Por adriano.araujo, adriano.araujo
Rio - Cada vez mais presentes nos lares brasileiros, os livros digitais se preparam para chegar aos bancos das escolas. Ainda que o conteúdo digital não seja usado em larga escala na Educação Básica, as editoras do segmento investem para concorrer neste mercado, que cresce a passos largos no país. Segundo pesquisa anual encomendada pela Câmara Brasileira do Livro, o setor de e-books cresceu nada menos do que 225% entre 2012 e 2013.
Livros digitais estão cada vez mais dentro das escolasArte O Dia

A FTD, uma das maiores editoras de didáticos do país, possui um departamento com 50 pessoas para atuar na produção de conteúdos digitais, envolvendo e-books, plataformas de ensino, aplicativos, jogos, entre outros produtos. Segundo Fernando Moraes, gerente de Inovações e Novas Mídias da editora, a empresa oferece um conteúdo digital que vai além da simples reprodução do impresso.

“O livro educacional digital é enriquecido com um conhecimento que vai desde os pontos mais simples, como a possibilidade de ampliar uma imagem, até o uso de imagens georeferenciadas e tridimensionais, animações, vídeos, jogos e infográficos animados”, explica. Já a SM possui versões digitais para 16 de suas 19 coleções didáticas.

Uma sinalização de que os e-books terão uma inserção maior no ensino público foi a decisão do Ministério da Educação de distribuir livros digitais para escolas públicas a partir do ano que vem, por meio do Programa Nacional de Livros Didáticos (PNDL). O governo é o maior comprador das editoras e, em 2013, foi responsável pela aquisição de 76,5% dos livros didáticos vendidos no país. Para as edições que serão entregues em 2015, o gasto foi de R$ 1,1 bilhão.

“Esse foi um enorme passo. Os editais do programa sempre foram elaborados para a publicação impressa. O fato de eles terem aberto a possibilidade de receber livros digitais mostra para onde estamos indo”, afirma Susanna Florissi, coordenadora da Comissão do Livro Digital da Câmara Brasileira do Livro.

A distribuição de conteúdo digital é apenas um passo para a adoção dessa tecnologia nas escolas públicas, que dependem de grandes obstáculos como a compra de equipamentos e a capacitação de professores, por exemplo. Mas é o suficiente para despertar o mercado.

Conheça o livro do futuroArte O Dia

“Foi um sinal de que o governo já está preocupado com o digital. Os editais ainda são confusos, mas as coisas estão andando”, avalia Carlo Carrenho, consultor e fundador do site Publishnews, especializado no mercado editorial.

Questionado sobre o repasse do material para as escolas, o Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação, que gere o programa de distribuição de livros para escolas públicas, informou que a “distribuição para o ano que vem ainda está em estudo”.
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Pioneirismo na Barra da Tijuca
?Apesar do potencial que as plataformas digitais oferecem no ensino, seu uso nas escolas ainda não está muito disseminado. No Rio, uma das pioneiras a adotar livros digitais é a Saint John, escola de classe média alta na Barra da Tijuca.
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Há dois anos, o conteúdo dos e-books se aliam aos livros convencionais. Do Ensino Infantil ao Médio, o dispositivo é usado em atividades complementares feitas pelos alunos.
“Na Educação Infantil, as crianças têm o laboratório de informática e a sala do tablet, onde todos os aparelhos são padronizados, do mesmo modelo”, explica a diretora pedagógica da escola, Denise Ferreira.
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O colégio optou por arcar com os custos e comprar todos os tablets usados pelos alunos. “Somos uma escola de classe média alta, mas não podemos obrigar um pai a comprar um tablet. Há famílias que se sacrificam para manter seus filhos estudando aqui”, avalia.
Ela afirma que os pais veem com bons olhos o uso de tecnologia em sala de aula e os alunos se empolgam com as possibilidades do digital. “Eles gostam porque são nativos digitais, no berço deles praticamente já tinha um tablet”, brinca.
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Segundo Denise, há a opção de o aluno fazer o dever de casa no tablet, por exemplo. Mas ela explica que a compra do livro impresso ainda é demandada, mesmo que o aluno adquira a versão digital. “Temos que contemplar as dificuldades do uso de tablet, como o produto cair, quebrar e ser roubado”, diz.
?Leitura 2.0 será híbrida
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?Especialistas vislumbram a convivência entre os livros impressos e digitais no horizonte dos próximos anos. Hoje, o impresso paga as contas das editoras, com os digitais respondendo por menos de 1% do faturamento.
Mas há mudanças em vista. De acordo com um levantamento feito pela Câmara Brasileira do Livro com participantes do 4º Congresso Internacional do Livro Digital, no ano passado, 74% dos editores e livreiros acreditam que a venda de digitais vai superar a de impressos nos próximos anos. Mas isso não implica numa substituição de um suporte pelo outro.
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“Hoje discutimos a chamada leitura 2.0. Você lê um pedaço aqui, outro ali, manda uma passagem para discutir com um amigo. É uma leitura fragmentada”, afirma Susanna Florissi, da Câmara Brasileira do Livro.
Para Fernando Moraes, da FTD, a dúvida do mercado é como os investimentos retornarão às editoras. “Gerar um modelo de negócio rentável é um problema não só das editoras, mas de todo o mundo da comunicação. Neste sentido, estamos engatinhando”, diz Moraes.
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