Cunha foi um dos principais alvos desta etapa da Lava Jato. Sua a residência oficial em Brasília, seu escritório no Centro do Rio e sua casa na Barra foram revirados pelos agentes da Polícia Federal, que levaram computadores, celulares e documentos.
Um carro de luxo com documentação vencida e emplacado como táxi em Nilópolis reforçou o elo entre Cunha e o comerciante Altair Alves Pinto. Em depoimento à Justiça, o lobista e delator Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, afirmou que entregara a Alves Pinto dinheiro destinado a Cunha: propina relacionada a contratos da Petrobras. Segundo Baiano, o valor de uma das entregas variou entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão.
Nesta terça, como o ‘Informe do DIA’ revelou com exclusividade pela manhã, no DIA Online, o automóvel, um Touareg placa LSM 1530, estava estacionado no jardim da casa de Cunha, no Condomínio Park Palace, na Barra. A Polícia Federal afirmou que soube que o carro era de Alves Pinto ao ler a reportagem publicada no site do DIA.
À tarde, a assessoria do deputado disse que ele “eventualmente aluga o veículo para prestar serviços gerais”. Não explicou, porém, a coincidência entre o milhar da placa — 1530 — com o número que Cunha utiliza desde 2006 em suas campanhas eleitorais. Dois carros do deputado declarados à Justiça Eleitoral em 2010, um Mitsubishi e um Corolla, também exibiam nas placas o número 1530. O site do Detran informa que o último licenciamento do carro foi feito em 2014: táxis, mesmo novos, são obrigados a fazer vistorias anuais.
Alves Pinto foi assistente de Cunha quando o hoje deputado ocupava a presidência da Companhia Estadual de Habitação, em 2000. Empresa de sua família que explora pedras ornamentais forneceu material para a reforma do Maracanã. Danielle Porcari Alves, filha do amigo de Cunha, teve cargo de confiança na Prefeitura do Rio entre 2014 e este ano. Altair é lotado no gabinete do deputado estadual Fábio Silva (PMDB), ligado ao presidente da Câmara. O salário dele na Alerj é de R$ 9.835.
No Rio, os agentes da PF chegaram à casa de Cunha às 6h. Às 7h30, uma médica foi autorizada a entrar. Enquanto os policiais faziam busca na casa, empregados saíram para comprar alimentos numa padaria. Os sete policiais federais, que carregavam um malote com material recolhido na busca, e os dois procuradores do MP deixaram o condomínio às 9h45.
Para presidente da Câmara, governo fez ‘revanchismo’
Um dos principais alvos ontem da Operação Lava Jato, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou que não há hipótese de renunciar, acusou o governo de promover a ação por “revanchismo” e de tentar jogar nas costas do PMDB a “roubalheira do PT”. Ele considerou considerou “muito estranho” que a operação tenha ocorrido no dia da sessão do Conselho de Ética e às vésperas de o Supremo Tribunal Federal (STF) se pronunciar sobre o rito do impeachment.
Em entrevista na Câmara, logo após almoço com líderes aliados em sua residência oficial, Cunha disse ainda que se considera “absolutamente inocente”. E aproveitou para cobrar uma decisão imediata do PMDB no sentido de romper com o Palácio do Planalto.
Aberto processo contra Cunha
Esse recurso será enviado à Comissão de Constituição e Justiça, presidida pelo deputado Arthur Lira (PP-AL), um dos principais aliados de Cunha. Na semana passada, o presidente da Câmara patrocinou a destituição do relator do seu caso, Fausto Pinato (PRB-SP). O novo relator, Marcos Rogério (PDT-RO), seguiu Pinato e apresentou parecer pela continuidade do processo.