Por victor.duarte
Rio - Como o mercado já esperava, o Comitê de Política Monetária (Copom), órgão ligado ao Banco Central, elevou nesta quarta-feira em 0,5 ponto percentual a taxa básica de juros (a Selic), passando de 11,75% para 12,25% ao ano. Atrelada a alta de impostos, anunciada na segunda-feira, a medida tem por objetivo demonstrar que o governo continua firme no controle da meta inflacionária. Também a partir de hoje está valendo a nova alíquota de 3% para as Operações Financeiras (IOF), que incide sobre o crédito direto aos consumidores, cuja a intenção é frear o consumo.
Participando do Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou ontem que 2015 não será um ano fácil, mas que o Brasil está colocando a casa em ordem. Segundo ele, o importante é o caminho adotado, rumo à “uma base sólida para as contas” do governo, com o objetivo de recuperar a confiança do mercado.
Ministro da Fazenda, Joaquim Levy disse que país poderá ter um trimestre negativoWilson Dias / Parceiro / Agência Brasil

Levy, no entanto, não descarta que a economia brasileira encolha em um trimestre neste ano. “O Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil é muito resiliente. Então, podemos ter um trimestre (negativo), mas sem grandes consequências”, afirmou.

“As medidas adotadas nesta semana são coerentes com a proposta da atual equipe econômica, que visam diminuir a inflação. A elevação do IOF tem essa finalidade”, explica Gilberto Braga, economista e professor do Ibmec e da Fundação Dom Cabral.

Publicidade
Segundo o especialista, o momento é de ajuste, evitando um processo de controle desenfreado. “A tendência atual do mercado é que as medidas sejam bem aceitas. A dúvida é se o ministro terá vida longa, ou seja, se as ações serão acertadas e retomem o avanço da economia a partir de 2016”, destaca.
Segundo Levy, o importante é o que está sendo feito para obter uma base sólida nas finanças públicas, para que as empresas retomem a confiança e saibam das condições gerais do país para poder assumir riscos. Sobre as medidas de aumento de impostos nos combustíveis e nas operações de crédito, o ministro afirmou que está tomando medidas para enfrentar o atual ciclo econômico, a exemplo do que acontece com outros parceiros comerciais, como os Estados Unidos.
Publicidade
Já o diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI), Alejandro Werner, afirmou que é preciso tempo para recuperar a confiança dos mercados. Mas que o governo brasileiro está no caminho certo após as medidas anunciadas.
“A confiança é difícil de se recuperar, mas as autoridades brasileiras começaram com o pé direito”, disse. “Acreditamos que todo o pacote está na direção correta, mas há mais a ser feito tanto no lado fiscal como em infraestrutura”, completou.

Publicidade

Elevação foi unânime
Pela terceira vez consecutiva, o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou a taxa básica para 12,25% ao ano. “Avaliando o cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic em 0,5 ponto percentual”, informou o Banco Central.
Publicidade
Professor de Economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Pedro Raffy Vartanian diz que a medida reforça a preocupação do BC com o controle da inflação. “No ano passado ficou duvidoso esse controle. Agora o governo quer recuperar a credibilidade e a imagem junto aos investidores.” Para Vartanian, a Selic deverá ter nova alta, fechando o ano em 12,5%.
A proporção de cheques devolvidos pela segunda vez por falta de fundos no país ficou em 1,99% em 2014, um aumento de 0,02 ponto porcentual ante 1,97% em 2013, segundo o Serviço Central de Proteção ao Crédito. É o maior nível desde 2009, quando o percentual de cheques sem fundos ficou em 2,10%.
Publicidade

Dólar cai a R$ 2,60 e bolsa fecha em alta de 2,81%
O dólar fechou ontem em queda, mas anulou boa parte das perdas vistas durante a sessão após expectativas de mais estímulos econômicos na zona do euro derrubarem a divisa a R$ 2,58. O movimento favoreceu a atividade de compradores. A moeda norte-americana enfrenta dificuldades para se sustentar abaixo de R$2,60, mesmo diante de expectativas de maior disciplina fiscal no Brasil.
Publicidade
O dólar recuou 0,32%, a R$ 2,6066 na venda, após atingir R$ 2,5853 na mínima da sessão. Segundo dados da BM&F, o giro financeiro estava em torno de US$ 1,4 bilhão de dólares. “Quando o mercado chega nesses níveis, perto de R$ 2,60, parece que pensa duas vezes”, disse o gerente de operações do Banco Confidence, Felipe Pellegrini.
Na Bolsa, o principal índice de ações brasileiro fechou em alta de quase 3%, também diante da expectativa de que o Banco Central Europeu (BCE) anuncie um programa de compra de bônus , reforçando a liquidez do sistema financeiro mundial. O Ibovespa encerrou o dia com valorização de 2,81%, a 49.224 pontos, acompanhando a quinta alta consecutiva de ganhos das bolsas europeias.
Publicidade
REPERCUSSÃO
POUPANÇA PERDE
Publicidade
Com a taxa básica de juros a 12,25% ao ano, os fundos de renda fixa apresentam uma vantagem ainda maior em relação às aplicações na poupança. A caderneta só é vantajosa no curtíssimo prazo (resgate em até seis meses) ante fundo com taxa de administração de 1,5%.
Atualmente, a caderneta paga 6,17% ao ano, mais a variação da TR, o que é equivalente a 0,60% no mês e não há incidência de Imposto de Renda (IR). No entanto, num menor prazo e com a menor taxa de administração, o rendimento líquido do fundo de renda fixa é de 0,68%, ou seja, ganha da poupança. Com uma taxa de administração de 2%, os fundos de renda fixa oferecem rentabilidade maior nas aplicações entre um e dois anos (0,61% ao mês) e acima de dois anos (0,64%).
Publicidade
Para Amerson Magalhães, diretor da Easynvest, as operações pós-fixadas, especialmente as LFTs (Letras Financeiras do Tesouro), as LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) e LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio), além dos CDBs, estão entre as modalidades mais vantajosas para o investidor neste período, em detrimento à poupança. “Para o pequeno investidor ou iniciante, uma LFT pós-fixada, com remuneração atrelada a taxa de juros, pode ser um bom negócio, pois o protege das futuras altas da Selic, que são esperadas em 2015”, destaca o executivo.
FIRJAN: ANO DIFÍCIL
Publicidade
Em nota, a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) reiterou “que o ajuste fiscal deve privilegiar a diminuição dos gastos públicos de natureza corrente. A opção pela diminuição dos investimentos públicos ou pelo aumento adicional da carga tributária deprimiria ainda mais a confiança de empresas e consumidores, marcando retrocesso na busca por um crescimento mais elevado e sustentável no longo prazo.”
SEM COMPETITIVIDADE
Publicidade
Coordenador do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Santa Marcelina (FASM), Reginaldo Gonçalves diz que a decisão do BC trará ainda mais dificuldades para as empresas financiarem suas atividades, golpeando qualquer tentativa de aumento de competitividade. “O governo espera frear o consumo doméstico até que se recuperem a força do real e a confiança do investidor externo no país. Para isso, entretanto, arrisca-se a aumentar o desemprego e a reduzir ainda mais o PIB”, afirma o especialista.
Publicidade
Publicidade