Por bferreira

Rio - A inflação oficial voltou a quebrar recorde negativo e atingiu o patamar de 7,7% no acumulado de 12 meses, o mais alto desde maio de 2005, quando registrou 8,05%. Os dados foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em fevereiro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou em 1,22%, valor mais alto para o período desde 2003. No Rio de Janeiro, a situação é ainda pior. A cidade teve o maior aumento entre as 13 capitais pesquisadas pelo instituto, registrando um índice de 9,02%. No acumulado de 2015, a inflação soma 2,48%.

Os preços administrados, que são controlados pelo governo, continuam a se destacar entre as maiores altas. Se no início do ano as tarifas de transporte público foram as “vilãs”, no mês passado esse papel coube à gasolina. O combustível subiu 8,42%, refletindo a volta da Cide e o aumento nas alíquotas do PIS/COFINS, que entraram em vigor em 1º de fevereiro. Somente este item foi responsável por um quarto do índice registrado no mês.

A secretária Cristiane Sá%2C 40 anos%2C afirma que procura pelas frutas da estação para encontrar preços mais acessíveis. Outra alternativa é comprar no mercado informalCarlo Wrede / Agência O Dia

“Fevereiro foi atípico. Nos últimos anos, o reajuste das escolas pressionava o mês, mas este ano elas foram superadas pela correção da gasolina”, explicou Eulina Nunes, coordenadora de Índices de Preços do IBGE.

De acordo com o educador financeiro Reinaldo Domingos, uma das alternativas para reduzir o consumo do combustível é tentar organizar caronas. “É possível fazer um rodízio entre pais que têm filhos na mesma escola. Mas é preciso fazer a conta. As vezes o tempo gasto pelos pais para levar seus filhos é muito alto. Neste caso, pode ser mais econômico contratar um transporte escolar”, afirma o especialista.

A má notícia é que, em março, os aumentos de preços não vão arrefecer. Segundo o economista André Braz, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), o custo da energia voltará a impactar o orçamento. “Vamos ter uma inflação acima de 1% novamente, influenciada pelo ajuste das bandeiras tarifárias e por aumentos extraordinários”. Neste mês, a energia também contribuiu para pressionar o índice, com alta de 3,14%.

As medidas para reduzir o consumo de energia doméstica já estão sendo percebidas pelo comerciante Alexandre Vieira, da loja Casarão dos Lustres. Ele afirma que a procura pelas lâmpadas de LED aumentou 40% nos últimos meses. Elas são cerca de 80% mais eficientes que as lâmpadas incandescentes. “Hoje estão chegando novas marcas no mercado com preço mais acessível. Dependendo do uso, elas chegam a durar entre cinco e seis anos”, conta.

Economia envolve toda a família

A redução das contas domésticas, necessidade imposta a muitas famílias pelos aumentos de preços, depende de disciplina e engajamento.

Segundo o educador financeiro Reinaldo Domingos, ao passar um pente fino nas despesas, é possível economizar cerca de 30% no fim do mês.

Nas compras com alimentação, por exemplo, ele recomenda ir aos supermercados sempre com tempo disponível. “É preciso fazer uma compra de mais estruturada. Cerca de 90% das pessoas que vão ao supermercado não têm tempo para verificar os preços do que estão comprando”,diz.

Ele diz que é importante não ir às compras com fome para não cair em tentação. Outra ideia é experimentar novas marcas.

Outra recomendação é tomar cuidado com as compras de sapatos e bolsas. Fazer uma avaliação das peças que já existem no armário é um bom começo. “Se a pessoa fizer uma lista de quantos produtos tem no armário e ver o que é necessário, a resposta geralmente é: nada”.

Frutas e carnes caras

O item alimentos subiu 0,81% em fevereiro, índice menor que em janeiro, quando esta registrou alta de 1,48%, mas preços ainda estão altos.

As frutas registraram índice acima da média, de 2,63%. A secretária Cristiane Sá, 40 anos, tem dado preferência às frutas da estação para encontrar ofertas melhores. “Os preços estão tão altos que para não ficar sem, tenho recorrido às frutas da estação nos supermercados ou compro em camelô, que ainda tem um preço melhor”.

O turismólogo Leandro Leal, 32 anos, também sentiu o aumento na conta da feira. “Hortifruti não é mais sinônimo de frutas boas e baratas. Gosto muito de maçã verde e morango, porém não posso mais comprar”, afirma Leal.

Apesar da recomendação de pesquisar preços, ele diz que abandonou esta prática depois de constatar que a diferença é muito pequena e não compensa o trabalho. “Estamos deixando de comprar certas coisas e substituindo por outras não tão caras”, diz .

A carne, que encareceu cerca de 9% de um ano para cá, aumentou 1,02% em fevereiro.

Em casos pontuais, aumentos ultrapassaram 10%. Foi o caso do tomate, que subiu 12,35%, e do feijão carioca, que ficou 17,95% mais caro.

Custo da construção civil recua em fevereiro

O Índice Nacional da Construção Civil (Sinapi) ficou praticamente estável em fevereiro. Houve um recuo de 0,03 ponto percentual em relação a janeiro, de 0,21% para 0,18%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

O custo fechou em R$916,85 por metro quadrado. Dentro deste número, R$ 499,23 correspondem a gastos com material e R$ 417,62 à mão de obra. Os materiais de construção tiveram alta de 0,18%, ante 0,20% em janeiro. O custo da mão de obra também subiu 0,18% e teve desaceleração de 0,04 ponto percentual em relação a janeiro, quando este componente variou 0,22%.

Nos últimos 12 meses, a mão de obra acumulou variação de 7,77%. Já o material teve uma variação modesta, de 3,92%. Já nos dois primeiros meses do ano, o custo do primeiro item subiu 0,40%, enquanto o segundo teve alta de 0,38%.

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