Por bferreira

Rio- Cariocas estão recuperando um hábito antigo para fugir da alta dos preços nos supermercados. Com a inflação superando as estimativas do governo, puxada principalmente pelo valor dos alimentos, os consumidores voltaram a comprar em quantidade. Assim, aproveitam promoções e evitam encontrar produtos mais caros depois. Deste modo, o movimento estimula o crescimento do setor “atacarejo”, que vende tanto por unidade quanto em volume maior.

A diarista Maria Lucia Pereira aproveitou a Semana da Limpeza no Guanabara para estocar produtosFernando Souza / Agência O Dia

Pesquisa da consultoria Nielsen mostra que esse foi o setor que mais cresceu em 2014, com expansão de 9,7% nas vendas — contra 4,9% em todo o segmento de supermercados. Ainda de acordo com o estudo, as vendas dos varejistas chegaram a cair 0,7% em 2014.

Presidente do Assaí Atacadista, Belmiro Gomes afirma que os preços atrativos nas compras em quantidade são o diferencial. “Notamos uma mudança no hábito de compra do consumidor brasileiro e o segmento de atacado de autosserviço é uma alternativa para as pessoas que preferem fazer compras mensais maiores e em grupos, porque oferece preços competitivos na aquisição de grandes volumes. Mesmo em um cenário econômico não tão otimista, o setor consegue ter um desempenho favorável”, avalia.

CONSUMIDOR CONSCIENTE

Segundo o presidente da Associação de Supermercados do Rio (Asserj), Aylton Formari, em períodos de instabilidade econômica os consumidores ficam mais conscientes nas compras e buscam alternativas para economizar. “Embora continuem se alimentando normalmente, alguns optam por marcas mais baratas, outros aproveitam promoções e fazem estoque”, explica.

Consultor de varejo do Grupo Azo, Marco Quintarelli diz perceber um retorno ao hábito de comprar em quantidade, principalmente, no caso de produtos de limpeza e não perecíveis.
“Com a situação atual, de preços aumentando com muita rapidez, as pessoas têm que aproveitar as oportunidades. Mas é preciso comprar com consciência e estocar aqueles produtos de maior consumo e que são mais necessários”, avalia.

A pesquisa da Nielsen também mostra que os carrinhos de compras ficaram maiores no ano passado. As compras com valor acima de R$ 150 passaram de 53% para 62% do total. Essa tendência de comportamento faz com que mesmo estabelecimentos varejistas apostem nas compras em quantidade. É o caso do SuperPrix que oferece ofertas de “pague dois, leve três” no setor de bebidas. O Guanabara adotou a oferta, em que na compra de dois produtos de limpeza iguais o cliente leva outro diferente.

Consumidores voltam a fazer compras de mês

A diarista Maria da Penha Ramos, 47 anos, conta que voltou a fazer compras de mês desde que percebeu que o aumento de preços no supermercado passou a ocorrer com maior rapidez. “Faço uma compra grande uma vez por mês com os itens básicos e depois se preciso de algum outro produto compro durante a semana”, explica.

Colega de profissão, Maria Lucia Pereira, 45, também é adepta das compras de mês. Recentemente, ela foi ao Guanabara aproveitar a Semana da Limpeza. “No meio dessa crise, com preços muito altos, é bom poder comprar produtos mais baratos”, afirma.

Ela diz que pretende avisar aos patrões das residência onde trabalha sobre a novidade: “São casas muito grandes, comprar material para estocar é ideal”.

Inflação oficial está bem longe da meta

A inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) já acumula alta de 4,56% em 2015 e 8,17% nos últimos 12 meses, segundo o levantamento de abril. O percentual se afasta cada vez mais do centro da meta de 4,5% estabelecida pelo governo e até mesmo do limite, de 6,5%.

Em abril, a alta foi puxada pelo grupo Saúde e Cuidados Pessoais (1,32%) e logo em seguida pelo setor de Alimentação e Bebidas (0,97%). Liderados pelo tomate, cujos preços subiram 17,9%, vários alimentos tiveram aumentos significativos, como cebola (7,05%) e leite (4,8%).

O mercado financeiro espera alta de 8,31% do IPCA para este ano, segundo o último Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central.

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