Por bferreira

Rio - Com uma refeição custando em média R$30 no Rio, espalha-se pelas ruas do Centro a venda de quentinhas. Carros e bicicletas oferecem a comida por preços médios de R$ 9 em postos fixos, mas ilegais. Levantamento feito pelo DIA constatou que só em uma única rua havia ontem seis veículos vendendo o produto. Até funcionários de grandes empresas, como a Petrobras, aderiram ao serviço, que pode chegar a 100 quentinhas por fornecedor.

Vendedora de quentinhas%2C Valéria Marques (blusa azul) contratou até uma funcionária %3A “Refeição já me deu carro e casa própria”Hélio Almeida / Agência O Dia

Valéria Marques, 41 anos, é uma das principais empreendedoras no ramo. Ela iniciou, há 14 anos, como terceirizada na Caixa Econômica Federal e, nas horas vagas, oferecia refeições nas ruas. “Eu sou a primeira a vender quentinha aqui. Abandonei o emprego de carteira assinada quando comecei a ganhar mais que o dobro do que no banco”, revelou a ambulante, que gosta de ser chamada de empresária pela clientela.

Nos negócios de quentinha ao ar livre, são oferecidas em geral três opções de refeições, entre carnes bovina, frango e porco, sempre acompanhadas de arroz, feijão, salada ou batata. Em alguns casos, é possível encontrar mais opções.

“A cada dia eu ofereço uma opção diferente, para o cliente sempre voltar, porque ninguém quer comer a mesma comida todos os dias”, conta Luciana Cardoso, 45 anos, que tem uma cooperativa de cozinheiras em Santa Teresa.

Como a maioria dos clientes usa o cartão-refeição, todos os camelôs trabalham com as máquinas de cartão. O sistema de fiado não existe mais neste ramo.

“Logo que comecei a trabalhar, há três anos, adquiri uma máquina de cartão. Antes, o cliente pagava depois, mas muitos não voltavam e eu ficava com o prejuízo”, afirma Roberto Bentes.

Associada aos empregados com salários mais baixos, a quentinha hoje é comprada por pessoas consideradas de classe média, como o administrador da Petrobras Rogério Bandessin. “Quando tenho muito trabalho para fazer, eu desço, compro a comida e volto. Não me sinto menor por isso. Até porque a comida tem um tempero muito bom”, avalia.

E não é só nas ruas do Centro do Rio que o comércio de refeições a céu aberto se espalhou. Até no Leblon é possível encontrar trabalhadores e moradores comprando quentinha, principalmente por quem não tem empregada doméstica.

Os ambulantes não se arrependem do negócio. “Hoje ganho três vezes mais. Minha meta é vender direto para empresas”, diz Roberto. “Já comprei um carro e uma casa”, conta Valéria.E problemas com a fiscalização? “Nunca tive”, dissimula a empresária das quentinhas.

Seop apreendeu 191 quentinhas em 1 ano

Mesmo não gostando de ser chamada de ambulante, é isso o que a Valéria Marques é[/TEXT] para lei, por conta da atividade econômica exercida ilegalmente nas ruas da cidade. A Secretaria Municipal de Ordem Pública informou para a reportagem que promove ações diariamente para coibir a comercialização em via pública sem autorização prévia.

“Quem for flagrado vendendo quentinhas em veículos em qualquer ponto da cidade terá a mercadoria apreendida”, informou o órgão por meio de nota.

Além da venda de quentinhas ser proibida nas ruas, assim como outros negócios espalhados pela cidade, os veículos muitas vezes usados pelos ambulantes ficam parados em locais proibidos.

“O automóvel também poderá ser rebocado se estiver estacionado em local proibido”, explica a nota.
A Seop, em ações desenvolvidas nos últimos 12 meses, apreendeu e inutilizou 191 quentinhas que eram vendidas irregularmente nas ruas do centro do Rio de Janeiro.

Preço sobe menos após altas seguidas

Não só o IBGE já apurou a desaceleração dos preços da alimentãção fora de casa. A Fundação Getulio Vargas ao divulgar o do Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) da segunda leitura de agosto apontou que, apesar de o item figurar entre as maiores contribuições de alta do indicador (0,08% frente ao 0,16% da prévia anterior), a redução do aumento é expressiva.

“Desde outubro de 2011, este item não tem uma variação negativa. Há desaceleração de refeições em bares e restaurantes. Parece um primeiro sinal de impacto. Vem na esteira da atividade enfraquecida, de menos oferta de emprego e renda mais baixa”, analisa o coordenador do IPC-S, Paulo Picchetti.

ENTENDA

Comer fora de casa acumula alta de quase 12% em 12 meses. O aumento é o dobro da inflação e da média dos reajustes salariais dos trabalhadores ao longo do último ano.

A Copa do Mundo e a alta do preço dos alimentos in natura apurada no primeiro semestre em função da falta de chuvas contribuíram para essa elevação.

A perspectiva, porém, é de freio no aumento de preços no médio prazo. O dado foi apurado pelo IBGE na pesquisa do IPCA-15, a prévia da inflação oficial do país.

Segundo esse levantamento, fora de casa as refeições e bebidas no país subiram 0,61% em julho, menos do que em junho.

Ocorre que, segundo o IBGE, alimentos referenciais do prato do brasileiro estão mais baratos: batata inglesa (-20,42%), tomate (-16,47%), feijão carioca (-5,49%), hortaliças em geral (-5,13%), óleo de soja (-3,17%) e feijão preto (-3,11%).

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