Por tamara.coimbra

Brasília - Embora a pauta oficial da reunião dos 16 chefes de estado dos países integrantes do Brics e da Unasul (que reúne as nações da América do Sul) fosse a inclusão social e o desenvolvimento sustentável, dois temas acabaram dominando as manifestações de boa parte dos líderes presentes em Brasília.

Um foi a disputa da Argentina com os chamados fundos abutre, que vêm ameaçando a renegociação da dívida do país, e o outro a criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o banco dos Brics.

Os líderes sul-americanos manifestaram seu apoio à criação do banco dos Brics, como um contraponto a outras instituições. Segundo o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, o NBD propiciará “uma nova arquitetura financeira que beneficie o desenvolvimento econômico em condição de equidade entre os países”.

O presidente do Uruguai, José Mujica, também elogiou a iniciativa. “O mundo financeiro é imprevisível, e a insegurança e a volatilidade do mundo atual são muito grandes. Isso nos obriga a ter uma reserva. Meu país é muito pequeno, tem um Produto Interno Bruto de US$52 bilhões e tem uma reserva de US$ 18 bilhões, o que é uma disparidade”, disse Mujica.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial foram alvo de críticas dos mandatários. A deixa já estava nas sucessivas declarações dos Brics divulgadas ao final dos últimos encontros: o grupo quer a reforma da distribuição das cotas do fundo, de forma a dar mais poder aos países emergentes, cuja importância geopolítica ascendeu.

Pela manhã, após o encontro com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, a presidenta Dilma Rousseff reafirmou o interesse dos Brics na reforma do FMI. “Nós não temos o menor interesse em abrir mão do Fundo Monetário. Temos interesse em democratizá-lo, torná-lo mais representativo”, disse.

A diretora-geral do FMI, Christine Lagarde, enviou uma mensagem para Dilma, na qual diz querer trabalhar em conjunto com a equipe dos Brics dedicada ao projeto de criação do Arranjo Contingente de Reserva, outro produto da reunião de Fortaleza.

No encontro, emergiu uma preocupação, entre a maior parte dos países, sobre os efeitos da sentença da justiça americana que obriga a Argentina a pagar os fundos que não aceitaram o acordo de reestruturação da dívida do país portenho.

Briga com fundos abutre preocupa

Durante o encontro entre líderes dos Brics e da Unasul, dirigentes de países latinos demonstraram preocupação com os efeitos que a sentença da justiça americana pode ter sobre as outras renegociações em andamento de dívidas de nações do mundo e sobre a própria Argentina.

“Apareceu (na reunião) o tema da Argentina. É um tema que suscitou a preocupação de quase todo mundo. Essa sentença é irracional. Todos manifestaram seu apoio à Argentina”, disse o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, após o encontro.

Para o Brasil, o tema é particularmente importante pelos seus efeitos sistêmicos: pode criar uma insegurança no lançamento de bônus de dívidas.

Em sua passagem por Brasília, a presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, falou sobre o tema. “Acreditamos em uma pátria grande e que é preciso acabar com esse tipo de pilhagem internacional em matéria financeira”, disse ela, ao chegar à capital brasileira.

Na visão da presidenta argentina, o país está “sofrendo um ataque especulativo fortíssimo.”

Reportagem de Mariana Mainenti e Sonia Filgueiras

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