Por felipe.martins

Rio - A conta de luz foi a grande vilã da inflação de maio. A correção das tarifas de energia elétrica este ano pesou diretamente no resultado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgado ontem pelo IBGE. O indicador oficial em maio registrou alta de 0,74%, com acúmulo de 5,34% entre janeiro e maio, o maior para o período desde 2003, quando ficou em 6,80%. Nos últimos 12 meses, a inflação bateu 8,47%, acima dos 8,17% do mesmo período de 2014. É a maior taxa desde dezembro de 2003, quando chegou a 9,30%.

Além da conta da luz, alimentos também pressionaram o bolso dos consumidores no mês passado. Os itens que mais subiram de preço nos cinco primeiros meses do ano foram cebola (35,59%), tomate (25,38%) e cenoura (15,90%).

“A energia elétrica que em 12 meses aumentou 58,47% no país foi o item que mais pressionou a inflação do mês passado. Podemos dizer que é uma inflação de energia elétrica basicamente”, afirmou Eulina Nunes, coordenadora de Índices de Preços do IBGE.

Juliana pagava até o fim de 2014 conta de luz que variava de R%24 100 a R%24 150. Agora o valor chega R%24300André Mourão / Agência O Dia

Com alta de 2,77%, a energia elétrica deu a maior contribuição individual sobre a inflação. No Rio, a correção das tarifas ficou em 38,26% este ano. Em 12 meses, a elevação das contas foi de 48,84% no estado. A média nacional foi de 41,94%, alta de janeiro e maio.

O resultado da inflação de maio surpreendeu. A elevação contrariou a estratégia do Banco Central de aumentar a taxa de juros para tentar domar a escalada dos preços no país. Na última reunião do Copom, a Selic subiu a 13,75% ao ano. O IPCA voltou a mostrar mais força do que se esperava após alívio em abril, quando subiu 0,71%. Com o movimento, o indicador fica bem acima do teto da meta do governo, de 4,5% com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos.

Em contrapartida, os custos dos serviços registram forte desaceleração ao subirem apenas 0,20% no mês passado, contra alta de 0,72% em abril. Segundo o IBGE, isso se deve à queda de 23,37% nos preços das passagens aéreas. Segundo Eulina, mesmo em um cenário de desemprego e renda menos favorável, o setor de serviços ainda não foi afetado.

O IBGE também divulgou ontem o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) que apresentou variação de 0,99% em maio. O indicador ficou acima do resultado de 0,71% de abril. Com este resultado, o acumulado no ano está 5,99%, bem acima do percentual de 3,52% registrado em igual período de 2014. Ao considerar os últimos doze meses, o índice acumula 8,76%, acima da taxa de 8,34% dos doze meses anteriores. Em maio de 2014, o INPC bateu 0,60%. O índice mede a inflação das famílias com renda de até cinco salários mínimos (R$ 3.940).

Os alimentos subiram 1,48% em maio, enquanto em abril a taxa foi de 0,96%. O agrupamento dos não alimentícios teve variação de 0,78% em maio, acima da taxa de 0,60% de abril.

Consumidores sentem gastos maiores diretamente no bolso

Os consumidores percebem na prática o que o IBGE constatou no levantamento da inflação do mês de maio. Para clientes de concessionárias de energia elétrica, a alta da conta vem exercendo forte pressão sobre o orçamento familiar nos primeiros meses do ano. A alimentação também influenciou os gastos. É o caso da técnica de telecomunicações Juliana Moju, 33 anos. Ela diz que pagava até o fim do ano passado conta de luz que variava de R$ 100 a R$150. “Mas este ano o valor já subiu para R$300. E olha que não estamos nem na estação mais quente. Não tenho ligado ar-condicionado à noite e o micro-ondas não fica na tomada. Eu, meu marido e filho passamos o dia todo fora, só estamos em casa à noite”, reclama.

Ela lembra também que não é só a conta de luz que consome boa parte de seu salário. Como alimentos em geral estão muito caros, ela optou por vender seu vale-refeição e usa o dinheiro para fazer compras no mercado. “Vendo meu tíquete e levo almoço para o trabalho”, comenta. Rojane Sophia, 55 anos, está tentando ajustar o orçamento. Pensa até mudar da atual residência de dois quartos para ter uma conta de luz mais baixa. O custo chega a R$ 250 por mês.


Taxa no cartão chega a 304% ao ano

Consumidores em geral e empresas estão pagando cada vez mais caro por usar o rotativo do cartão de crédito. Pelo oitavo mês consecutivo as taxas subiram, segundo pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças. Somente no cartão de crédito, os juros chegaram a 12,34% ao mês, o equivalente a 304,03% ao ano. É o maior nível desde março de 1999.

Para pessoas físicas, houve aumento nos juros do comércio; cartão de crédito rotativo; cheque especial; CDC-bancos-financiamento de veículos; empréstimo pessoal-bancos; e empréstimo pessoal-financeiras.
A doceira Ana Cristina Campelo, 52 anos, usa o cartão de crédito para comprar material e fazer seus doces. Ela vende os produtos em centros comerciais.

“Já cheguei a pagar o mínimo, mas hoje me organizo para pagar o valor total e em dia. Não tem como arcar com juros de mais de 300%. É inviável”, comenta Ana Cristina.

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