Por felipe.martins, felipe.martins
Rio - É dinheiro que não acaba mais. A Operação Lava Jato, considerada pela Polícia Federal a maior investigação de corrupção da história do país, que apura desde março de 2014 um esquema de lavagem de dinheiro suspeito de movimentar mais de R$ 10 bilhões, ontem cumpriu outros 53 mandados de busca e apreensão em sete estados.

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O valor é 20 vezes maior, por exemplo, do que o necessário para o governo do Rio finalizar as obras da Linha 4 do metrô, ligando a Zona Sul à Barra da Tijuca. Na manhã de ontem, o governador Luiz Fernando Pezão informou que ainda faltam R$500 milhões do governo federal para concluir a obra.

Clique sobre a imagem para a completa visualizaçãoArte O Dia

Os R$ 10 bilhões da Lava Jato serviriam, também, para concluir a meta estabelecida pelo próprio governo de colocar em funcionamento, até o ano passado, 6 mil creches em todo o país. Até o momento, apenas 2.940 saíram do papel, segundo reportagem publicada ontem no ‘Estado de S. Paulo’.

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O montante também daria para pagar o Bolsa Família, carro-chefe do governo federal, a cerca de 130 milhões de pessoas, mais do que toda a população das regiões Norte, Nordeste, Sul e Centro-Oeste, que juntas têm aproximadamente 117 milhões de brasileiros.
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Entre os suspeitos da operação realizada ontem pela Polícia Federal, num total de 17 pessoas, estão parlamentares, dois ministros, dois ex-ministros e um prefeito. Em relação a 12 deles, ainda não foi divulgada a ligação com a Lava Jato. Os outros cinco, no entanto, estão sob suspeita de movimentar nada menos que R$66 milhões.
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No topo da pirâmide vem o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Denunciado pela Procuradoria-Geral da República por corrupção e lavagem de dinheiro, Cunha é suspeito de ter recebido pelo menos US$ 5 milhões (cerca de R$ 20 milhões) por contratos com a Petrobras.
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O presidente da Câmara também é suspeito de possuir cerca de R$ 23 milhões não declarados em pelo menos quatro contas na Suíça, das quais ele afirma ser apenas um usufrutuário.
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Além de Cunha, estão sendo investigados o senador Edison Lobão (PMDB-MA), que é acusado de ter recebido propina de R$ 1 milhão por obras na usina nuclear Angra 3, e o senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), que teria pedido R$ 20 milhões para a campanha de Eduardo Campos ao governo de Pernambuco, em 2010.
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O empresário Altair Alves dos Santos é acusado de receber R$ 1,5 milhão para repassar a Eduardo Cunha. E Sergio Machado, ex-presidente da Transpetro, é acusado de pagar propina no valor de R$ 500 mil.

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Para presidente da Câmara, governo fez ‘revanchismo’

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Um dos principais alvos ontem da Operação Lava Jato, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou que não há hipótese de renunciar, acusou o governo de promover a ação por “revanchismo” e de tentar jogar nas costas do PMDB a “roubalheira do PT”. Ele considerou considerou “muito estranho” que a operação tenha ocorrido no dia da sessão do Conselho de Ética e às vésperas de o Supremo Tribunal Federal (STF) se pronunciar sobre o rito do impeachment.

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Em entrevista na Câmara, logo após almoço com líderes aliados em sua residência oficial, Cunha disse ainda que se considera “absolutamente inocente”. E aproveitou para cobrar uma decisão imediata do PMDB no sentido de romper com o Palácio do Planalto.

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Segundo Cunha, o governo age contra ele como vingança por ele ter aceito o pedido de impeachment. "Sou desafeto do governo, todo mundo sabe disso, e me tornei mais desafeto ainda depois que dei curso ao pedido de impeachment. Nada mais natural que eles busquem seu revanchismo”, afirmou o presidente da Câmara.

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Operação atinge em cheio o PMDB

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A operação realizada  pela Polícia Federal atingiu em cheio o PMDB, partido cuja base está rachada. Parte da sigla é favorável ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, caso de Eduardo Cunha, e a outra parte favorável à permanência de Dilma, caso do presidente do Senado, Renan Calheiros. O ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, no entanto, negou solicitação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para entrar na casa do presidente do Senado. 

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A Polícia Federal, no entanto, também cumpriu mandado na sede do diretório estadual do PMDB em Alagoas, reduto eleitoral de Renan Calheiros. O deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE) e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, também são ligados a Renan Calheiros.


Já os ministros Celso Pansera (PMDB-RJ), da Ciência e Tecnologia, e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) são próximos de Eduardo Cunha. O prefeito de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, Nelson Bornier, também aliado de Cunha, teve a casa, na Barra da Tijuca, vasculhada pela PF, assim como chefe de gabinete de Presidente da Câmara, Denise Santos, e o ex-vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias da Caixa, Fábio Ferreira Cleto, indicado por Cunha para o cargo.


Aliado de Cunha, Nelson Bornier teve a casa vasculhada ontem pela PF André Mourão / Agência O Dia

O deputado Alexandre Santos, do PMDB fluminense, é outro investigado pela operação deflagrada nesta terça-feira. O lobista Fernando Baiano, delator da Lava Jato, disse ter sido apresentado a Eduardo Cunha justamente por Alexandre Santos.


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Operação remete à Roma Antiga
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Catilinárias. Este foi o nome dado pela Polícia Federal à operação que teve como ponto alto as buscas e apreensões na casa do Presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
Os policiais se inspiraram nos célebres discursos da Roma Antiga, onde o cônsul Marco Túlio Cícero acusava o senador Lúcio Sérgio Catilina de planejar um golpe para derrubar a República e tomar o poder com seus comparsas.
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“Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda há-de zombar de nós essa tua loucura? A que extremos se há-de precipitar a tua audácia sem freio?”, disse Marco Túlio.
Noutro trecho do discurso, que ficou conhecido como Catilinárias, Marco Túlio disparou: “Não te dás conta que os teus planos foram descobertos?”. Qualquer semelhança não é mera coincidência.
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