Por felipe.martins

Rio - Durante a maior parte de sua atuação na política, Eduardo Cunha agiu nos bastidores. Começou como tesoureiro da campanha de Fernando Collor, no Rio de Janeiro, presidiu a antiga empresa de telefonia do governo fluminense e dirigiu a extinta companhia de habitação do estado, entre outras atribuições. Em quase todos estes postos, foi acusado de irregularidades. Nada que chamasse tanta atenção, já que atuava no segundo escalão. Em determinado momento, não se sabe exatamente qual, Cunha resolveu ser o protagonista. Elegeu-se deputado pela primeira vez em 2001 e na atual legislatura, como presidente da Câmara, atingiu o ápice. Curiosamente, esse pode ter sido um erro estratégico fatal.

Nunca houve na Casa presidente que tivesse demonstrado tanto poder. Favorecido pela fraqueza do governo Dilma Rousseff, Cunha se esbaldou nos últimos meses. Mesmo sendo de um partido da base aliada, o PMDB, ele criou as maiores dores de cabeça para o Planalto, votou contra os interesses de Dilma e elaborou a tal pauta-bomba, que ainda hoje não foi desmontada. Nessa estratégia de acuar o governo, foi chamado de “chantagista” por alguns de seus pares. Por fim, ganhou um ministério para um aliado seu, o da Ciência e Tecnologia. Apesar disso, as ameaças continuam.

Nunca houve na Casa presidente que tivesse demonstrado tanto poderMarcelo Camargo / ABR

O apetite de Cunha mostrou-se imenso. Justamente aí pode estar seu calcanhar de Aquiles. Ao se revelar incontrolável, o deputado perdeu o apoio de setores importantes que estariam ao seu lado contra a presidenta. Desde que foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República por envolvimento no esquema de desvios da Petrobras, investigado na Operação Lava Jato, ele conseguiu apoio na Câmara para aprovar projetos que, se sancionados, causariam uma sangria de gastos da União. E grande prejuízo à população e aos empresários. Plantou um pé de inimigos.

A megalomania fez com que o deputado deixasse a condição de atirador e se transformasse em alvo. O tiro mais certeiro foi a resposta das autoridades suíças à PGR, informando que Cunha e seus familiares têm depositados naquele país US$ 5 milhões não declarados ao Leão. Já se falou em destituição da presidência da Câmara, cassação de mandato e outras punições. Para alguns, esse é o xeque-mate para ele. Não se sabe se é para tanto, mas de uma coisa não há dúvida: nestes últimos dias, o presidente da Câmara deve estar sentindo muita falta dos tempos em que se movia nas sombras.

POR TRÁS DA TRIBUNA

A comemoração do aniversário do deputado Eduardo Cunha, no último dia 29, em um restaurante no Lago Sul, em Brasília, teve a presença de vários deputados. Em dado momento, estavam reunidos em uma das mesas os peemedebistas Manoel Junior, Marcelo Castro, Celso Pansera e José Priante. Um dos visitantes brincou : “Quem estiver sentado aí já é ministro.” Como se viu, o palpiteiro acertou apenas 50%. Manoel Junior e José Priante ficaram de fora.

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