Por bferreira

Rio - Não bastassem as dificuldades comuns para alcançar o primeiro emprego, o jovem está precisando de bastante iniciativa e criatividade para encarar sua primeira crise econômica, apontam especialistas. De acordo com a última Pesquisa Mensal de Emprego, feita pelo IBGE, o total de jovens que procuram emprego com idades entre 18 e 24 anos apresentou intenso crescimento na comparação com trabalhadores de outras faixas etárias.

"Fiquei desempregada há quatro meses e ainda não encontrei nova oportunidade"%2C Bruna Faria%2C 23 anosMárcio Mercante / Agência O Dia

A taxa de desocupação entre esses jovens cresceu de 12,3%, em maio de 2014, para 16,4%, em maio deste ano, com uma variação bem maior do que o indicador de desemprego total do país. Para se ter uma ideia, de acordo com o IBGE, o desemprego no país, incluindo brasileiros de todas as idades, bateu em maio 10 pontos percentuais abaixo do indicador para os jovens.

Para Carlos Eduardo Pereira, psicólogo e consultor de carreiras do Bê-á-bá do RH, o fato do jovem de hoje não estar preparado para encarar o mercado de trabalho contribui também para esse cenário. Ele aponta que os que têm mais iniciativa estão partindo para o próprio negócio.

“Quem tem formação em novas tecnologia tem esse perfil, sabe que é um mercado que não sofre tanto em uma crise econômica e que apostar neste setor é o primeiro passo para empresas que pensam em investir em otimização de processos”, comenta Pereira.

Mariana Torres, gerente de desenvolvimento de carreiras do Senac Rio, diz que atividades voluntárias em geral e cursos extras de aperfeiçoamento são interessantes para quem está desempregado. “Mesmo as vagas de trabalho temporário não podem ser descartadas, pois um trabalho bem executado agrega valor àquele funcionário e deixa portas abertas para uma futura oportunidade”, aponta a especialista.

Bruna Faria tem 23 anos e está há quatro meses procurando emprego. Seu último trabalho durou apenas seis meses e a demissão aconteceu sem qualquer explicação. “Fui pega de surpresa”, afirma. Ela levou mais ou menos dois meses para conseguir agendar seu pedido de auxílio-desemprego, recorreu a freelancers em eventos para não atrasar as contas.

“É um trabalho cansativo, mas com o dinheiro que levanto ao mês, posso investir em um curso superior ou um técnico profissionalizante para tentar competir no mercado”, planeja.

O mesmo acontece com o casal Lorena Couto, 19, e Tamires de Souza, 20. Desde o início do ano, Lorena, que dá aulas para crianças até quatro anos, tenta voltar mercado de trabalho, mas, dos mais de 20 currículos distribuídos, nenhum deu um retorno positivo. “Estou procurando vaga em qualquer área agora”, diz.

Já Tamires, formada em fotografia, partiu para o serviço autônomo. Atualmente comercializa produtos com estampas personalizadas.

Atividade informal vira alternativa

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, outro levantamento do IBGE que acompanha as tendências do mercado de trabalho, também mostra que o cenário não é nada favorável ao trabalhador.

A taxa de desemprego nos últimos três meses, até maio, subiu para 8,1%. É a maior da série histórica desse outro indicador, que começou em 2012. No mesmo período em 2014, a taxa era de 7%.

Para Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, o índice de desocupação cresceu porque houve aumento na procura por empregos.

“O número de vagas oferecidas no mercado não acompanha esse aumento. O mercado fica pressionado. Há procura e não há vagas”, comenta Azeredo.

Segundo o coordenador, esse movimento de desocupação leva o trabalhador a duas opções: continuar a busca por um novo emprego ou seguir para o próprio negócio. Azeredo afirma que com isso aumenta o número da informalidade.

CARREIRA

CAPACITAÇÃO
Mariana Torres, gerente de carreiras do Senac Rio, acredita que o jovem precisa de capacitação para se inserir no atual mercado de trabalho. “O Senac conta com programas de gratuidade para cursos”, diz. Ela orienta os interessados que procurem a unidade mais próxima para mais esclarecimentos.

COMPORTAMENTO
A especialista em carreiras diz que mais do que um bom currículo, o candidato precisa saber como se comportar em uma entrevista de emprego, como se destacar em uma dinâmica de grupo, ou como se aproximar de um gestor para conversar sobre salário, por exemplo. “É importante que o candidato tenha um objetivo profissional, isso facilita a construção de sua carreira”, diz Mariana.

CURRÍCULO EM ALTA
“O currículo é o cartão de visitas do candidato. Precisa ser claro, objetivo, bem organizado, com um bom visual e ser curto”, orienta Mariana. A especialista diz que o documento não deve ter mais que duas páginas, “O recrutador quer, de pronto, entender o objetivo do candidato. Essa informação é muito importante”, comenta Mariana.

VAGAS DE EMPREGO
Para quem já tem alguma especialização e busca vagas na área, o Senac oferece também o Click Oportunidade. O aluno ou egresso pode cadastrar-se gratuitamente e concorrer à vagas. Mariana conta que o programa também oferece workshops e palestras sobre o universo do mercado de trabalho.

Reportagem de Paola Lucas

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