Rio - Discutir o aborto no Brasil é um desafio que envolve aspectos médico, religioso, saúde, liberdade, vida conjugal, maternidade e político, como a campanha eleitoral demonstrou. Independentemente de convicções, há o ponto de vista econômico que ganha uma grande relevância e que perpassa todas as formas de se pensar sobre o tema.
O aborto é como se fosse uma sujeira varrida para debaixo do tapete da sociedade brasileira. Ele existe, está nas casas das pessoas, não tem classe social e independe de escolaridade. A maioria, entretanto, finge que não sabe. Mas em segredo, todos conhecem algum caso próximo ou já sentiu na própria pele.
A questão é que, como o ato é proibido no Brasil, a pessoa se vê forçada a recorrer a um aborto clandestino. Paga caro, em condições médicas deploráveis, correndo o risco de ser atendida por curiosos oportunistas que se passam por médicos. Ou, então, se auto-mutila provocando a interrupção da gravidez.
Em boa parte das vezes (não há estatísticas oficiais), a mulher tem complicações no procedimento e acaba procurando a rede pública de saúde para curar as complicações pós-aborto. Ou seja, não adianta ser proibido no país se ele é uma questão social e as suas consequências acabam virando custo para o Estado.
Por isso, é importante que se quebre o tabu da educação sexual no Brasil, que se ensine com clareza os métodos contraceptivos nas escolas para os adolescentes e que, ocorrendo uma gravidez indesejada, o aborto possa ser feito na rede pública de saúde.
Pessoalmente não sou favorável ao aborto, mas defendo o direito do casal e da mulher em decidir sobre o ato, cabendo ao Estado o papel de dar suporte médico e de difundir a educação sexual no país.
Gilberto Braga é professor de Finanças do Ibmec e Fundação Dom Cabral