Rio - Os trabalhadores estão começando a sentir na pele os efeitos da crise econômica e do ajuste fiscal. Ontem, cerca de mil funcionários do Estaleiro Eisa Petro-Um (antigo Mauá), de Niterói, fizeram passeata em direção à sede da Transpetro, no Centro do Rio, para protestar contras as demissões e a paralisação das atividades por tempo indeterminado, anunciada na quinta-feira. Já os funcionários da Mercedes-Benz de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, rejeitaram a proposta da montadora para redução da jornada em 20% e dos salários em 10%, com estabilidade no emprego por um ano.
Ainda ontem, a Ford anunciou férias coletivas para 1,2 mil funcionários da unidade de Taubaté (SP). E na quarta-feira a Fiat também havia dado férias para 12 mil trabalhadores na fábrica de Betim, Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG).
Diretor do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Unicamp, o professor Anselmo Santos explica que ajustes fiscais como o que foi feito pelo governo têm como consequência uma diminuição do ritmo da economia, o que gera desemprego. “Esse tipo de ajuste provoca uma queda profunda do PIB (Produto Interno Bruto) ou, no mínimo, desaceleração do ritmo de crescimento do país. O resultado é um cenário de desemprego, que provoca aumento do pessimismo e redução do consumo”, avalia.
Na quinta-feira, o Estaleiro Eisa Petro Um comunicou aos trabalhadores a paralisação das atividades por tempo indeterminado alegando problemas financeiros. A mobilização dos metalúrgicos conseguiu nova negociação com a Transpetro e a Secretaria Geral da Presidência da República. Uma nova assembleia com a categoria está agendada para terça-feira. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Niterói e Itaboraí, durante as manifestações a empresa depositou um salário nominal de cada trabalhador demitido na semana passada. Sobre as indenizações das verbas rescisórias, o estaleiro ainda não se manifestou.
No caso da Mercedes-Benz, as negociações estão interrompidas, sem previsão de nova reunião entre metalúrgicos e empresa. Pelo acordo rejeitado, a jornada seria reduzida deste mês até junho do ano que vem, período em que também vigoraria a diminuição dos salários. Em maio, os trabalhadores teriam reajuste equivalente à metade da inflação. Haveria ainda estabilidade no emprego de 1º de agosto deste ano a 30 de julho de 2016. A Mercedes abriria novo programa de demissões voluntárias (PDV), direcionado a trabalhadores com direito a estabilidade e aposentados.
Suspensão de contratos
Em abril, a Ford de Taubaté demitiu cerca de 140 funcionários, que haviam tido contratos suspensos por cerca de cinco meses. Na ocasião, a montadora alegou que a medida ocorreu devido à redução no volume de produção.
Já a Volvo colocou 407 trabalhadores em ‘lay-off’ — suspensão temporária do contrato de trabalho — na última quarta-feira. A princípio, a suspensão durará cinco meses. Mas existe a possibilidade de a empresa estender por mais dois meses, como foi acordado em junho, no fim da greve dos metalúrgicos.Durante este período, os trabalhadores farão cursos de qualificação na fábrica, que fica na Cidade Industrial de Curitiba.
A Volkswagen, por sua vez, afastou mais 2.357 trabalhadores de sua fábrica no ABC paulista. Segundo o sindicato dos metalúrgicos da região, esse grupo se soma a outros 220 operários que já estão há um mês afastados, elevando para 2.577 o total de empregados suspensos, ou quase 20% dos aproximadamente 13 mil funcionários da fábrica.
Milhares em férias coletivas
A Ford anunciou ontem férias coletivas para 1,2 mil funcionários da unidade de Taubaté (SP). A medida atingirá os setores de administração e produção, e vale a partir do dia 13 de julho, com retorno das atividades no início de agosto. Segundo a empresa, as férias para os empregados da fábrica de motores serão concedidas entre 13 a 31 de julho. Já para os trabalhadores da fábrica de transmissões, o afastamento será no período de 20 a 31 de julho.
Segundo a montadora, a medida tem como objetivo adequar a produção à demanda do mercado. A unidade conta com cerca de 1,5 mil funcionários.
Já a Fiat colocou cerca de 12 mil trabalhadores em férias coletivas na última quarta-feira, na fábrica em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Durante o período, a produção de veículos fica suspensa. De acordo com a montadora, a medida também é para ajustar a produção e a demanda do mercado. Em março e maio, cerca de 2 mil trabalhadores foram afastados das atividades.
A Fiat conta com um quadro de cerca de 19 mil funcionários. As férias coletivas deste mês englobam trabalhadores da tanto da produção quanto do administrativo. Durante o período, apenas serviços de manutenção de equipamentos serão realizados na fábrica.