Rio - Em 1992, o jurista Hélio Bicudo alertou pela primeira vez que certas práticas internas prejudicavam o PT. Dez anos depois, viu Lula, com quem militou na fundação do partido, chegar à Presidência. O afastamento se deu após o mensalão, quando decidiu cerrar os punhos na oposição. Até que nesta semana ele protocolou o mais emblemático pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. A guinada, da organização da legenda ao antipetismo, foi criticada pelos antigos companheiros de Bicudo no Rio de Janeiro, que defendem uma “reinvenção” urgente do partido.
Em Brasília, na última quinta-feira, a filha de Hélio, Maria Lúcia Bicudo, protocolou nova versão do pedido de impeachment feito pelo pai. O texto foi endossado por Miguel Reale Junior, ministro da Justiça no governo Fernando Henrique Cardoso. O ex-petista virou alvo nas redes sociais, onde chegou a ser lembrado o fato de que o jurista tem 93 anos, para desqualificar sua posição. Mais ponderados, fundadores do PT do Rio ouvidos pelo DIA discordaram dos métodos de Bicudo.
Nos anos 1980, Jurema Batista auxiliou a construção do PT no Andaraí. Ex-vereadora e ex-deputada estadual, a petista afirmou que Bicudo está jogando sua trajetória fora e que, juntos, eles lutaram pela “volta do irmão do Henfil”, afirmou em referência à música-hino da resistência à ditadura militar. “Eu sou da luta. Ele tem uma história, mas suas ações mostram que ele está furando a democracia”, lamentou. Ela lembra que Hélio participou de reuniões no começo da década de 80, na “criação de uma agenda de políticas que começou a ser realizada pelo governo Lula”. “Quem fez coisas erradas pelo partido vai pagar por toda essa visibilidade negativa. Mas eles não vão conseguir provar ilícitos da presidenta Dilma”, opinou Jurema.
Ex-petista como Hélio Bicudo, Vladimir Palmeira crê que não restou nada do PT na década de 80. Ele não defendeu o impeachment de Dilma, e sim sua renúncia, e saiu a favor de Bicudo. “É um direito dele protocolar o pedido.Problema dele. Agora eu, particularmente, sou a favor que ela renuncie. Conheci Bicudo na Câmara dos Deputados, essa atitude não surpreende em nada. O PT era o novo: ficou velho”, resumiu o ex-líder estudantil.
Vice-prefeito do Rio e fundador do PT na Zona Oeste, Adilson Pires lamentou a postura do jurista, definido como alguém de história política “bonita que está tendo um final triste”. “Tive muita relação com Hélio quando ele foi vice-prefeito de São Paulo, na década de 90, e eu era vereador. Ele está se associando a uma corrente de pessoas que conta com defensores da ditadura militar e ultraconservadores. Pedir impeachment é golpe”, resumiu.