Por bferreira

Rio - Servidores das três esferas e aposentados do INSS levam vantagem nos juros na hora de contratar empréstimo consignado em relação a clientes que não têm a modalidade à disposição. Os correntistas que usam linhas sem desconto em folha chegam a pagar quase quatro vezes mais juros, conforme o prazo de quitação, se comparado com as condições oferecidas a funcionários públicos e segurados da Previdência. Operações de crédito feitas por esses dois grupos vêm crescendo e já representam 28% do total do crédito direcionado ao consumo.

O aposentado Lailson Rios prefere não se arriscar com empréstimos bancários%3A só em caso de urgênciaRaphael David

Levantamento do Banco Central (BC) mostra que servidores pagam, em média, juros de 23% ao ano e aposentados, 28% ao ano. Os clientes bancários em geral arcam com taxas médias de 95% ao ano.

De acordo com cálculos do professor de Finanças do Ibmec-RJ, Gilberto Braga, o correntista comum que pega R$ 2 mil para pagar em 36 parcelas, com taxas de 95% ao ano (5,74% ao mês), gasta no final R$4.762,80, sendo R$2.762 somente de juros.

Já o servidor que contrata o mesmo valor para quitar também em 36 vezes desembolsa, ao longo do prazo, R$707,92 de juros, com taxas de 23% ao ano (1,74% ao mês).

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Um dos motivos da desproporção é que servidores e aposentados possuem mais opções para escolher a instituição em que pode pegar crédito. Os servidores da União, por exemplo, têm 42 bancos conveniados à disposição. Já o governo do estado mantém parceria com 36 instituições. O Ministério da Previdência Social permite que 47 bancos e financeiras ofereçam crédito com desconto em folha a aposentados e pensionistas do INSS. A outra explicação é que esse público oferece mais segurança de pagamento para bancos, permitindo que os juros sejam menores.

“Um correntista só tem o banco em que mantém conta para pegar empréstimo. Já servidores e aposentados do INSS podem escolher em lista de opções, independentemente do banco em que eles recebam os pagamentos. A concorrência faz a diferença”, ressalta Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças e Administração (Anefac).

Apesar das melhores condições há quem prefira não se arriscar. O aposentado Lailson Rios, 72 anos, segue a risca as dicas de especialista de que empréstimos bancários só devem ser contratados em caso de urgência ou para liquidar dívidas em que as taxas são bem maiores.

“Me controlo para não pagar juros. Mesmo com o consignado, prefiro não correr risco de me endividar”, afirma.

INSS registrou R$ 5 bi em contratos

Aposentados e pensionistas do INSS pegaram R$ 5 bilhões em empréstimos com desconto em folha em fevereiro. Desse total, 90,52% foram parcelados entre 49 e 60 meses.

O resultado é 31,17% maior se comparado ao mesmo período de 2013, quando foram liberados R$ 3,8 bilhões. Em relação a janeiro deste ano, houve aumento de 25,83%.

Segundo a Previdência, 1.741.302 contratos foram firmados em fevereiro, quantidade 8,28% superior a registrada em janeiro. Em relação ao mesmo mês de 2013, houve aumento de 21,40%. No Estado do Rio houve 169.198 operações que totalizaram R$ 528,4 milhões.

Os 47 bancos conveniados à Previdência oferecem juros que variam de 0,74% a 2,14% ao mês (que é o teto permitido). A margem consignável é limitada a 30% da remuneração líquida do segurado ou até 10% para a modalidade cartão de crédito que cobra juros de 3,06% ao mês.

Os dados das três esferas

GOVERNO FEDERAL

O Ministério do Planejamento informou que as taxas de juros praticadas nas operações de empréstimos não podem ser superiores a 2,5% ao mês. A regra está prevista na Portaria 60, de 20 de março de 2008. Os funcionários públicos têm como tirar dúvidas no Portal do Servidor, no Siapenet, em www.siapenet.gov.br. A pasta esclareceu que a soma mensal das consignações facultativas de cada servidor não pode exceder a 30% da remuneração. E ressalvou que o financiamento de imóvel residencial e os empréstimos em geral devem ser amortizados até o limite de 60 meses. Ainda de acordo com o Ministério do Planejamento, os servidores têm em torno de 42 bancos públicos e privados para contratar consignado.

ESTADO DO RIO

A Secretaria Estadual de Planejamento e Gestão (Seplag) informou que, atualmente, há mais de um milhão de contratos em vigor, sendo que um mesmo servidor pode ter mais de um contrato. Os funcionários estaduais podem consultar o Custo Efetivo Total para as operações de crédito consignado entre as instituições financeiras credenciadas no site da Seplag (www.rj.gov.br/web/seplag). Segundo a pasta, a taxa máxima permitida para empréstimos é de 2% ao mês e para a modalidade cartão de crédito, de 3,9%, mas não há taxa mínima. O prazo máximo dos contratos é de 60 meses e o valor médio da parcela de R$ 140. No momento há 36 bancos que efetivamente oferecem empréstimo consignado aos funcionários estaduais. Os servidores da Secretaria de Educação e os policiais militares são as duas categorias com maior volume de créditos contratados. A Seplag esclareceu que também são as classes com maior número de servidores no estado.

PREFEITURA DO RIO

Segundo a Secretaria Municipal de Administração, de 158 mil ativos e inativos, 65 mil estão com empréstimo consignado em instituições financeiras. De acordo com a Resolução 1.889 de 13 de março de 2014, 12 bancos estão aptos a oferecer crédito consignado em prazos de 6 a 72 meses. As taxas de juros mensais variam de 1,29% a 1,85% Os bancos conveniados e as taxas de juros podem ser consultadas no site www.rio.rj.gov.br/web/sma.

Procura por crédito recua 3,2% no primeiro trimestre

A quantidade de pessoas que procurou crédito recuou 3,2% no primeiro trimestre de 2014 em comparação com o mesmo período do ano passado, informou ontem a Serasa Experian.

De acordo com economistas da instituição, a aceleração da inflação durante o primeiro trimestre e as taxas de juros em elevação, além do menor grau de confiança dos consumidores pesaram negativamente sobre a disposição dos brasileiros em buscar mais crédito ao longo do primeiro trimestre deste ano.
Na Região Sudeste do país, a procura por empréstimos caiu 4,1%.

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