Por bferreira

Rio - Levantamento feito em 55 estabelecimentos que vendem peixes no Município do Rio revelou que todos já comercializaram ao menos um tipo de peixe de menor valor como se fosse nobre. Organizada pela ONG Fundação SOS Mata Atlântica, a pesquisa identificou que no Rio foi registrado um total de 14 espécies com troca de rotulagens. Além disso, 86% das feiras livres e 25% das peixarias houve, pelo menos, um registro de erro na indentificação do produto.

A falta de fiscalização é uma das causas das fraudes apontada pelo relatório inédito, que teve a participação de uma equipe da UFRJ. A troca de rotulagem é crime contra as relações de consumo e o comércio pode ser denunciado, pois faz o cliente pagar mais por menos.

Na maior parte dos locais, o filé de panga, importado e de água de doce, é comercializado, por exemplo, como filé de pescada ou filé de linguado, peixes nativos de água salgada. A fraude também ocorre com o peixe batata, que é vendido como namorado (inteiro) e em filé como badejo e cherne, ambos até 40% mais caros.

“Prefiro comprar o peixe fresco, porque assim vejo o que estou levando. E quando quero algum congelado, só compro o peixe que sei identificar”, diz a aposentada Sueli Calegari, 67 anos.

A pesquisa foi feita durante a Semana Santa, em abril, quando foram visitados comércios nas zonas Norte, Sul e Oeste da cidade, incluindo feiras, supermercados, peixarias, restaurantes, Ceasa, mercado produtor São Pedro, em Niterói, e a colônia de pescadores Z13.

Na época, o preço médio do quilo de pescado era de R$ 26, variando em função da região e tipo de estabelecimento. A Zona Sul apresentou a maior média (R$ 37), em contraste com as zonas Norte e Oeste (R$ 21).

As dificuldades na identificação e de fiscalização das espécies explicam parte do problema com rotulagem. Diego Igawa Martinez, biólogo do programa Costa Atlântica da fundação, diz que, ao longo da cadeia de venda, perde-se informações sobre a captura e origem do pescado. “Há grande desconhecimento sobre a origem e a identificação da espécie”, afirma. “A principal conclusão é que ainda precisamos avançar”, ressalta o biólogo.

O desconhecimento dos comerciantes sobre a legislação pesqueira é alto. Durante o estudo, a lagosta estava no período de defeso, mas apenas 15% mencionaram conhecer essa restrição. “No Rio, 33% dos comerciantes não conheciam nenhum período de defeso e 78% desconheciam o tamanho mínimo de captura das espécies que vendiam”, diz Rodrigo Moura, da UFRJ.

É preciso evitar pescado de vida longa, como cação

O peixe é um alimento rico em vitaminas. “O ômega 3 diminui o colesterol ruim e é bom para os olhos e cérebro”, explica a nutricionista Roberta Thawana.

O problema de alguns deles, diz a especialista, é a contaminação por metais tóxicos como o mercúrio, que prejudica o sistema nervoso central.

“O peixe de água salgada mais recomendável é o salmão e o de água doce é a tilápia. É preciso evitar peixes de vida longa, como o cação, que é conhecido como lixeiro do mar”, diz ela, que também é consultora da empresa Netfarma.

Segundo a nutricionista, é aconselhável comer peixe, no mínimo, três vezes por semana e alternar com carne bovina, frango e ovos, de preferência cozidos. “O aumento do consumo é fundamental para se obter os benefícios que o alimento oferece”, ressalta.

Melhor é comprar o produto inteiro

O pesquisador Rodrigo Moura, da UFRJ, orienta que na dúvida sobre a identidade do pescado, os consumidores devem sempre optar pela compra dos peixes inteiros, e não levá-los em filé ou comprar os produtos processados. “Muitas vezes, os erros ocorrem por ser um simples deslize dos comerciantes, mas é evidente que espécies de menor preço são frequentemente rotuladas como nobres”, diz.

Além do panga, a fraude da rotulagem, de acordo com o estudo, também ocorre com mais frequência com o batata, vendido como namorado. A troca de identificação acontece por razões como falta de conhecimento e uso de espécies com mais aceitação no mercado.

“Ao fazermos o levantamento, observamos a comercialização de ‘filé de panga’, um peixe importado de baixo valor, como ’filé de pescada’ ou ’filé de linguado’, espécies nativas de maior valor e excelente qualidade”, afirma Moura.

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