Por felipe.martins

Rio -  Neste ano, defender o emprego será mais importante do que conseguir ganhos salariais acima da inflação. Com a economia do país desestabilizada e o consumo reduzido, os níveis de desemprego tendem a subir. E fica mais difícil se reinserir no mercado após demissão. Mas, mesmo assim, grandes categorias que ainda não lançaram campanhas salariais estão dispostas a lutar para conseguir reajustes reais.

Crise na indústria naval piora expectativa de aumento Agência Brasil

Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio (Sindimetal-Rio), Alex Santos explica que a data-base é apenas em outubro, mas que as reuniões para elaborar as pautas de convenção coletiva já começaram. “Nosso foco é tentar reposição da inflação e algum nível de aumento real. Mas toda campanha salarial é difícil. E, para nós, não vai ser uma surpresa se os patrões não aceitarem. De qualquer forma, estamos trabalhando com a perspectiva de tentar. As dificuldades atuais não podem refletir na condição de vida e trabalho dos funcionários”, afirma Santos.

Para o diretor do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Unicamp, Anselmo Santos, as categorias devem avaliar bem o momento vivido por cada segmento antes de elaborar os pedidos. “O contexto é desfavorável por conta do aumento do desemprego, e do ajuste fiscal que o país está fazendo. Mas é preciso avaliar, pois mesmo com o país em crise, tem alguns setores que continuam bem”, ressalta o professor.

Esse é também o argumento de Lucas Ferreira, diretor do Sindicato dos Petroleiros do Rio (Sindipetro-RJ) para reivindicar aumento real. A entidade representa trabalhadores da Petrobras e de outras companhias de petróleo, como Chevron, Transpetro e Manguinhos. “A Petrobras continua produzindo bem, continua tendo lucro real. O mais importante é garantir o emprego, mas entrar na campanha salarial sem estar preocupado em conseguir aumento e melhores condições de trabalho é entrar muito fragilizado. Além disso, há alguns meses a empresa deu aumento para a alta administração. O cenário este ano é complicado, mas a gente tem que ir com tudo para garantir que tenha reajuste acima da inflação”, defende o sindicalista.

Presidenta do Sindicato dos Bancários do Rio, Adriana Nalesso também afirma que a lucratividade dos bancos será levada em consideração na elaboração das reivindicações. “O país está em crise, mas os bancos continuam superando a lucratividade do ano anterior. Pagam toda a folha de funcionários somente com receita de tarifas. Vamos pedir ganho real”, garante ela.

O percentual, porém, será decidido no fim de julho, após a conferência nacional da categoria. Este fim de semana, a regional do Rio se reúne para elaborar a proposta.

Bons resultados do ano passado não devem se repetir em 2015

O professor do Instituto de Economia da Unicamp Anselmo Santos observa que há categorias que vão precisar escolher entre defender o emprego e conseguir ganhos reais este ano. “Para o ano que vem, a expectativa é de que não há nada que possa melhorar. O cenário pode ser igual ou até pior. Não podemos contar com a recuperação da economia pelo cenário internacional nem pelo consumo. O segundo semestre é bastante complicado para pedir aumento”, reconhece.

Por isso, se ano passado 92% dos reajustes apresentaram aumento real, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), este ano a expectativa é bem diferente. O balanço dos primeiros seis meses só sairá em agosto, mas boa parte das categorias que já fizeram acordo coletivo tiveram reajustes próximos da inflação acumulada no ano (6,28%) e abaixo da alta de preços nos últimos 12 meses (8,80%).

Os funcionários da Casa da Moeda, por exemplo, tiveram aumento de 5,41%; e os funcionários das empresas aéreas, 7%. Já os comerciários levaram reajuste de 8,34%. Ano passado, as correções no Comércio, Indústria e Serviços se concentraram nas faixas de até 2% de aumento real.

Petroleiros pedem isonomia entre ativos e aposentados

Segundo Lucas Ferreira, diretor do Sindipetro, historicamente a categoria pede inflação, mais 10% de aumento real. “Mas as empresas têm dado apenas o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e aumento real na Remuneração Mínima por Nível e Regime (RMNR), que não contempla os aposentados”, explica o sindicalista.

No ano passado, petroleiros aposentados e pensionistas ocuparam o andar térreo do edifício-sede da Petrobras, no Centro do Rio, para reivindicar a incorporação de benefícios e vantagens concedidos aos funcionários da ativa. Na ocasião, o diretor da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), Edson Munhoz, informou que pelo 18º ano, a Petrobras aprovou aumento diferenciado para os funcionários da ativa.

Tudo indica que, caso a companhia mantenha essa postura nas novas propostas deste ano, os aposentados e pensionistas voltarão a se manifestar pela isonomia de direitos.

Estaleiro fecha as portas

A notícia do encerramento das atividades do Estaleiro Eisa-Petro Um (antigo Mauá), em Niterói, piorou as expectativas dos metalúrgicos com relação ao reajuste salarial para a categoria este ano. Na sexta-feira, trabalhadores da empresa receberam a notícia de que o estaleiro seria fechado e houve protestos. O Sindicato dos Metalúrgicos de Niterói e Itaboraí agendou para amanhã e terça-feira manifestações na sede da entidade para discutir os rumos do movimento em prol dos trabalhadores.

Segundo o presidente do sindicato, Edson Rocha, foram demitidos mil funcionários do Eisa-Petro Um, na terça-feira da semana passada. Na quinta-feira, era a data-limite para o pagamento dos demitidos, mas a empresa não honrou e, no final do expediente, os dois mil trabalhadores que ainda trabalhavam normalmente encontraram, na saída, a empresa sendo fechada com tapumes e a segurança patrimonial entregou um documento a cada trabalhador.

O Departamento Jurídico do sindicato informou que na sexta foi paga uma parcela das rescisões a alguns operários, embora não tivesse sido feita a homologação. Na carta circular distribuída aos operários, o estaleiro comunicou que estava atravessando uma crise financeira “cada vez mais profunda”.
E que o encerramento das atividades é momentâneo, até que se consiga achar uma saída que possa garantir as “mínimas condições de trabalho que todos merecem”.


“Bancos devem ter responsabilidade social”, diz Adriana Nalesso, do Sindicato dos Bancários

“Nós também queremos fazer a discussão sobre o papel do sistema financeiro no país. As pessoas estão sendo excluídas dos bancos, os clientes são direcionados a lotéricas para pagar as contas. Os bancários sofrem muita pressão por metas, têm que empurrar um monte de produtos aos clientes. O sistema financeiro precisa ter mais responsabilidade social e com o desenvolvimento do país.”

Você pode gostar