Por bferreira

Rio - Um anúncio publicado ontem nos principais jornais da cidade, sob o título ‘Presidente da CNC tenta dar um golpe contra o Senac RJ’ e assinado Orlando Diniz, que comanda a Federação de Comércio do Rio e o Conselho Regional do Senac RJ, expôs disputa, até então silenciosa. A queda de braço tem sido travada em tribunais de Justiça pelo comando das principais entidades do comércio no estado. De um lado, o próprio Diniz, e do outro, o líder da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Antônio Oliveira Santos.

Moradores do Andaraí%2C os aposentados do comércio Maria e José Severino frequentam o Sesc Tijuca há 10 anos%2C onde o casal pratica atividades esportivas e culturaisFernando Souza / Agência O Dia

No meio do tiroteio, milhares de funcionários e usuários dos serviços prestados tanto pelo Senac, quanto pelo Sesc, entre cursos de capacitação profissional, assistência médica e odontológica, e atividades de lazer e cultura. Mais ainda, o direito de gerir recursos do chamado ‘Sistema S’, que podem atingir cerca de R$ 5 bilhões anuais, dinheiro arrecadado de imposto sindical dos trabalhadores e da contribuição de empresas de comércio.

Para evitar que o novo round da disputa prejudicasse os empregados do Senac-RJ, diante da possibilidade de destituição da atual diretoria, o presidente da Fecomércio-RJ antecipou em um dia o pagamento dos salários dos colaboradores da entidade. O crédito ocorreu ontem.

A dita intervenção no Senac RJ, com os consequentes afastamentos de Diniz e do conselho regional, foi aprovada pelo Conselho Nacional do Senac/Sesc, presidido por Santos, em reunião extraordinária ocorrida em 13 de fevereiro.

Porta-voz da CNC, Dolimar Pimentel diz que a intervenção na Fecomércio foi aceita pela maioria dos conselheiros: 52 a favor, quatro contra e um em branco. Ele explica que a medida deve-se a uma auditoria promovida por fiscalização interna e técnicos do Tribunal de Contas da União (TCU), que detectaram irregularidades. Entre elas, aplicação indevida de recursos, desobediência à resolução que regula processos de licitação e negligência na fiscalização dos contratos de empresas que promoveram o Fashion Business.

Já Orlando Diniz, em nota, disse que a intervenção é arbitrária e descumpre uma liminar obtida em setembro do ano passado. Informou ainda que as irregularidades foram desmentidas pelo Ministério Público do Rio e pela Fundação Getulio Vargas.

Fecomércio chegou a chamar a polícia para impedir interventor da CNC

Até agora as escaramuças entre Antônio Oliveira Santos, presidente da Confederação Nacional do Comércio, entidade que congrega as federações de comércio regionais, e Orlando Diniz, comandante da Fecomércio RJ, eram travadas na esfera judicial já há alguns anos.

Um ou outro sempre recorre à Justiça pedindo a mesma ação: o afastamento do comando das entidades que dirigem, sempre com argumentos sobre má gestão dos recursos oriundos das contribuições sindicais dos trabalhadores e das empresas do setor.

No último round, houve até polícia no meio. Na semana passada, com a aprovação da intervenção, pelo Conselho Nacional do Senac, o então nomeado interventor, Bruno Breithaupt, tentou assumir suas funções na entidade regional. Contestando tal atitude, a presidência do Senac Rio convocou policiais civis para impedir a entrada do interventor na sede administrativa da entidade.

Conforme a nota assinada por Orlando Diniz, não havia ordem judicial para “manifesta prática de crime de estelionato”. O caso foi registrado na 9ª Delegacia de Polícia (Catete).

Ainda de acordo com o comunicado de Diniz, Oliveira Santos teria sido afastado dos cargos de presidente do Conselho Nacional do Sesc/Senac por uma sentença proferida pela 20ª Vara Cível do Rio de Janeiro, porque teve as contas rejeitas pelo TCU. O motivo seria superfaturamento na compra de equipamentos odontológicos.

Diniz está no comando desde 1998

Orlando Santos Diniz preside a Fecomércio-RJ, que inclui Sesc e Senac, desde 1998. No final do ano passado, ele chegou a ser afastado por um breve intervalo do comando Sesc Rio por decisão do Sesc nacional, mas retornou à presidência regional, graças a uma liminar obtida na Justiça.

Ainda este ano, haverá nova eleição para a federação regional, que reúne as principais entidades de comércio do Estado do Rio. Entre os possíveis candidatos de oposição está Aldo Gonçalves, presidente do principal sindicato do setor, o dos lojistas do Município do Rio, o Sindilojas.

À frente da CNC há exatos 33 anos

Antonio Oliveira Santos, 85 anos, está à frente da Confederação Nacional do Comércio (CNC) há 33 anos. Desde 1980, em todas as eleições para presidir a entidade, ele é reeleito em chapa única.

Segundo detratores, Santos comanda a entidade com mão de ferro e não aceita opositores. “Quando surge alguma voz contrária, ele promove intervenções nas entidades regionais”, diz um opositor.

Este ano, no mês de setembro, haverá nova eleição para presidir a CNC. As chapas ainda não foram lançadas. Mas para quem é do ramo, o nome de Santos é certo na disputa.

Moradores exaltam o Sesc Tijuca

Ainda pouco informados sobre o imbróglio jurídico em que se encontra a direção regional do Senac e do Sesc, os aposentados Maria de Fátima, 59 anos, e José Severino, 58, afirmam que frequentar as dependências do Sesc Tijuca é uma tradição na família. “Somos sócios há 10 anos e aproveitamos uma série de atividades. Nossos dois filhos também já fizeram natação, musculação, vão ao teatro”, contou Maria.

Ao tomar ciência dos bastidores do que ocorre entre os gestores da entidade, o casal que mora no Andaraí lamentou, já que são poucas as opções de lazer na região: “O Sesc tem preço acessível, não temos outro lugar para ir”, disse Severino.

Tijucana, a dona de casa Itacema Pereira, 53 anos, também elogiou a estrutura do local, onde o filho Rodrigo, 13 anos, pratica esportes. “O Sesc é importante para a minha família, todos fazem esportes aqui e é o único lugar que conseguimos pagar. Aqui tem de tudo, entretenimento, esporte, educação. Os moradores dependem muito do Sesc”, disse.

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