Por leonardo.rocha

Rio - Após 40 dias de paralisação, chegou ao fim a greve dos trabalhadores do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí. Em assembleia, feita pela manhã no Trevo da Reta, e com a participação de 20 mil pessoas, segundo o sindicato, a categoria aprovou a contraproposta dos patrões de um aumento linear de 9%, mais pagamento da Participação nos Lucros e Resultados (PLR) de 2013 até a próxima sexta-feira. Também aceitaram o vale alimentação de R$ 410 e um benefício extra com o mesmo valor no próximo pagamento. Com o fim da greve, os operários retornaram aos postos de trabalho ontem mesmo.

Inicialmente, a categoria pedia reajuste de 15%, mais R$ 500 de refeição. Durante as negociações, reduziu para 11,5% e R$ 460. Já as empresas ofereciam correção de 7% e R$ 360 de tíquete. Presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Plano da Construção Civil e do Mobiliário de São Gonçalo e Região (Sinticom), Manoel Vaz ressaltou que luta pela valorização do trabalhador não terminou. “O retorno ao trabalho amplia o processo de negociação de outros benefícios, que a gente pode ir ajustando, como a melhoria de outras funções com salários maiores”, afirmou Vaz.

Obras na Comperj%2C em ItaboraíDivulgação

O Sinticom informou que,descontados os fins de semana, a paralisação durou 25 dias. Assim, esse tempo será compensado em três partes iguais, divididas da seguinte forma: um terço dos dias pagos pelos trabalhadores por meio de horas a mais de trabalho; outro terço abonados pelos patrões e o restante será congelado.

Ou seja, se não houver nova paralisação até 31 de janeiro de 2015 esses dias serão abonados. “Conseguimos recuperar os salários de fevereiro, o vale alimentação de janeiro, mais um vale extra e os 25 dias parados serão compensados da melhor forma para o trabalhador”, argumentou o sindicalista.

Já José Resende, membro da comissão de empregados do Comperj, eleita por operários contrários à atuação do Sinticom, avaliou que não houve vitória para os trabalhadores. “Não há o que comemorar. Queríamos 15%, abaixamos para 11,5% e no fim vamos receber apenas 9% de aumento. Os trabalhadores só aceitaram pela necessidade. Estávamos muito tempo sem receber salário”, analisou a liderança.

Impasse pode comprometer fim da paralisação

Nesta terça, os advogados do Sinticom e dos dois sindicatos patronais, Sindicato das Empresas de Engenharia de Montagem Industrial (Sidemon) e Sindicato Nacional da Industria de Construção Pesada (Sinicon), assinam o acordo que pôs fim à greve. Entretanto, há uma divergência em relação a compensação dos dias parados. Em nota, o Sidemon e o Sinicon negam que propuseram arcar com um terço dos dias parados.

Alegam que eles serão descontados em 10 parcelas a partir do pagamento de abril.
Marcos Hartuns, assessor da presidência do sindicato dos trabalhadores, disse que este ponto não foi aprovado em assembleia. “Os operários não aceitaram desconto de nenhum dia de greve. Apenas concordaram em compensar um terço dos dias parados, trabalhando. Esperamos que isso não comprometa a assinatura do acordo, já que a categoria está irredutível”, afirmou Hartuns. Ele não descarta uma nova paralisação, caso os patrões não cedam e mantenham a cobrança de um terço dos dias parados.

Investigação da violência

Mesmo com fim da greve, prossegue inquérito na 71ª DP (Itaboraí), que apura três fatos violentos durante a paralisação: primeiro, um carro de som do sindicato foi queimado, depois dois operários foram baleados e, por último, uma dupla, que estava em uma moto e armada, incendiou um ônibus da Viação Real Brasil, que transportava 13 trabalhadores para o empreendimento.

Na última quinta-feira, um outro incidente gerou atos de violência e vandalismo. Manifestantes fecharam a Rodovia RJ-116 (Itaboraí–Nova Friburgo) por uma hora, nos dois sentidos, enquanto seguiam em caminhada até a entrada do Comperj. A passeta terminou em confronto de grevistas com PMs do Batalhão de Choque e do 35º BPM (Itaboraí). Bombas de efeito moral foram usadas para dispersar os operários, que reagiram jogando pedras.

No auge do confronto, um oficial do 35º BPM sacou uma arma, mas não teve disparos. O carro de som do Sinticom foi apreendido e o motorista detido. Porém, o homem acabou solto e o veículo liberado.

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