Por felipe.martins

Rio - Planejamento foi a palavra-chave dos comerciantes que tiveram sucesso durante a Copa. Bares, restaurantes e lojistas que se organizaram e apostaram na temática do Mundial para atrair clientes conseguiram aumentar os lucros nesse período em até 50%. Quem não vestiu a camisa deixou de vender, mas já pensa em reverter a situação de olho nas Olimpíadas em 2016.

Um exemplo de iniciativa vitoriosa foi a do Espetto Carioca. A rede decorou as lojas com as cores do Brasil e instalou mais televisores nos salões. Outro atrativo foi o lançamento do espetinho de bolinho de feijoada (R$ 8,95) que, segundo o diretor executivo Bruno Gorodicht, teve bastante saída.

Gerente Rosilda Vieira%2C do Rio Emporium%3A ‘Inovação foi fundamental para aumentar nosso faturamento em 30%’Paulo Araújo / Agência O Dia

“Em média, tivemos uma alta de 35% no faturamento. Algumas unidades tiveram ganho maior, como na Zona Sul e Barra da Tijuca (45%). Acredito que se não tivéssemos criado um atrativo, não chegaríamos a esse bom resultado”, afirma o diretor.

Gerente do Rio Emporium, na Lapa, Rosilda Vieira conta que o faturamento subiu 30%. “Preparamos o ambiente pensando na Copa. Os pastéis coloridos com as cores do Brasil até quem torcia contra comeu”, brinca.

Entre erros e acertos, o saldo de bares e restaurantes é positivo, garante o presidente do SindRio, Pedro de Lamare. Para ele, que também é empresário, o comércio comprovou que comporta grande demanda.

Amanhã, o SindRio deve divulgar balanço com impacto do Mundial para o comércio.
“Ficou claro que o Rio é uma cidade turística. Antes da Copa, os empresários estavam receosos, mas agora não. Os restaurantes do Centro enfrentaram mais problemas. Mesmo com promoções não tiveram resultado bom”, antecipa.

SEM PROMOÇÃO

Já quem não conseguiu aproveitar a Copa para lucrar foi o depósito de bebidas Arco das Águas, na Lapa. O gerente Evandro explica que não fez promoção em função da alta dos preços repassada pelas distribuidoras nessa época. Ele reclama que os feriados também atrapalharam porque as empresas dispensaram seus funcionários. Ele diz que as vendas caíram, sem mencionar quanto.

“A gente atende a muitas empresas do entorno. E como dispensaram os funcionários, sentimos bastante. Para não ter prejuízo, compramos as bebidas nos dias que o vendedor vem na loja, porque ele sempre tem promoção”, justifica o gerente.

?LOJAS DE RUA LAMENTAM MOVIMENTO ABAIXO DO NORMAL NO MUNDIAL 

Os lojistas se dividiram com relação à Copa. Enquanto os shoppings afirmam ter lucrado com o Mundial, o comércio de rua lamenta os prejuízos. Segundo o Clube dos Diretores Lojistas (CDLRio), as perdas do setor podem chegar a R$ 1,9 bilhão, em função dos feriados dos jogos.

Aldo Gonçalves, presidente do CDLRio, reclamou que os estrangeiros não compraram nada além de alimentos no período. “A maioria dos turistas que veio ver a Copa é de menor poder aquisitivo”, diz.

De acordo com ele, os comerciantes investiram em promoções e facilidades de pagamento para estimular as vendas, mas mesmo assim o movimento foi fraco. Para o presidente da Sociedade da Rua da Alfândega e Adjacências (Saara), Ênio Bittencourt, a Copa não trouxe bons resultados.

“Mesmo as lojas que se prepararam e enfeitaram as vitrines estão com mercadoria sobrando”, lamenta.
Gerente de grandes empreendimentos do Sebrae/RJ, Renato Regazze afirma que a Copa foi importante para que os empresários percebam em que podem melhorar nas Olimpíadas de 2016.

“Várias ideias nascem a partir dessa experiência. É preciso analisar como atrair os consumidores nesses períodos”, aconselha.

Mas, para ele, quem não lucrou ainda terá chances: “Quando a Copa passar vai haver aumento no consumo, que estava retraído. As pessoas estavam preocupadas com os jogos e agora as atenções se voltam para outras questões, como as compras”.

BOA LOCALIZAÇÃO NEM SEMPRE É SINAL DE SUCESSO

No bairro turístico, comerciante que não atraiu cliente não vendeu mais

Em meio ao furacão de turistas, comerciante que não fez nenhuma ação para atrair clientes durante o período da Copa do Mundo não perdeu, porém também não ganhou. É o caso da loja especializada em artesanato Arte da Terra, em Copacabana.

Localizada no bairro carioca conhecido mundialmente, a unidade confiou no ponto comercial próximo dos turistas e não criou estratégia voltada ao viajante. Mesmo assim, os turistas visitaram a loja e compraram produtos, como explica a vendedora Karina Santana, 28 anos.

“Não desenvolvemos ação para os jogos. Demos o foco nos nossos antigos clientes, moradores do Rio e não nos turistas. Claro que vendemos para os turistas, mas foi pouco”, observa.

Já o comerciante de que apostou em novidade teve alta no faturamento. É o caso da loja Tem Tudo, em Copacabana, que colocou artigos relacionados ao evento na porta do estabelecimento. “Tivemos muitas compras de turistas. O produto na porta da loja foi uma boa estratégia. Nosso faturamento cresceu cerca de 50% nesse período em razão do nosso esforço”, disse o gerente Fernando Pires, 34 anos.

Todo o cliente deve ser valorizado, para ele ter vontade de voltar, orienta o gerente de grandes empreendimentos do Sebrae/RJ, Renato Regazze.

“O artesanato atrai o turista e essa parceria continua. Quem não se reinventou pode não ter perdido, mas também não ganhou com o Mundial”, disse.

INVESTIMENTO E CRIATIVIDADE DERAM RETORNO POSITIVO PARA OS SHOPPINGS

Superintendente do Barra Shopping, Jussara Nova Raris ressalta que a Copa é tradicionalmente ruim para o varejo, mas como a desse ano foi no Brasil, alguns shoppings lucraram com a vinda de turistas.
“Apesar dos feriados, nos outros dias tivemos uma compensação. Mas também investimos. Colocamos ônibus para buscar os turistas nos hotéis da Barra e contratamos funcionários bilíngues para trabalhar no atendimento”, avalia.

Gerente de marketing do Shopping Metropolitano Barra, Luciane Treigher afirma que ações alusivas à Copa ajudaram a atrair clientes. “Fizemos exposições sobre a Copa e atividades para crianças”, diz.
Já para a coordenadora de Marketing do Santa Cruz Shopping, Carla Barbosa, o maior lucro ficou com o setor de artigos esportivos. “Lojas que não são desse segmento, mas colocaram produtos voltados para o Mundial também tiveram bom retorno. Quem não investiu teve o mesmo lucro do ano passado, sem Copa”, conta.

Fernando Ruivo, superintendente do Pátio Alcântara, em São Gonçalo acredita que cada shopping deve buscar a ação que funciona melhor na sua região: “Aqui, dança e espetáculos atraem consumidores”.

O QUE SOBE

PROMOÇÕES

As promoções de chope grátis em caso de gol do Brasil atraíram clientes em busca de gols e bebida. E donos de bares que encheram a casa não tiveram prejuízo com os poucos gols da seleção brasileira.

AMBIENTAÇÃO

A decoração com as cores do Brasil foi um diferencial nos restaurantes em busca de clientes. O aumento do número de televisores também foi um atrativo oferecido pelos comerciantes.

TRANSPORTE

Shoppings na Barra da Tijuca e na Zona Sul colocaram ônibus e vans para buscar os turistas nos hotéis próximos e investiram em funcionários bilíngues para atender aos estrangeiros.

LANÇAMENTOS

Muitos donos de restaurante lançaram petiscos para o Mundial. O nome irreverente facilitou o cliente a pedir o prato.

LOCALIDADE

A proximidade com o público facilitou o aumento das vendas. Nos locais distantes dos turistas, todas as alternativas acima foram usadas pelo comércio para não ter prejuízo maior.

O QUE DESCE

JOGOS

Shoppings e restaurantes que deixaram de exibir os jogos da Copa em telões atraíram menos clientes do que poderiam.

UNIÃO

Coordenadora de Marketing do Santa Cruz Shopping, Carla Barbosa afirma que faltou união dos lojistas em torno de um único objetivo. “Se todos tivessem se organizado para a Copa, oferecendo diferenciais para a data, o lucro poderia ter sido maior”, reclama</CW>.

EVENTOS

Em época de festa, vale a pena apostar em eventos para atrair o público, como shows, apresentações de dança, entre outros. Quem não investiu nessas ações deixou de ganhar clientes.

IDIOMA

A falta de profissionais nos setores de serviços e de comércio com o conhecimento de idiomas como inglês e espanhol foi uma das principais críticas dos turistas estrangeiros.

CRIATIVIDADE

Faltou a tão característica criatividade do comércio de rua, principalmente no Centro do Rio, que se deixou abater pelos problemas de trânsito na região.

Você pode gostar