Rio - Em uma reunião há muito esperada — e cobrada — com o Sindicato dos Profissionais de Educação do Rio (Sepe) nesta sexta-feira, o prefeito Eduardo Paes voltou atrás de suas decisões e anunciou um ‘pacote de bondades’ aos professores da rede municipal, em greve há 16 dias. Depois de afirmar de maneira inflexível que iria descontar as faltas durante a paralisação, Paes aceitou devolver os valores abatidos e dar 8% de aumento à categoria (a partir de 2014). Ainda incluiu o Sepe no grupo de trabalho que vai elaborar o plano de carreira dos servidores do setor.
As negociações assinalam para o fim da greve, o que será definido em assembleia entre educadores, na segunda-feira, às 10h. O acordo foi feito depois de mais de duas horas de reunião entre Paes, a secretária de Educação, Cláudia Costin, o secretário da Casa Civil, Pedro Paulo, e sete membros do Sepe, na sede da prefeitura, na Cidade Nova.
Na segunda-feira, às 16h, haverá a primeira reunião do grupo de trabalho, com a presença do sindicato, que considera sua inclusão uma vitória. “Pela primeira vez o Sepe foi reconhecido como representante legal dos professores”, comemorou a coordenadora-geral Ivonete Conceição.
Para Pedro Paulo, a tendência é o fim da paralisação: “As mudanças foram positivas e o encaminhamento do Sepe é para a suspensão da greve”. Já na terça, o sindicato vai se reunir com a secretária de Educação, Cláudia Costin, para discutir a pauta pedagógica e o calendário escolar.
Segundo a coordenadora do Sepe na capital, Rosilene Almeida, mesmo que a paralisação acabe, os educadores entrarão em “estágio de greve”: “Se a prefeitura não cumprir o acordo, voltamos com a paralisação”. Para ela, o atendimento de parte das reivindicações não vai desmobilizar a classe: “Houve avanços, mas agora a gente tem que participar do grupo de trabalho e fazer com que o plano de carreira seja o mais próximo do que a gente reivindica”.
As conquistas da categoria
Desde o início da greve, no dia 8, os professores pleiteavam um reajuste de 19%, plano de carreira unificado, um terço da carga horária para planejamento, participação do sindicato no grupo de trabalho para elaboração do plano de carreira, autonomia pedagógica, entre outras reivindicações.
Na reunião com a prefeitura, foram determinadas as seguintes mudanças: aumento de 8% no piso salarial de cada categoria (incluindo merendeiras, serventes, inspetores e professores, entre outros cargos), participação do Sepe no grupo de trabalho, abono das faltas nas paralisações promovidas pelo Sepe, desde 2009 e devolução de valores às faltas descontadas em greves promovidas este ano pelo Sepe.
Apesar da negociação favorável, apenas a assembleia que será realizada na segunda-feira entre professores e membros do sindicato baterá o martelo sobre o futuro da greve.
Vereadores querem participar de grupo de trabalho
Antes da decisão de incluir o sindicato no Grupo de Trabalho, o vereador Reimont (PT), presidente da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Vereadores, encaminhou um ofício ao prefeito, solicitando a participação do Sepe no grupo.
O documento propõe uma mesa de negociações permanentes e que o grupo de trabalho criado para elaborar o plano de carreira também inclua o Conselho Municipal de Educação e a Comissão Permanente de Educação e Cultura da Câmara. A solicitação foi assinada por 16 vereadores.
Na quinta, o Tribunal de Justiça do Rio concedeu liminar a professores da rede estadual em greve, impedindo o corte de ponto. Já o pedido de liminar para suspender o corte do ponto dos professores do município foi negado pela Justiça. O sindicato recorreu da decisão e o recurso ainda não foi julgado.
EDUCADORES DÃO UMA LIÇÃO EM MANIFESTAÇÃO
Enquanto as negociações aconteciam na sede da prefeitura, do lado de fora cerca de cinco mil professores e profissionais da área protestavam para pressionar o governo. A concentração começou às 9h, e, por volta das 14h, eles seguiram para a Cinelândia, pela Avenida Presidente Vargas.
A pista lateral da via foi fechada, no sentido Candelária, na altura da Avenida Passos. Houve retenção no trânsito e agentes da CET-Rio desviaram o tráfego pela Rua do Teleporto, para que os motoristas seguissem na direção da Rua Benedicto Hipólito.
Ainda em frente à prefeitura, os educadores comemoravam a primeira reunião com o prefeito: “É uma conquista. O prefeito dizia que não ia nos receber. Agora, durante a reunião, falou que nossa mobilização o fez voltar atrás, e que ele respeita nossa manifestação”, disse um dos manifestantes, no carro de som do sindicato. Os educadores também questionavam a falta de autonomia.
“Quem sabe do que o aluno precisa e suas dificuldades somos nós, professores. Mas estão tirando isso da gente”, reclamou o professor de educação Física, Marcelo Souza, 35. “Isso vai desde o material pedagógico até a forma que devemos tratar nosso alunos”, disse Ana Martins, 36.