Por paulo.gomes
Há 10 anos o ambulante Claudio Mendes de Lima vende seus produtos numa esquina da Rua UruguaianaAlexandre Vieira / Agência O Dia

Rio - Antes do sol raiar, o autônomo Cláudio Mendes de Lima, 35 anos, já está de pé. Morador de Duque de Caxias, ele sai de casa às 6h, pega trem lotado, e às 10h pode ser encontrado vendendo doces industrializados em uma esquina da Rua Uruguaiana, no Centro do Rio. Isto há dez anos. Sua barraquinha de produtos contém mais de 300 itens que precisam ser repostos uma vez por dia.

Sobre a atividade que desenvolve, ele diz que “dá para ir levando”. O preço gira em torno de R$1 e a atividade dele segue apenas uma lógica: vender barato para ganhar na quantidade. “Se não for assim, o produto empaca”, diz.

Ação essencial

Saber fixar o preço de um produto ou serviço é uma das ações mais essenciais àqueles que querem empreender. Isto porque, colocar um valor acima ou abaixo do mercado pode minar o futuro negócio. Para agravar a situação, de cada 100 empresas abertas no Brasil, 48 encerram as atividades em três anos, segundo o Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE).

Dados do Sebrae-RJ informam que o preço de venda é o valor que também deverá cobrir o custo direto do produto ou serviço, as despesas variáveis, como impostos e comissões, e as despesas fixas proporcionais. E mais: 40% dos consumidores deixam de comprar devido a serviços ruins; 25%, porque não vêm diferencial na loja; 8,3%, porque os produtos não são encontrados ou não atendam as suas necessidades; e 8,3% não compram por causa do preço, acima ou abaixo.

Observar o concorrente faz parte das variáveis

Empresário e consultor do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-RJ), Luiz Felizardo Barroso afirma que para definir uma política de preços é preciso levar em consideração fatores como matéria prima, mão de obra, empréstimos e a própria concorrência. “Conhecer o desejo dos clientes e as tendências de mercado também contam”, afirma.

Ele ressalta que na maioria dos segmentos, o empreendedor não pode querer obter 100% de lucro. Principalmente porque o mercado oscila, em função de influências externas e da própria conjuntura nacional. “O empresário contemporâneo deve apresentar maior competência e sofisticação em seus serviços”, acrescenta.

Segundo Barroso, tão importante quanto o aspecto financeiro, a definição do preço deve considerar também o aspecto mercadológico. “O preço deve estar próximo do praticado pelos concorrentes diretos, em vista de produto e qualidade. Marca, tempo de mercado, volume de vendas já conquistado e a agressividade da concorrência precisam constar no projeto”, diz.

Para o consultor, se o valor praticado pelos concorrentes for menor que o encontrado a partir dos custos internos da empresa, o empresário deverá recalcular a viabilidade do negócio.

Barroso observa que o preço não é a principal motivação dos consumidores na hora de decidir pela compra. Em razão disso, ele complementa que recorrer a um planejamento financeiro é mais que uma opção. “É a maneira mais segura para idealizar um empreendimento e torná-lo concreto”, destaca.

Depois de ter a empresa ativa, o especialista sugere algumas ações para que ela se mantenha aberta, como metas claras de lucratividade, dimensionamento de capacidade de vendas, não entrar no jogo predatório dos concorrentes, investir em diferenciais, minimizar estoques para aumentar a linha de produtos, maximizar o giro, manter a linha de produto e investir em comunicação. “São ações necessárias”, frisa.

Vendedores autônomos se misturam às lojas e centros comerciais%2C competindo pela atenção da clientelaAlexandre Vieira / Agência O Dia

Empresário explica como fixa preço e lida com os períodos de retração

· Diretor comercial da Arrive Fashion, Jorge Pinto ressalta que pesquisa de mercado é uma das primeiras ações para a formação de preço dos calçados que vende. Com 15 anos de mercado e oito lojas entre a Capital do Rio e Baixada, a empresa também leva em consideração os valores praticados pela concorrência.

· Para acompanhar as novidades do segmento, o diretor participa de feiras, lê revistas especializadas e monitora sites do exterior.

· Com relação ao lucro, ele afirma que a margem varia de acordo com o tipo de produto. Sandálias rasteiras, por exemplo, têm preço em torno de R$ 30, enquanto sandálias de festa, mais elaboradas e, portanto, mais caras, podem custar cerca de R$ 240.

· Como o mercado interno tem sido de retração no segmento, os diretores optaram por reduzir a margem de lucro para não entrar no vermelho. “Em função da queda nas vendas, acentuada de novembro a abril, fizemos promoções, comercializando nossos produtos a preço de custo e mais 30%”, explica.

Micro e pequenas empresas lideraram falência em agosto

Mais de 53% dos pedidos de falência durante o mês de agosto em todo país foram feitos por micro e pequenas empresas (MPEs). Em seguida, aparecem as médias e as grandes firmas, respectivamente.

Presidente do Sindicato das Empresas Contábeis do Estado do Rio de Janeiro, Lúcio Fernandes destaca que as MPEs geralmente não se preparam para entrar no mercado enquanto outras conseguem sobreviver porque pesquisaram sobre o negócio.

Além disso, os novos microempresários não contam com recursos para auxiliá-los na vida empresarial, como um profissional qualificado.

Os pedidos de falência efetuados em agosto, no entanto, foram menores em 22,4% se comparados a igual período de 2012. Para Fernandes, as mudanças nas regras de tributação diferenciadas para algumas espécies empresariais certamente contribuíram para a redução da mortalidade das empresas.

Você pode gostar