Por bferreira

Rio - O potencial de consumo no interior dos estados atrai cada vez mais a atenção do mercado e estimula o crescimento de pequenas empresas e negócios locais. Pesquisa do Sebrae com o Instituto Data Popular mostra que a movimentação fora das capitais e regiões metropolitanas corresponde hoje a 38% do total no país. O resultado equivale à circulação de R$827 bilhões ao ano, mais que o PIB — conjunto das riquezas produzidas — de países como Chile, por exemplo, que registrou de aproximadamente R$500 bilhões em 2013.

No Rio, a participação das cidades pequenas é de 13% na economia e gera R$ 56 bilhões de negócios por ano.

A fotógrafa Mila Rangel mora em Rio das Ostras e tem acesso a todos os produtos e serviços que teria no RioDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

Um dos setores que contribuem para o resultado no país é o de supermercados, que em 2011 registrou crescimento nas vendas no interior de 13,3% em comparação com 2010. Nas capitais, a variação foi de 7,8%, segundo a consultoria Nielsen.

Gerente de Conhecimento e Competitividade do Sebrae-RJ, Cezar Kirszenblatt explica que no Rio a economia sempre foi concentrada na capital. Assim, o percentual de gastos do interior ficava em patamares baixos, se comparado a números nacionais. Porém, a situação tem mudado.

“Tivemos grandes investimentos no interior, principalmente na região Norte Fluminense, com o petróleo, na Sul Fluminense, com a indústria automotiva e na Costa Verde e Região dos Lagos, com o turismo”, afirma.

Para Renato Meirelles, presidente do Data Popular, investimentos desse tipo colaboram para o desenvolvimento do interior e, consequentemente, para o aumento do consumo. “Todo o comércio local gera empregos, e faz a economia girar”, explica.

Segundo dados da Firjan, o volume de investimentos previstos para o período de 2014 a 2016 no estado é de R$ 235,6 bilhões, sendo que 16% do total será destinado à capital. Os 84% restantes vão as cidades do interior.

O volume de negócios fora da Região Metropolitana já reflete na arrecadação do Imposto Sobre Serviços (ISS), o primeiro a apontar o crescimento econômico de uma região. O último dado disponível mostra que no interior a arrecadação do tributo aumentou 12,5% entre 2011 e 2012, ante 9,2% na capital.

Presidente do Sebrae, Luiz Barretto avalia que o desejo de consumo representa bons negócios não apenas para o comércio, mas para todos os outros segmentos. “Porque será preciso fabricar móveis, prestar manutenção para as TVs, geladeiras e lavadoras, ter agências de viagens e lojas, por exemplo”, avalia.

Segundo ele, os micro e pequenos empresários têm mais chances de aproveitar o crescimento econômico do interior. “Desses municípios, em todo o Brasil, 73% têm menos de 20 mil habitantes, o que diminui o interesse das grandes redes. Já o pequeno negócio pode nascer e crescer na sua própria localidade e ainda contribui para o desenvolvimento”, incentiva.

Entre os fatores que influenciaram o aumento do poder de consumo das cidades pequenas, Renato Meirelles destaca o aumento real no salário mínimo, além do emprego formal e retenção de talentos. “Durante muito tempo as pessoas tinham que sair em busca de Educação e emprego”, ressalta.

Segundo ele, para manter o crescimento, os municípios precisam entender que os moradores querem ter condições para melhorar de vida.

Consumidores de cidades pequenas buscam qualidade e bons preços

No último ano, os moradores de cidades do interior gastaram R$ 265 bilhões na manutenção do lar e outros R$ 118,4 bilhões com alimentação no domicílio. Medicamentos, material de construção e alimentação fora de casa (em restaurantes, bares e lanchonetes) também estão entre os principais gastos da população.

Nos próximos 12 meses, esses consumidores planejam comprar principalmente móveis para a casa, TVs, geladeiras, máquinas de lavar e viajar de avião. Gastos com lazer são menores: apenas 8% dizem ir ao cinema.

“A pesquisa mostrou que os consumidores no interior definem suas compras principalmente com base no preço e na qualidade e dão menos importância à marca, o que favorece empresas menores que se preparam para oferecer bons produtos e serviços”, avalia o presidente do Sebrae, Luiz Barretto.

A advogada Andrea Cristina Martins, 37, mora em Nova Friburgo e não sente necessidade de ir ao Rio para fazer compras. “Minha cidade tem grandes redes de varejo e vestuário, com as mesmas opções de preço e produtos. E ainda tenho a vantagem de estar perto do polo de moda íntima, fitness e praia”, diz.

Já o representante de vendas Marcos Almeida, 31, que vive em Rio das Ostras, acredita pagar mais caro por se tratar de uma região turística. “O que mais pesa no orçamento é a alimentação”, afirma. Moradora da mesma cidade, a fotógrafa Mila Rangel, 24, conta que os seus principais gastos também estão no supermercado. “Já pensei em fazer compras na Região Metropolitana, mas seria muito trabalhoso. Lá tenho tudo que preciso”, diz.

Baixa renda é maioria

De acordo com a pesquisa do Data Popular em parceria com o Sebrae, 49% da população do país vivem em municípios do interior, contra 51% nas capitais e regiões metropolitanas.

A Região Sudeste tem 1.500 cidades no interior do estado e 168 capitais ou cidades em regiões metropolitanas. Segundo Cezar Kirszenblatt do Sebrae, quatro milhões de pessoas moram nas cidades pequenas, o que corresponde a 12% de toda a população fluminense.

Interior não é sinônimo de área rural. A pesquisa mostra que 74% dos moradores que vivem nas cidades pequenas estão em áreas urbanas, contra apenas 26% no campo.

Entre os trabalhadores, 77% ganham até dois salários mínimos — já nos grandes centros, 64% estão nessa faixa de renda. Além disso, 21% daqueles que moram no interior têm renda de dois a dez salários mínimos; e apenas 2% ganham mais de 10 salários mínimos por mês.

“Embora a renda seja menor no interior, o consumo vem sendo favorecido pelo desenvolvimento dessas cidades e pelo aumento da circulação de dinheiro nos municípios. Uma das razões é o fato de que 63% dos beneficiários do programa Bolsa Família vivem no interior”, destaca Renato Meirelles, presidente do Instituto Data Popular.

Você pode gostar