Por bferreira

Rio - Com os altos preços das roupas no Brasil, aumenta a procura por peças de vestuário em outros países, que oferecem valores consideravelmente mais baixos. No entanto, essa nova concorrência prejudica a indústria nacional, que possui custos elevados de produção. Segundo levantamento da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), os viajantes brasileiros compraram cerca de R$ 12 bilhões (aproximadamente US$ 5 bilhões) em roupas do exterior somente no ano passado.

Cássia e Daniel vão comprar o enxoval do bebê nos Estados UnidosDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

Esse valor corresponde ao faturamento anual estimado das quatro maiores cadeias do varejo têxtil — Riachuelo, Renner, C&A e Marisa. Além disso, de acordo com Fernando Pimentel, diretor-superintendente da Abit, o que o país deixa de ganhar com as compras no exterior equivale de 6% a 8% do faturamento anual desse segmento do varejo.

Pimentel afirma que o problema não é trazer produtos do exterior, mas critica os excessos. “As pessoas hoje viajam com o objetivo de fazer compras. Só não trazem carros nas malas porque não cabem. Então é preciso que haja uma regulação, do contrário, é criada uma competição desleal. Tem gente que viaja e traz produtos para revender, sem pagar impostos. Isso prejudica o empresário que paga suas taxas”, argumenta.

ALTO CUSTO DE PRODUÇÃO

A questão da tributação, aliás, é um dos fatores que encarecem a produção nacional e influencia no valor final das peças. Gerente comercial da grife Cavendish, Laisa Brasil conta que não é fácil se manter no mercado.
“Quase 40% do que se paga em uma peça de roupa são relativos a impostos. No fim das contas, incluindo encargos com matéria-prima, mão de obra e estoque, o lucro das empresas fica realmente baixo”, avalia.

Pimentel lembra que entre os países emergentes, o Brasil é o que tem a maior carga tributária. Ele critica também a burocracia. “Os impostos devem ser menores e mais fáceis de ser pagos. A burocracia drena o esforço das empresas, que poderiam estar investindo mais em marketing, tecnologia e desenvolvimento”, diz.

Consumidor critica preços

Apesar da justificativa da indústria para os altos preços das roupas, os consumidores alegam que os valores não estão de acordo com o orçamento da maioria das famílias. Pensando nisso, o casal Cássia Maria Paes Mano, 40 anos, e Daniel da Rocha Oliveira, 31, decidiu comprar nos Estados Unidos o enxoval do bebê que está esperando.

“A viagem foi planejada para compras. Mesmo considerando as despesas com passagem aérea e hotel compensa fazer o enxoval no exterior. Lá, um conjunto com cinco bodies sai por US$ 10, cerca de R$ 23. Aqui, um mesmo modelo não sai por menos de R$40”, avalia Cássia. Segundo ela, o casal vai aproveitar para trazer roupas também para as filhas de 11 e 5 anos.

Já a comissária de bordo Maria Lucia Branco, 56 anos, conta que dá preferência a comprar roupas no exterior para evitar pagar mais caro no Brasil.

“Em função da minha profissão, viajo para a Inglaterra com frequência e acabo fazendo compras por lá. Uma calça jeans, por exemplo, que pode ser encontrada por 10 libras, cerca de R$ 40, aqui dificilmente se paga menos de R$ 100”, explica.

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