São Paulo - Juliana Reis tem 25 anos e um filho de menos de dois meses, Vicente, nascido no começo de 2016. A jovem virou notícia após se indignar com o "desafio da maternidade", na qual pessoas compartilham fotos alegres com os filhos nas redes sociais.
Juliana decidiu publicar um desabafo contando todas as dificuldades que enfrenta e chamou de "maternidade real". Ela ainda afirmou que ama o filho, mas detesta ser mãe, o que gerou polêmica. O assunto rendeu críticas e declarações de apoio, mas a página de Juliana foi denunciada e até excluída pelo Facebook na quarta-feira, como adiantou o Delas.
Desafio da maternidade
Em entrevista ao Delas, Juliana explicou o que a motivou a publicar o texto controverso: "Eu via as postagens de 'desafio de maternidade', as mães postando fotos felizes e pensei: 'Isso não é desafio, isso é moleza, parar meia hora para sorrir para foto'. Quis retratar que não é assim comigo".
A gravidez de Juliana não foi planejada: "Muito pelo contrário, não estava nem em um relacionamento estável com o pai do meu filho". Os dois não se protegeram, mas ela diz ter utilizado a pílula do dia seguinte, que não fez efeito.
Resultado positivo
A jovem recebeu o resultado positivo do teste no Dia das Mães de 2015: "Olha que ironia!", brinca. "Aquela Juliana morreu quando recebeu o teste positivo. Morri naquele dia. Não sou mais eu, olho para o espelho e vejo outra pessoa".
Até descobrir a gravidez, Juliana vivia uma vida inconsequente e sem responsabilidades, segundo ela: "Comecei a ter uma urgência em relação à vida, comecei a ter arrependimentos e medo".
As dores da maternidade
Para ela, as dificuldades de ser mãe já começaram na gestação. A maioria envolvia terceiros interferindo na vida dela - o que a irrita até hoje. Desde o tamanho da barriga, o que ela deveria comer e até a escolha do nome do filho eram questionados.
Na hora do parto, outro desafio: o parto normal, que tanto defendia, não pode ser realizado. "Tudo o que eu precisava para me sentir um lixo de mulher que não conseguiu fazer o tão raçudo parto normal", contou.
Hoje, Juliana mora com a sua mãe e o marido - pai da criança - e admite até reclamar de barriga cheia, por ter muita ajuda dentro de casa. Nos primeiros dias, como tinha acabado de passar por uma cesariana, ela diz ter servido apenas como fonte de alimento para o filho: "Ele vinha no meu colo para mamar, dormia, tiravam do meu colo e colocavam no berço".
Juliana conta que fez o desabafo pensando também nas outras mães que podem não ter tanto apoio quanto ela teve.
"Se ser mãe é isso, não gosto"
Além da intromissão de todos na vida dela e de seu bebê, ela sofreu muito com as dores da cesárea e com a falta de tempo. Apesar de conseguir amamentar "com um pouco menos de dor, isso não torna as coisas mais fáceis", ela explica, porque seu filho mama toda hora e, às vezes, por uma hora inteira. A aceitação se fragilizava ainda mais quando ela se via descabelada, sem escovar os dentes ou mesmo tomar banho.
"O Vicente não parava de chorar. Na hora que ele parava, eu pensava: 'Vou tomar banho, dormir ou comer?' Tem que ponderar o que é mais importante. São coisas como essas que me fazem não gostar. Então, se ser mãe é isso, não gosto."
"Não tive depressão"
Mesmo afirmando "detestar ser mãe", Juliana não acredita que sofre de depressão pós-parto: "Não tive depressão pós-parto porque já tinha lido que era normal se sentir mal, se sentir triste, e passa. Só não vai mudar que é doloroso (o choro de Vicente interrompe a entrevista). Aí, olha, ele chora e a gente não sabe por quê", contou a jovem.
Amor incondicional
"Amo meu filho e quero o melhor para ele. Então, é exatamente por me dedicar 100%, por querer o bem dele, que ele tenha estabilidade emocional e uma estrutura familiar boa que vou fazer tudo, mesmo que eu não goste, por ele".
Na quarta-feira à noite, a página de Juliana no Facebook voltou ao ar.
Reportagem: Fernanda Maranha