Por bferreira

Rio - Tradicional bairro boêmio, em dezembro a Lapa terá o seu primeiro hotel 4 estrelas: o Vila Galé Rio. Com uma rede de 18 hotéis de luxo em Portugal, o Grupo Vila Galé está no Brasil desde 2000, com 6 unidades. A do Rio será a sétima. Entre 2013 e 2016, a empresa portuguesa investirá no país mais de R$ 210 milhões em empreendimentos hoteleiro e imobiliário. Presidente do grupo, Jorge Rebelo de Almeida esteve aqui, na semana passada, conferindo as obras. A escolha ocorreu mais pela revitalização que o Rio passa do que pelos eventos esportivos. Para ele, 2015 deve ser um ano de ajustes tanto na política quanto na economia, para que o país volte a crescer em 2016.

Jorge Rebelo de Almeida%2C presidente do Grupo Vila GaléJosé Pedro Monteiro / Agência O Dia

O DIA: Quando o grupo Vila Galé chegou ao Brasil?

ALMEIDA: - Chegamos em 2000, quando construímos o primeiro hotel na Praia do Futuro, em Fortaleza, que abriu em 2001. Já em 2003, adquirimos um hotel em Salvador, no bairro de Ondina. Depois, construímos o Vila Galé Marés, na praia de Guarajuba, também próximo de Salvador. Em 2009, promovemos dois investimentos, um foi o Eco Resort Angra dos Reis, no Rio, e o Eco Resort do Cabo, em Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco. Em 2010, retornamos ao Ceará para inaugurar o Vila Galé Cumbuco. E agora vamos inaugurar o primeiro Vila Galé da Cidade do Rio, no bairro da Lapa.

Além do primeiro Vila Galé no Rio, há outros investimentos no país?

Sim, estamos investindo no ramo imobiliário, em Cumbuco, a 33 quilômetros de Fortaleza, onde temos uma área de 450 hectares, com 2,5 quilômetros de praia de um lado e 800 metros de rio de outro. Lá estamos construindo um loteamento de casas e terrenos. Além disso, temos um outro empreendimento com 330 apartamentos a ser inaugurado até 2016. O grupo investe cerca de R$ 100 milhões nas duas atividades.

Quando será inaugurado o empreendimento da Lapa?

A inauguração será em 11 de dezembro. Serão 292 apartamentos de luxo, com dois restaurantes, bar, piscina, além de um palacete histórico, na entrada, que está sendo todo reconstruído. Também haverá um pequeno centro de convenções. A ideia é atender a todo o tipo de público, mas com certeza o corporativo terá ali um espaço adequado. É um investimento de R$ 110 milhões.

Por que no centro da cidade e não na Zona Sul ou na Barra da Tijuca?

O Centro do Rio precisava de um investimento de grande porte. É um lugar muito bonito, que precisa de revitalização. Nós temos essa experiência de revitalizar prédios históricos. Além disso, faltava um hotel diferenciado no Centro, com quartos amplos. O próprio prefeito nos convidou para vir para a cidade.

A Copa do Mundo e as Olimpíadas influenciaram nessa decisão?

É um erro as pessoas pensarem que um evento justifica a construção de hotel. Temos que ter uma visão de longo prazo e observar o fluxo de pessoas a procura de hotel. O Rio está crescendo muito e turismo também se desenvolveu. Hoje vemos a cidade melhor, o Centro revitalizado, assim como a construção do Porto Maravilha.

O senhor está bem otimista...

Têm ações que não cabem ao empresariado e, sim, à prefeitura e ao estado. A limpeza urbana e a segurança da região são dois temas fundamentais, até mesmo para incrementar o turismo. Com isso, os investimentos privados voltam e um atrai o outro.

Como o senhor avalia o desempenho do país em 2014?

Para o turismo não foi tão ruim assim. Sentimos uma pequena queda na unidade de Salvador, mas no de Marés, próximo à capital baiana, cresceu a ocupação. Porém, o país como um todo tem que apostar mais no turismo. Não existe uma política séria para o setor. O fluxo de turistas é de 5 milhões por ano. Em Portugal é de 12 milhões, no México mais de 20 milhões e na Turquia, 27 milhões de turistas. O Brasil precisa melhorar muito neste segmento.

Então precisa haver mais investimentos em turismo?

Sim. Socialmente, o turismo é muito bom, pois o trabalhador evolui ao entrar em contato com pessoas de outros estados, de outros países. Ele aprende mais, fica mais culto.

O que mais é preciso ser feito, em sua opinião?

O Brasil é um país continental. É fundamental melhorar a questão da infraestrutura aeroportuária. Os horários dos voos têm que ser manter frequentes. As estradas também têm que melhorar, assim como deveria ter mais investimentos em malha ferroviária e até mesmo no transporte marítimo de pessoas e de carga.

O que senhor espera do novo governante e para o próximo ano?

O ano de 2015 não será um ano de grande crescimento. Creio que o próximo governante deve aproveitar este ano para fazer as reformas necessárias, mais urgentes, para retomar o crescimento em 2016. O Brasil tem uma característica fundamental, pois não há falta de dinheiro. O país tem recursos naturais e matéria-prima.

O que precisa mudar para o país crescer mais?

Para mim, o grande problema do país é a falta de uma reforma política. As reformas tributária e fiscal são necessárias. A burocracia é grande e tem um alto custo. É necessário simplificar e modernizar o sistema, assim como promover a reforma previdenciária, sob o risco de ficar insustentável dentro de 20 anos.

E a reforma política?

Sim. Não consigo conceber é a existência de mais de 30 partidos. Não há doutrina política no mundo que justifique tantas agremiações. Nas democracias mais antigas, como a Inglaterra, por exemplo, são três os partidos principais. Aqui há um gasto de energia muito grande para manter as vantagens dos partidos políticos, manter empregos para todas essas pessoas.

O que isso acarreta?

O Brasil tem um problema muito grande que é a produtividade e competitividade baixas. E a culpa não é do povo, é muito mais das lideranças, sejam políticas sejam do setor privado, os empresários. Estamos contentes com o Brasil, gostamos de estar aqui. Mas é um país difícil, a burocracia é muito grande, o que atrapalha a produtividade. Além disso, tem a questão da alta rotatividade da mão de obra (turnover).

E o que pode ser feito?

Investir mais em qualificação. Isso não é custo, é investimento. Incentivar o colaborador a ficar na empresa, por meio de premiações por mérito. Em Portugal, o grupo já recebeu vários prêmios por ter uma grande consciência social. A força de uma empresa vem de seus colaboradores. É a ética, o valor de uma companhia. Criamos o ‘Programa Staff’, onde o nosso funcionário ganha 70% de desconto na estadia da rede. Assim, ele pode viajar e observar o funcionamento das demais unidades.É ele se por na expectativa do cliente. Pode ver os erros e apresentar sugestões de melhorias.

Qual é o quantitativo de trabalhadores no Brasil?

Hoje já são 1.500 funcionários, incluindo os contratos para trabalhar no Rio e que estão em fase de capacitação. Trouxemos chefes de cozinha e de bar para qualificar os colaboradores.

Há planos para crescimento no país?

Por enquanto estamos concentrados nos empreendimentos em Cumbuco, no Ceará. Mas estamos de olho também em São Paulo, na capital, onde ainda não chegamos. No exterior, fazemos observações em Moçambique, em Cabo Verde. Países de língua portuguesa.

Você pode gostar