Por bferreira

Rio - O empresário Eike Batista começou a se desfazer do patrimônio para tentar acertar as dívidas. O ex-magnata vendeu ontem a MMX Mineração, e agora tem uma companhia a menos para se preocupar. A mineradora passou às mãos da chilena Inversiones Cooper Mining S.A. O negócio garante o pagamento em parcelas (R$ 1,80 em royalties por tonelada de minério de ferro seco vendido). Ao todo, será embolsado o valor máximo de R$ 89,848 milhões.

Reunião do conselho da OGX no Serrador contou com apenas 10 acionistasFernando Souza / Agência O Dia

O documento remetido à Correção de Valores Mobiliários (CVM) afirma que “a venda das operações no Chile está alinhada com a estratégia da companhia de simplificação da estrutura societária para maximizar a criação de valor para seus acionistas.”

Com relação à petroleira OGX, que entrou com pedido de recuperação judicial quarta-feira, uma assembleia de acionistas elegeu ontem três novos integrantes para o Conselho de Administração. Eike, que sequer compareceu, foi reconduzido à presidência do conselho da petroleira, frustrando os acionistas minoritários que participaram da reunião. A assembleia foi no Edifício Serrador, sede do grupo, no Centro, e contou com apenas dez participantes.

SE DESFEZ DAS AÇÕES

Em setembro deste ano, o conselho entrou com recurso contra seu controlador, Eike Batista, para fazê-lo injetar R$ 2,246 bilhões na empresa. Com os novos membros, a pressão sobre ele tende a aumentar.

Parte da intenção dos conselheiros em requerer que o empresário injete o montante está no fato dele ter vendido ações da companhia — a maior parte da carteira pessoal — semanas antes de o “barco ficar à deriva”. Foram repassados 5,50% de toda a petroleira. Segundo projeção da corretora Itaú BBA, à época, os papéis valiam cerca de US$ 30 bilhões por conta dos investimentos atrelados ao índice, naquele período. Com a venda, houve uma queda de 40% nas ações da companhia.

Além dos grandes investidores da OGX, a petroleira deixa um lastro de 52 mil acionistas minoritários que veem a cada dia seu dinheiro desaparecer. São pequenos, médios e grandes investidores pessoas físicas que apostaram no poder do Império X, cuja letra relacionada à multiplicação se transformou em símbolo de “fim do caminho”.

FILHO PENDUROU CONTA EM BOATE

Até serviço de copa Eike está devendo. A dívida do “cafezinho” da OGX atingiu R$10 mil. O pagamento diz respeito à prestação de serviço ao Grupo EBX. E-mail e telefones também foram cortados por falta de pagamento. Um dos filhos do empresário pendurou uma conta de R$ 17 mil em uma boate da Zona Sul do Rio.

O empresário, sempre presente nas mídias sociais dando dicas de investimentos, deixou ontem o Twitter, microblog onde postava seus feitos. Aos poucos, Eike se recolhe, buscando reorganizar a vida.

Semana turbulenta no Império X

A OGX Petróleo, do empresário Eike Batista, entrou com pedido de recuperaçao judicial na última quarta-feira. A medida foi tomada após ele não chegar a acordo com acionistas e credores referente a dívidas superiores a R$ 11 milhões, segundo o passivo consolidado constante no documento protocolado na 4ª Vara de Justiça do Rio.

A iniciativa visa evitar pedido de falência por parte de investidores que agora se organizam para requerer o pagamento dos bônus em processo. Segundo especialistas, a ação deve se arrastar por anos e pode alcançar os bens pessoais e principais ativos de Eike e de seus executivos. Eles entraram também com pedido de proteção de bens no mesmo fórum da capital.

'OGX terá morte em três atos’, diz presidente da UNAX

ENTREVISTA COM ADRIANO MEZZOMO, ADVOGADO DE ACIONISTAS MINORITÁRIOS

Os próximos acontecimentos envolvendo a OGX podem ser resumidos como morte em três atos. É o que diz o advogado da União dos Acionistas Minoritários do Grupo EBX , Adriano Mezzomo.

Como assim morte em três atos?
É como uma tragédia grega. O primeiro ato é a crise, que já se instalou, puxada pela OGX. O segundo é o de proposição, quando a companhia apresentará sua proposta de recuperação, que pode ser aceita ou não. Por fim, o terceiro ato: a liquidação dos bens e ativos de Eike e seus principais executivos.

Quanto tempo levará para que se resolva?
A pergunta é muito otimista. Processos desta magnitude levam décadas, a exemplo da Varig, onde sequer os empregados receberam até hoje.

Mas não se trata de um negócio de risco?
Sim, mas o investimento em um ativo se dá em função das informações divulgadas, sendo esta a matéria prima do mercado de capitais. Por isso, a pergunta que não quer calar é com relação à fragilidade regulatória. Ou seja, onde estavam os órgãos oficiais que não perceberam o excesso de divulgação, inclusive em fatos relevantes, que acabaram inflando o setor?

Mas não se trata de um negócio de risco?
O risco não é aleatório. Se você olhar no rol dos credores, não verá apenas acionistas, mas também empregados e fornecedores, como prestadores de serviço, os e-mails corporativos e telefones que foram cortados. O passivo consolidado informado é de R$ 11,2 milhões, mas na verdade o reflexo desse fracasso retumbante vai além, atingindo até mesmo a credibilidade do país no exterior.

Então, ao contrário do que o governo federal faz, apresentando o caso OGX como um “detalhe” no mercado de capitais, o efeito é muito mais devastador?
Sim, abriu precedente para uma crise de credibilidade e já se vê restrição de crédito no país e encarecimento no processo de tomada de recursos no exterior.

Mas o mercado de capitais é um negócio de risco?
Risco com base em informações. Somente para um poço foram emitidos mais de 50 fatos relevantes com expectativas infladas.

‘Erro foi não encontrar petróleo suficiente’

ENTREVISTA MAURO KAHN, FUNDADOR E PRESIDENTE DO CLUBE DO PETRÓLEO

Fundador do Clube do Petróleo, Mauro Kahn diz acreditar que a complexidade da cadeia produtiva contribuiu muito para o insucesso da OGX.

O que deu errado?
Investir em petróleo é jogar com a sorte. Você pode encontrar o óleo, ou não. Eike encontrou, mas não em volume suficiente para bem remunerar seus investidores. O mercado é cruel e não perdoa. Assim, iniciou a crise nas empresas X. Além disso, para suprir as demandas de toda a cadeia, ele foi abrindo empresas interdependentes. Em caso de erro, uma puxa a outra, a exemplo do que está acontecendo com a OSX. Para ilustrar, digo que os R$ 15 bilhões em bônus pagos pelas empresas que formaram um consórcio para explorar o pré-sal servem apenas como direito adquirido para que elas possam “tentar a sorte”.

Você está dizendo que Eike não foi o principal culpado?
Você quem diz. Eu digo que a cade</IP>ia do petróleo é complexa, demanda equipes profissionais altamente qualificadas, navios, sondas, plataformas. Quer dizer, o bloco por si só não adianta, você precisa ter o capital humano e tecnológico para se instalar, perfurar, encontrar, tirar e transportar. Há um ditado que diz que ninguém deve botar o chapéu onde o braço não alcança, ou seja, quem é do setor petroquímico compreende a possibilidade de perder dinheiro, porque errar nesta atividade dá muito prejuízo. O mercado é cruel e até potencializa a perda. O acionista quer o bônus dele e vai exigir resultado.

Se a história fosse outra?
Se bamburrasse (encontrasse em grande quantidade), a principal riqueza gerada seria o efeito renda. Comerciantes, garçons, lojistas, taxistas e outras pessoas que nada tem a ver com a cadeia se beneficiam e a economia cresce como um todo. Veja Macaé, uma cidade de pecuária, mas hoje com preço de Leblon.

Além de não ter encontrado óleo em volume suficiente para bem remunerar os acionistas, que outro fator pode ter contribuído para a derrocada?
Ter aberto demais o leque, perdido o foco. Muitas empresas para administrar, de segmentos variados, como hotel e festival. O segmento é, por si só, altamente desafiador, mas requer habilidade, e, necessita fazer bamburrar, senão a trajetória X voltará a a se repetir.

Você pode gostar