Por adriano.araujo

Rio - Em um país em que 24% da população possuem algum tipo de deficiência, o mercado de moda inclusiva tem grande potencial para crescer. O nicho de roupas adaptadas ainda está sendo descoberto no Brasil e, justamente por ser pouco explorado, oferece boas oportunidades de negócio. Além de lucrar, empresários podem melhorar a qualidade de vida das pessoas com deficiência, aumentando sua independência e autoestima.

Com as Olimpíadas e Paraolimpídas de 2016, a expectativa é que esse segmento ganhe ainda mais visibilidade, estimulando os empresários a investir no setor de roupas adaptadas. O conceito de moda inclusiva considera as necessidades físicas e psicológicas desses indivíduos, ou seja, cria formas de facilitar o ato de se vestir. A troca de botões por velcro e a inclusão de etiquetas em braille são maneiras de tornar uma roupa mais acessível.

No ginásio do Sesc Tijuca%2C Ana Carolina conta que procura sempre os mesmos vendedores%3A “Se todas as etiquetas fossem em braille%2C faciliMaíra Coelho / Agência O Dia

Para Clodoaldo Silva, atleta paralímpico de 35 anos com seis medalhas de ouro em natação, a questão da moda inclusiva vai muito além da funcionalidade. O mais importante, segundo ele, é estimular a autoestima das pessoas que não conseguem comprar em lojas convencionais.

“Quando eu não consigo vestir minha própria roupa, isso é frustrante. Além disso, a grande maioria das lojas não tem provadores exclusivos para as pessoas com necessidades especiais, o que atrapalha a nossa acessibilidade. Mas se eu chego em uma loja e consigo experimentar uma roupa e me sentir bem, sem fazer ajustes, isso contribui para que eu me sinta incluído na sociedade”, explica Clodoaldo.

Ana Carolina Duarte, 27 anos, é atleta da seleção brasileira de Golbol, modalidade de futebol para cegos. Deficiente visual desde os 12 anos, ela sempre buscou ser independente, mas às vezes precisa contar com a ajuda das amigas e da família para se vestir. Carol já ouviu falar das etiquetas em braille, mas nunca encontrou uma loja que vendesse esses produtos no Rio de Janeiro.

“Adoro comprar roupas, mas para facilitar vou sempre na mesma loja e procuro os mesmos vendedores, que me ajudam. Se as etiquetas fossem em braille, indicando a cor da roupa e a estampa, por exemplo, facilitaria bastante”, conta ela, que também está no último período da Faculdade de Direito.

Coordenadora de Moda do Sebrae/RJ, Fabiana Pereira Leite afirma que o segmento de roupas adaptadas não é para amadores. “Esse é um mercado ainda muito embrionário no Brasil, justamente porque requer um trabalho de pesquisa muito grande, além de haver uma falta de conhecimento a esse respeito. Mas, algumas pessoas já identificaram essa necessidade e perceberam que esse é um nicho pouquíssimo explorado”, informa.

É o caso de Ana Cristina Ekerman, criadora da marca Adaptwear, lançada este ano, em formato virtual. “Percebi que havia espaço para esse tipo de negócio no Brasil e decidi investir. Pesquisei com terapeutas ocupacionais e contratei uma estilista para me ajudarem com as funcionalidades. Meu objetivo é oferecer uma moda que a pessoa tenha orgulho de usar fora de casa. A aceitação já tem sido muito boa”, conta a empresária.

Quem investir da forma certa pode ter bons lucros

A empresária Drika Valério, 26 anos, ingressou no mercado de moda inclusiva em 2012, após concluir um projeto da faculdade sobre o assunto. “No último período do curso de moda, eu quis fazer um vestido de noiva, mas também queria produzir algo que pudesse ajudar as pessoas. Decidi então fazer um modelo para mulheres com deficiência física e vi que existia mercado para esse tipo de negócio. A procura é muito grande, pois há poucas confecções especializadas nisso”, afirma.

Gerente de Marketing da Audaces, empresa de criação de tecnologia para confecções, Jorge de Paula conta que a procura pelo sistema de modelagem de roupas adaptadas tem crescido. “A ferramenta faz a recorte pelo computador e identifica onde é preciso fazer os ajustes. Hoje, ainda existem poucas empresas de moda inclusiva, mas esse cenário está mudando e deve ganhar força após as paraolimpíadas de 2016”, observa o executivo.

Segundo Fabiana Pereira Leite, do Sebrae/RJ, quem investir nesse segmento tem grandes chances de conseguir bons resultados. “Mas é preciso investir bem. O mercado é aquecido, mas além do trabalho de pesquisa, é preciso ter um plano de negócios bem estruturado. Muitos se lançam nesse mercado num primeiro momento com lojas online, que têm menos gastos. Isso também facilita a compra por parte das pessoas com deficiência física, que não precisam ir até uma loja. Além disso, a parceria com entidades de apoio é um canal interessante de divulgação”, diz.

Vendedores devem ter treinamento especializado

Para Clodoaldo Silva, atualmente já é possível encontrar vendedores treinados para lidar com pessoas com deficiência mesmo nas lojas convencionais. No entanto, é preciso que essa orientação seja reforçada.

“Costumo ser bem atendido sempre que vou comprar roupas, mas algumas vezes as vendedoras se abaixam para ficar no mesmo nível que eu. Isso é ótimo porque facilita o contato olho no olho. A maioria das funcionárias ainda fica em pé, o que atrapalha, pois eu tenho que esticar o pescoço para falar”, diz.

Outra reclamação comum é em relação ao preço das peças. Na Adaptwear, por exemplo, uma saia-short custa R$ 234 e, uma camisa social masculina, R$ 127,92. Já na loja Lado B de moda inclusiva, uma calça jeans feminina sai por R$ 169,90, enquanto uma bermuda masculina custa R$ 141,20.

Para Fabiana, do Sebrae/RJ, a justificativa está no número reduzido de peças, que aumenta o custo da produção. “O trabalho feito 100% no Brasil também encarece”, diz.

Você pode gostar