Por bferreira

Rio - De cabo eleitoral de Aécio Neves a um dos principais líderes no PMDB contra o impeachment de Dilma Rousseff. É embalado neste novo papel que o presidente da Alerj, Jorge Picciani, entra em guerra contra o vice Michel Temer, a quem acusa de “tramar um golpe” contra a presidente. Na primeira batalha, ele saiu derrotado com a destituição do filho Leonardo da liderança do PMDB na Câmara. Mas nada parece abalar o patriarca. Aos 60, casado com Hortência, de 27 anos, e pai de Artur, 4, o patriarca defende a candidatura do deputado Pedro Paulo à sucessão de Eduardo Paes e bate duro no secretário estadual de Transportes, Carlos Osório, nome alternativo do PMDB, por não ter “qualificação” ou “conteúdo”. Mas a presidente Dilma ele hoje elogia: “Querem cassar a mulher pelas virtudes.”

Jorge Picciani%2C deputado estadualBruno de Lima / Agência O Dia

O DIA: O senhor ficou surpreso com a carta do Temer para a Dilma?

PICCIANI: O que me surpreende na carta é ver um vice tramando contra a presidente da República. O fato novo é que o vice escreve uma carta, que se resume ao primeiro parágrafo, quando ele diz que é um vice decorativo, sem nenhum prestígio. Querer dizer que ficou magoado porque ficou quatro anos como decorativo; então tivesse saído. Não tivesse voltado como voltou para continuar como vice decorativo. Ele levou cinco anos para fazer esse desabafo. É surpreendente! Acredito que é muito mais a ambição de ser presidente por três anos. O que é legítimo também. Agora, tem que falar a verdade. Tem que fazer as coisas de frente.

Há base para o pedido de impeachment da presidente?
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Até agora não enxergo nenhum fato que possa ser colocado como crime de responsabilidade. Esse pedido de impeachment se baseia no parecer do Tribunal de Contas, que ainda precisa ser examinado pela comissão permanente de Orçamento do Congresso Nacional, onde se estabelecerá o contraditório e a ampla defesa da presidente. Outro argumento que já foi usado pelo vice é que ninguém se sustenta com 10% de popularidade. Isso é frágil. Isso levaria hoje a tirar praticamente todos os governadores e mais 4,5 mil prefeitos. A eleição tem data certa. Prefiro ficar com o regime democrático: depois que o povo se pronuncia, a gente respeita o resultado.
Não é previsível o Temer ser picado pela mosca azul diante da perspectiva de três anos no poder?
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É natural. Não faço juízo de valor da decisão dele. Faço juízo de valor da nossa posição. Nós estamos muito à vontade, com a legitimidade de quem não era ardoroso defensor da aliança com o PT. Ele (Temer) quis ser vice da Dilma. Nossa posição era contrária. Compreendemos a alma humana. Mas esse pedido de impeachment é uma coisa que consideramos sem nenhuma base política, se assemelhando a um golpe. Nós estamos fora disso. Não contarão conosco.
Na carta, o Temer se queixa especificamente de seu filho Leonardo Picciani por ter indicado dois novos ministros na reforma ministerial.
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Isso é uma tolice tão grande que não merece resposta. O Temer está tramando o golpe não é de hoje. Não vejo envolvimento pessoal da presidente em ato de desonestidade. Verifico que a presidente não interfere nas investigações. Ela permite que flua normalmente as ações. É disso que têm reclamado os adversários dela, sobretudo o presidente da Câmara. A presidente tem colocado a Polícia Federal investigando. O Lula reclama, o outro reclama, mas é política de estado, política de governo. Querem cassar a mulher pelas virtudes.
O seu filho perdeu a liderança da bancada do PMDB na Câmara.
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O vice-presidente diz que não vai se meter no impeachment e se mete, coordenando isso do Palácio do Jaburu. Ele diz que não se mete na bancada, mas comandou diretamente, junto com Eduardo Cunha, a maioria pró-Leonardo Quintão. É legítimo. Tanto é que o Leonardo respeitou a livre expressão da maioria. A quem ganhou, cabe liderar. Não há choradeira da nossa parte. Mas não vamos participar do golpe. Nós perdemos a liderança por sermos contra o impeachment. Portanto, seguiremos na condução contra o impeachment.
Mas o senhor está tentando reverter esse quadro, com a filiação de deputados ao PMDB contrários ao impeachment da Dilma e, consequentemente, favoráveis à recondução de seu filho na liderança do partido.

A verdade é a seguinte: a guerra é contra a gente porque a gente não entrou no jogo do impeachment. Eles resgataram dentro do PMDB um processo que já não existia, que é a assinatura por lista. Então, se amanhã ou depois outro candidato tiver uma lista com o maior número, retoma a liderança.

Seu filho vai conseguir retomar a liderança antes do recesso, previsto para começar no dia 22 de dezembro?

É muito melhor deixar o Leonardo Quintão como líder. É preciso que se conheça um pouco melhor o Leonardo Quintão, que é o candidato do Temer e do Eduardo Cunha. Já viu alguém que tem R$ 2,6 milhões em dinheiro, em casa? Pois ele tem e está na declaração de bens do TSE. Me diz com quem andas, que eu te direi quem és. É só ver o líder que eles foram buscar.

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O presidente do Senado, Renan Calheiros, alertou que Eduardo Cunha poderá acabar preso, caso continue a fazer manobras para impedir a votação de seu processo de cassação. O senhor concorda com o Renan?
Não quero falar dessa questão do Eduardo Cunha. Vamos aguardar. Ele veio para o PMDB com o Garotinho. Nós o recepcionamos. A ascensão dele no PMDB se deu pela capacidade de trabalho e pela proximidade com o Henrique Eduardo Alves. Ele nunca teve aqui o apoio do Cabral (ex-governador Sérgio Cabral), meu, apesar de eu me dar bem com ele.
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Nessa briga, pode acabar sobrando para o senhor. O senhor não teme que voltem a fazer acusações, como a de que o senhor é um homem rico?
Não tenho nenhuma dificuldade nisso. Minha empresa tem 31 anos. Ao longo desses últimos 15 anos, o Brasil teve crescimento. É fácil fazer denúncia contra mim porque eu não tenho bens ocultos. O que eu tenho é público. Se eu tivesse medo, eu não tomava as posições que eu tomo. Apreendi com o Brizola o seguinte: tem uma porção de gente que diz que não pode ter rabo preso. Eu apreendi com o Brizola que não pode ter rabo. Eu não tenho rabo. Por isso, tomo as posições que tomo.
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O PMDB vai manter a candidatura à prefeitura do secretário Pedro Paulo, mesmo depois dele ser acusado de violência doméstica?
Vai. É melhor o julgamento popular. Ele tem muitas qualidades; é muito preparado. Essa questão cabe a ele responder. Ele que conhece as circunstâncias. Estamos habituados a enfrentar adversidades. Não vão nos dar moleza. Era muito mais difícil para nós vencer as eleições com o Pezão, que era desconhecido e depois do desgaste público sofrido pelo Cabral, do que agora com a avaliação e a capacidade que o governo do município tem de mostrar as coisas que fez. O Pedro Paulo tem qualificação, vamos trabalhar para tentar viabilizá-lo.
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O secretário de Transporte, Carlos Osório, é um bom nome para substituir Pedro Paulo?
Eu não acho. Não vejo qualificação para ele ser o candidato. Ele tem pouco conteúdo. Acho que sustenta uma conversa de três minutos em entrevista, mas não sustenta … Já observou o Osório? A situação brasileira é muito grave, o Estado do Rio de Janeiro vive uma situação delicada, de extrema penúria. A situação se agrava a cada dia. E o Osório diz: estou fazendo o metrô, vou reformar o BRT. Não tem uma prata, não tem uma fonte de recursos. O estado não está pagando as contas, não tem recurso. Como você vai sair prometendo, fazendo promessas, gerando uma expectativa? Fica parecendo uma falsidade do governador dizer que não tem dinheiro para aumentar o funcionalismo, que tem que atrasar o salário. Então, vê que não é sério lidar com gente assim.
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