Por bianca.lobianco

Rio - Este primeiro semestre não foi fácil para a construção civil no Brasil. Juros altos reduziram a procura por financiamentos imobiliários e o corte no Orçamento da União atingiu principalmente as obras de infraestrutura. Há quem acredite que a estagnação é passageira, mas enquanto isso, a solução encontrada pelos empresários do setor para driblar a crise é aumentar os investimentos no exterior.

É o caso da SH, empresa que fornece fôrmas para concreto, andaimes e escoramentos metálicos. Presente em 11 estados do país, a companhia inaugurou recentemente sua primeira filial fora do Brasil, em Bogotá, na Colômbia.

'A ideia de apostar na Colômbia é poder fazer base para outros lugares%2C como Bolívia e Equador'%2C disse Luis Cláudio Monteiro%2C da SHArte O Dia

"A SH tem uma atuação abrangente em todo território nacional, mas em virtude da redução do ritmo da construção civil no Brasil faz sentido buscar outros mercados que apresentam perspectivas de curto e médio prazo melhores que a brasileira no momento”, explica Luis Cláudio Monteiro, gerente da fábrica da SH.

A nova filial será administrada pelo brasileiro Matheus Perié, enquanto a gerência comercial ficará sob a responsabilidade do colombiano Alexander Rodriguez. “Há semelhanças com os desafios que enfrentamos no Brasil. Enxergamos o mercado da Colômbia como uma possibilidade real de usar equipamentos que já possuímos e, no médio prazo, ter o resultado que alcançamos no Brasil”, comenta Perié.

A construtora e incorporadora mineira Direcional Engenharia também celebrou em março deste ano duas operações na Arábia Saudita em parceria com o grupo local Red Sea Housing Services para execução de empreendimentos populares.No Brasil, a empresa depende bastante do programa ‘Minha Casa, Minha Vida’, que sofreu cortes de R$ 5,6 bilhões no orçamento este ano.

Com 36 anos de operações fora do país, a Odebrecht hoje concentra a maior parte dos seus investimentos no exterior. “Em 2012, 55% do investimento da empresa já estava fora do Brasil. Em 2014, esse percentual passou para 70%”, explica Jayme Gomes da Fonseca, diretor financeiro da Odebrecht América Latina. A companhia está presente também nos Estados Unidos, Emirados Árabes, África e Portugal.

Para Fonseca, entre os principais empecilhos para o investimento no Brasil estão a dificuldade de conseguir licenças ambientais, a demora do BNDES em liberar financiamentos, e a burocracia, de um modo geral. “As obras no Brasil não acontecem por razões muito brasileiras. Há muitas dificuldades para financiamento e execução dos projetos”, afirma o executivo.

Outra grande empreiteira, a Andrade Gutierrez está presente em mais de 40 países na América Latina, Europa, África, Ásia e Oriente Médio. A atuação no mercado exterior já representa 37% do faturamento da empresa.

Presidente do Sindicato da Indústria de Construção Civil no Rio, Roberto Kauffmann reconhece que o momento é de dificuldades, mas acredita que seja uma “questão momentânea”. Segundo ele, há tentativa de atrair investidores estrangeiros para fazer parcerias aqui. “No Rio há muitas oportunidades ao longo dos corredores de mobilidade urbana e do Arco Metropolitano. A situação vai melhorar sensivelmente no segundo semestre”, aposta.

Funcionários encontram chance de trabalho fora do país

Para os funcionários, a ida de empresas de construção civil para o exterior pode significar uma oportunidade de trabalhar fora do país. Diretor financeiro da Odebrecht América Latina, Jayme Gomes da Fonseca conta que na fase de instalação da companhia em outros países, boa parte da mão de obra é levada daqui.

“Depois, a gente acaba desenvolvendo engenheiros locais, mas continuamos trabalhando com expatriados brasileiros. Até porque levamos daqui mão de obra qualificada, com tempo de casa, que leva a cultura empreendedora da empresa para fora”, explica o executivo.

No entanto, ao concorrer em nível global, os trabalhadores devem ter em mente que a qualificação se torna ainda mais importante agora. A SH, por exemplo, vai ocupar boa parte das suas vagas na filial da Colômbia com mão de obra local.

“Encontramos disponibilidade de bons profissionais com um custo inferior ao atualmente verificado no Brasil”, explica Luis Cláudio Monteiro, gerente da fábrica da companhia no Brasil.
Dados da Pnad Contínua, do IBGE, apontam para queda de 7,6% no número de trabalhadores ocupados na construção civil no primeiro trimestre.

Pessimismo cresce no setor

A 63ª Sondagem Nacional da Indústria da Construção Civil, feita pelo sindicato da categoria em São Paulo em maio, mostra que se agravou o pessimismo dos empresários do setor. A perspectiva de desempenho das empresas atingiu o menor nível em quase 16 anos, passando de 37,1 para 35,9 pontos — quedas de 3,2%, na comparação com fevereiro, e de 19,7% em 12 meses.

“As empresas vivenciaram forte crescimento até 2013 e muitas investiram com a perspectiva de que o desenvolvimento fosse mais sustentado. O cenário no curto prazo está deteriorado”, explica o presidente do sindicato, José Romeu Ferraz Neto. “Soma-se a isso a restrição ao crédito e o aumento da inflação e do desemprego”.



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