram a nos cobrar R$ 120 por um extintor”, reclama o comerciante Irineu Rocha, que tem cerca de 30 equipamentos automotivos do tipo ABC em estoque, à venda por R$ 100. “Ainda bem que não comprei mais. Espero que ainda consiga me desfazer desses”, acrescentou ele, que tem loja especializada em extintores desde 1992, na Rua do Rezende, na Lapa.

O comerciante Irineu Rocha lembra que a demanda pelos extintores do tipo ABC explodiu após o anúncio de que o equipamento seria obrigatórioDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

O Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) alegou que a Associação Brasileira de Engenharia Automotiva informou que, dos 2 milhões de sinistros em veículos cobertos por seguros, 800 tiveram incêndio como causa. Destes, em apenas 24 casos, os motoristas teriam usado extintor.

Segundo o presidente do Contran e diretor do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), Alberto Angerami, a prorrogação da data para a obrigatoriedade do extintor ABC teve como objetivo dar prazo para reuniões com setores envolvidos no assunto de forma a basear a resolução. “Tivemos encontros com representantes dos fabricantes de extintores, corpo de bombeiros e da indústria automobilística, que resultaram na decisão de tornar opcional o uso do extintor”, afirmou Angerami, em nota. O equipamento continuará obrigatório para veículos usados no transporte de passageiros, caminhões, caminhão-trator, micro-ônibus, ônibus e de transporte de produtos inflamáveis.


Uso sem treinamento é arriscado

O Denatran alegou ainda que, nos Estados Unidos e na maioria das nações europeias, as autoridades consideram que a falta de treinamento dos motoristas para o manuseio do extintor gera mais risco à pessoa do que o próprio incêndio. “Além disso, nos 'test crash' (teste de impacto de carros) realizados na Europa e acompanhados por técnicos do Denatran, ficou comprovado que tanto o extintor como o seu suporte provocam fraturas nos passageiros e condutores”, afirmou, em nota, o presidente do órgão, Alberto Angerami.

No Rio, alguns motoristas dizem que vão continuar a usar. Alertado pelo DIA quando parava para trocar o equipamento em loja no Centro, o engenheiro Paulo César Delia, de 52 anos, não concordou com a medida. “Vim aqui comprar outro porque o meu está vencido, mas, mesmo não sendo mais obrigatório, não vou deixar de usar.”


Você pode gostar