Por bferreira

Rio - O comércio no Rio também amargou perdas com a Copa do Mundo. Segundo o Clube de Dirigentes Lojistas (CDL-Rio), o setor teve um prejuízo de mais de R$ 1 bilhão no período, em função dos feriados. “Foi quase um mês de vendas depreciadas. Perde todo o setor produtivo: o governo, que deixa de arrecadar impostos, os empresários, que deixam de vender, e os funcionários, que ganham menos comissões”, afirma Aldo Gonçalves, presidente da entidade.

O resultado é o repasse do prejuízo para o consumidor, que começa a pagar mais caro pelo produto, explica Gonçalves. A aposentada Telma Nascimento, 56 anos, reclama da inflação. “Eu não entendo o motivo para tantas altas se o nosso salário não sobe. Compro poucos produtos no supermercado e a conta já fica muito alta. Está difícil”, diz ela.

A aposentada Telma Nascimento reclama do aumento no preço dos produtos no supermercado. “Só o salário que não sobe”%2C criticaEstefan Radovicz / Agência O Dia

Já o empresário Carlos Lopez, 32, critica as altas taxas de juros, grandes responsáveis pela estagnação da economia. “Tenho sentido o aumento nas taxas cobradas pelos bancos. O jeito é tentar não se endividar e procurar pagar as contas sempre em dia. Se não tem como mudar a taxa, assumo essa postura para não pagar mais caro”, diz.

Mercado prevê ‘pibinho’ abaixo de 1% para este ano

O mercado financeiro reduziu pela oitava vez consecutiva a expectativa para o crescimento da economia do país. Conforme o boletim Focus, divulgado ontem pelo Banco Central, a estimativa de alta do Produto Interno Bruto (PIB) caiu de 1,05% para 0,97%. Para especialistas, o cenário é de desânimo generalizado entre os empresários e receio com o resultado das eleições presidenciais em outubro.No final de 2013, a projeção do governo era de que o PIB crescesse 2,5%, enquanto o Focus previa 1,7%.

No início de junho, essa percepção havia sido reduzida para 1,5% e agora está abaixo de 1%. Economista da Simplific Pavarini e professor de Economia do Ibmec-RJ, Alexandre Espírito Santo diz que a percepção de que a economia vai mal tem aumentado de forma muito acelerada.

“A economia do país já virou alvo de chacotas, com crescimento de apenas 1% contra uma inflação de 7%”, diz Alexandre. Segundo ele, o governo federal perdeu a credibilidade com os empresários, que estão cada vez mais pessimistas.

Marcel Balassiano, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), conta que, de fato, a queda da confiança dos agentes foi um dos principais motivos da baixa expectativa de crescimento. “O Índice de Confiança do Consumidor teve a oitava queda trimestral consecutiva, recuando 3,2% no segundo trimestre de 2014, em relação ao trimestre anterior. Já o Índice de Confiança Empresarial, que agrega indústria, serviços, comércio e construção, caiu 6,8% no segundo trimestre de 2014”, aponta o especialista.

Para Alexandre Espírito Santo, o governo federal perdeu interlocução com os empresários. “O poder público não facilitou, não ofereceu infraestrutura. E a Copa do Mundo não foi o que os empresários imaginaram. Se já estavam investindo pouco, agora é que não vão investir mesmo. Vão esperar as eleições passarem para ver o que vai acontecer”, avalia.

Sócia-diretora do curso Plan Idiomas Direcionados, voltado para ensino corporativo, Angela Branco conta que o ano está sendo difícil para o empresariado. “Somos prestadores de serviço e, na medida em que houve tantas interrupções devido ao Mundial, nossas horas trabalhadas diminuíram muito. Além disso, as empresas estão mais cautelosas com novos contratos, embora continuem investindo nos alunos que já estão matriculados. As eleições são uma preocupação. Não existe uma política que incentive pequenas empresas no que diz respeito à parte fiscal”, critica a executiva.

Para Alexandre, o principal risco é de a situação levar ao desemprego. “O mercado de trabalho só está aquecido porque no Brasil é caro demitir e os empresários investiram muito em treinamento nos últimos anos. Se a presidenta Dilma Roussef for reeleita, precisará mudar sua equipe, para dar um ar de renovação”, conclui.

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