Por bferreira

Rio - Mesmo longe de alcançar os salários mínimos oferecidos em alguns países na Europa, o Brasil ocupa posição privilegiada entre as nações emergentes. No ranking dos Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), a população brasileira tem o segundo maior rendimento — R$ 724 — abaixo apenas da Rússia, que oferece piso de R$ 1.936,22.

Dono de um floricultura em Botafogo%2C Fernando Antônio de Jesus%3A “Hoje em dia tudo está tão caro que a gente paga para viver”Daniel Castelo Branco / Agência O Dia

Enquanto isso, no Velho Continente, a Suíça pretende se tornar o país que paga o melhor no mundo. Em referendo, no próximo dia 18, os governantes vão decidir se os suíços receberão salário mínimo de 4 mil francos suíços (R$10 mil) mensais, de acordo com informações publicadas pela agência de notícias Bloomberg. O rendimento, se aprovado, será 13,8 vezes maior do que o mínimo brasileiro.

A diferença de valores entre a Suíça e os países emergentes, categoria que o Brasil integra, tem um simples motivo, segundo Fernando de Holanda Barbosa Filho, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV): “País rico tem profissionais ricos, país pobre não tem dinheiro para oferecer rendimentos altos”.

A Suíça é uma das nações mais avançadas do mundo, ocupando sempre as primeiras posições do Índice de Desenvolvimento Humano da ONU. Além disso, o país tem um Produto Interno Bruto de US$ 50 mil per capita, cerca de quatro vezes o brasileiro.

O especialista atribui esse fato à falta de especialização dos brasileiros. “A produtividade do fator trabalho é baixa, resultado de pouco treinamento e Educação, além de uma legislação trabalhista das menos competitivas do mundo”, disse.

Confira a comparaçãoArte%3A O Dia

Mesmo assim, o salário mínimo brasileiro mostrou avanço considerável nos últimos dez anos, segundo professor do Ibmec-SP e da Universidade Columbia, nos Estados Unidos, onde é Diretor do BricLab (Centro de Estudos sobre Brasil, Rússia, Índia e China), Marcos Troyjo.

Ao longo do governo Fernando Henrique, o mínimo sofreu desvalorização, passando de US$ 109, em 1995, para US$ 84,14, em 2002. Com a política de valorização com aumentos reais iniciada no governo Lula e mantida na gestão de Dilma Rousseff, o valor ultrapassa de US$ 300.

“A aceleração foi notável sobretudo do ponto de vista da diminuição das desigualdades de renda”, disse Troyjo.

Dieese sugere piso nacional de R$ 2.992,19 para brasileiros

Para que a população brasileira conseguisse suprir todas as despesas básicas em março deste ano, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudo Socioeconômico (Dieese) sugeriu um salário mínimo ideal de R$ 2.992,19. O valor da pesquisa é 313% superior ao piso real de R$ 724.

Para o especialista Marcos Troyjo, o resultado da pesquisa não corresponde à situação econômica do país. “O impacto na Previdência Social, que também se pauta pelo valor do salário mínimo, seria catastrófico”, defende.

Ele afirma que no Brasil, além de um valor nominal pouco competitivo, o salário também implica em grande transferência de riquezas da sociedade para o governo.

“Esse capital iria para o poder público por meio de inúmeros encargos que não retornam nem aos trabalhadores nem às empresas. Serve para subsidiar a máquina estatal ineficiente e inchada que temos no Brasil”, avalia.

Entretanto, com a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), registrando a maior variação nos últimos 11 anos, com alta de 0,93% em março, os preços pesam no orçamento do trabalhador. Segundo o proprietário de uma floricultura em Botafogo, Fernando Antônio de Jesus, 51 anos, “tudo está tão caro que a gente paga para viver e o salário mal dá para pagar as contas”. “Está difícil encontrar funcionários para trabalhar, sendo que eu pago R$ 1.200 e as pessoas acham pouco. Imagine quem ganha um salário mínimo?”, questiona.

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