Por bferreira
Brasília - A prisão do líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral (PT-MS), e do banqueiro André Esteves tem lances dignos de serem estrelados por integrantes da máfia italiana. Peça-chave na prisão do petista e do banqueiro, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró foi obrigado a trocar a cadeia de um presídio na Região Metropolitana de Curitiba por uma cela especial na Superintendência da Polícia Federal do Paraná. E mais: um dos envolvidos, o advogado Edson Ribeiro, que defendia Cerveró, está foragido, nos Estados Unidos, e desde à noite de anteontem é caçado em alerta máximo pela Interpol.
Mesmo preso, Delcídio do Amaral continuará a receber o salário de R$ 33,4 mil pelos próximos quatro mesesAgência Brasil

Preso na manhã de quarta-feira, Delcídio depôs no final da tarde de ontem por mais de quatro horas. À PF, ele confirmou que a voz era sua nas gravações apreendidas pela Operação Lava Jato, em que apresenta um plano de fuga para Nestor Cerveró. Mas, segundo os advogados do senador, ele alegou inocência e negou que tenha oferecido mesada de R$ 50 mil mensais para que Cerveró evitasse fazer acordo de delação premiada.

Ainda na noite de anteontem, o ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, autorizou a inclusão do nome do advogado Edson Ribeiro na difusão vermelha da Interpol. Ribeiro chegou a ser localizado nos Estados Unidos anteontem, mas não foi detido porque era esperada a decisão do Supremo sobre a inclusão do nome na lista da Interpol.

Mas ontem, Zavascki negou um pedido apresentado pela defesa do banqueiro André Esteves para revogar sua prisão temporária. Dono do banco de investimento BTG Pactual, André também foi preso por supostamente tentar atrapalhar as investigações Lava Jato. O ministro autorizou a transferência dele da Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro para o presídio Ary Franco. Como está em prisão temporária, André Esteves deve ficar encarcerado até o próximo domingo, quando termina o prazo de cinco dias para esse tipo de detenção.
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MORDOMIA
Mesmo preso, Delcídio continuará a receber o salário de R$ 33,4 mil, no mínimo, pelos próximos quatro meses. Ele foi colocado ontem em licença especial, sem prazo definido.
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Segundo o regimento interno do Senado, a licença especial é prevista quando um senador é privado de sua liberdade em virtude de processo criminal em curso. Neste caso, não há prazo para o fim da licença e, por isso, Delcídio pode continuar no cargo mesmo estando preso.
‘Coisa de imbecil’ e ‘Que idiota!’, desabafou Lula em reunião da CUT
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Durante almoço na sede da Central Única dos Trabalhadores (CUT), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou de “coisa de imbecil” o comportamento do líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral (PT-MS), preso anteontem no âmbito da Lava Jato sob acusação de tentar atrapalhar as investigações.
Em conversas com sindicalistas, Lula demonstrou perplexidade: “Que loucura! Que idiota”, repetiu. As informações são do jornal ‘Folha de S. Paulo’.
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Também presente ao almoço, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, afirmou que há diferença entre o ex-tesoureiro do partido João Vaccari Neto, também preso na Lava Jato, e o senador Delcídio. “Existe uma diferença clara entre atividade partidária e não partidária”, disse Falcão, ao justificar a solidariedade do partido ao ex-tesoureiro.
Após a prisão de Delcídio, o presidente do PT emitiu nota para dizer que o partido “não se julga obrigado a qualquer gesto de solidariedade” a ele.Segundo Falcão, que se diz “perplexo” com os fatos que levaram o Supremo Tribunal Federal a ordenar a prisão do senador, as tratativas atribuídas a Delcídio “não têm qualquer relação com sua atividade partidária, seja como parlamentar ou como simples filiado”.
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Delator do PMDB protegeu empresário ligado a Serra
Na conversa gravada que derrubou o líder do PT no Senado, Delcídio do Amaral (MS), ele diz que o lobista do PMDB Fernando Soares, o Fernando Baiano, protegeu na sua delação premiada o empresário Gregório Marin Preciado. Foi Gregório, segundo Delcídio, quem o apresentou a Baiano. O empresário é casado com uma prima do senador José Serra (PSDB-SP). O próprio Serra, segundo Delcício, o procurou e ficou “rondando” o assunto.
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“Você vê como ele (Fernando Baiano) é matreiro. Na delação, ele conta como me conheceu, que eu era diretor e o Nestor era gerente. Que ele foi apresentado a mim por um amigo. Ele poupou. Era o Gregório Marin Preciado”, disse Delcídio.
O senador petista, que deixou o PSDB para entrar no PT em 2001, afirmou que Gregório teria participado de uma reunião na Espanha para tratar de um projeto da Petrobras no qual houve propina. Delcídio afirma que os investigadores já teriam conhecimento da reunião, mas não sabiam ainda quem era o espanhol que participou. De acordo com o petista, o espanhol é Gregório. Delcídio contou ter sido procurado dias antes por Serra para almoçar. E afirmou que o tucano o “rondou” sobre o assunto.
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A assessoria do senador José Serra negou a acusação e disse que ele jamais tratou das questões de Gregório com Delcídio do Amaral.
Paes: ‘papo de boquirroto’
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O prefeito Eduardo Paes tachou como “típico papo de boquirroto” as declarações do advogado Edson Ribeiro sobre um suposto acordo firmado com o senador Romário (PSB-RJ) em torno da pré- candidatura do secretário de Governo, Pedro Paulo Teixeira, à prefeitura do Rio em 2016. Ribeiro insinuou que Romário teria feito um acordo com Paes para se livrar de acusações sobre uma conta que manteria na Suíça. “O que eu ouvi ali foi um advogado boquirroto numa reunião pré-crime fazendo ilações sobre o senador Romário. O senador Romário é um homem sério, que teve uma acusação contra ele há alguns meses e o próprio órgão de imprensa que o acusou voltou atrás. Então, é o típico papo de boquirroto”, afirmou Paes.