Rio - Policiais militares que estavam dentro da Câmara Municipal entraram em confronto com integrantes do Black Bloc, após parte do grupo pichar o muro com frases diversas e forçar a entrada da Casa pela entrada lateral, na Rua Evaristo da Veiga, por volta das 20h desta segunda-feira. Os policiais lançaram bombas e balas de borracha em direção aos ativistas, que resistiram com palavras de ordem e, usando bandeiras, quebraram vidraças do local. Pontos de ônibus foram depredados e há diversos focos de incêndio no trecho.
Os manifestantes também fizeram barricadas de lixo e atearam fogo a elas, além de lançar fogos de artifício nas entradas da Câmara. Outros retiraram tapumes para usar no confronto com os PMs e deprederam bancas de jornal, lojas e agências bancárias, roubando, quebrando e incendiando monitores, na altura da Rua 13 de Maio. Policiais militares do Batalhão de Choque avançaram com bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha.
Na Rua Senador Dantas, os Black Blocs tacaram fogos de artifício contra PMs, que revidaram com balas de borracha e bombas de efeito moral. A energia elétrica do local está oscilando. Os ativistas correram para a Cinelândia, onde mais bombas foram lançadas. Por volta das 20h35, a praça ficou praticamente vazia. Muitos manifestantes correram para a Avenida Rio Branco no sentido Aterro do Flamengo. Outros ativistas se retiraram quando a chuva voltou a cair no Centro. O Metrô Rio informou que penas o acesso Odeon está aberto na estação Cinelândia.
Milhares nas ruas contra a truculência da PM e falta de iniciativas do poder público
Milhares de manifestantes chegaram à Câmara Municipal, na Cinelândia, na noite desta segunda-feira, em protesto contra a truculência da Polícia Militar e à falta de iniciativas efetivas do poder público para melhorias definitivas na situação dos professores e das escolas da cidade e do estado. A praça da Cinelândia e as escadarias da Casa estão tomadas por ativistas, bem como as escadarias do Teatro Municipal. Não há cordões de isolamento e parte do comércio do Centro fechou.
Alguns presentes soltaram fogos, cantaram palavras de ordem e índios da Aldeida Maracanã fizeram uma fogueira. Apenas um carro da PM continua acompanhando o ato, no entorno da Câmara, cujas entradas foram fechadas. Alguns funcionários ainda deixam o local e policiais permanecem dentro da Casa. Outro bloco do protesto marcha na Avenida Rio Branco e o ato segue sem registrar confusões. O prefeito Eduardo Paes informou que vai receber representantes da educação, entre professores e diretores das escolas municipais, no Palácio da Cidade, às 10h desta terça-feira.
O deputado estadual Marcelo Freixo esteve presente no meio dos manifestantes e foi cumprimentado por vários. "Ninguém aceita mais que o professor seja tratado com bordoadas ou da forma vem sendo tratado pelo governo. A classe não merece isso e a população está abraçando o movimento. O manifesto é um ato é um ato de apoio a educação", disse.
Estão presentes, principalmente, profissionais das redes estadual e municipal e alunos. Carregando faixas e cartazes, os ativistas não desanimaram com a chuva que caiu sob a cidade no começo da noite. Um grupo de black blocks permanece à frente do protesto. Por volta das 19h20, o clima ficou tenso no local. Duas bombas foram lançadas onde não havia manifestantes. Ativistas vaiaram os policiais militares que se aproximaram.
Um grupo de 30 PMs andaram da Rua Evaristo da Veiga, mas recuaram após integrantes do Black Bloc, cerca de 400, ocuparem a via. Parte dos policiais está em frente ao quartel na Evaristo da Veiga e outro grupo seguiu em direção à Câmara.
Diversas vias ficaram interditadas para a passagem do protesto. A Rua Pio XI e o acesso à Rio Branco, bem como quatro pistas da Avenida Presidente Vargas, no sentido Candelária, ficaram fechadas até a altura da Rua Primeiro de Março. Agentes da CET-Rio e Guarda Municipal controlam o tráfego nos trechos. A Avenida Rio Branco foi liberada até a altura da Presidente Vargas e, por volta das 19h50, interditada novamente.
TJ negou recurso de professores contra liminar que determinou volta ao trabalho
O Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ) decidiu nesta segunda-feira, por maioria de votos, negar o recurso do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio (Sepe) contra a liminar que obrigou os professores da rede municipal a voltar a trabalhar, sob pena de multa diária de R$ 200 mil.
A decisão do Órgão Especial foi tomada seguindo o entendimento do relator, Antônio Eduardo Ferreira Duarte, que, em seu voto, argumentou que “a conduta da categoria, ao manter o estado de paralisação, gera inúmeros prejuízos e afeta mais de 600 mil alunos da rede pública de ensino, restando configurado o abuso do direito”.
Em seu voto, o magistrado também autorizou o município, se este assim achar conveniente, a cortar o ponto dos grevistas a partir do dia 3 de setembro, data em que o Sepe/RJ foi intimado da liminar.
Na sessão de hoje, o Órgão Especial decidiu também, por sugestão do desembargador Henrique Figueira, que o TJRJ deve realizar uma audiência de conciliação e instrução entre o sindicato e o município, em data ainda a ser marcada. O mérito da ação, sobre a legalidade ou não da greve dos professores, ainda será analisado. Até o momento, foi apreciado apenas o agravo regimental
80 mil confirmaram presença na Internet
A repressão dos protestos pela educação do Rio causou uma reação imediata na Internet. Neste clima, quase 83 mil pessoas confirmaram presença no principal evento que chama a população para a manifestação de apoio aos educadores. "Esse ato é em apoio à luta dos profissionais de educação e do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação - SEPE. Eles são os protagonistas dessa luta e nos ajudarão a formular a pauta. Se você é contra a greve dos professores, não entende sua função na luta por uma educação de qualidade e não entende o direito dos professores de fazerem greve, talvez esse ato não seja para você", diz o texto do evento. Confira abaixo as pautas do protesto.
Pauta da educação municipal:
1 - Pelo cancelamento imediato da votação do Plano de Cargos, Carreiras e Salários votado no dia 1º de outubro, à portas fechadas e sem diálogo com a categoria.
2 - Pelo direito a manifestação dos profissionais de educação.
3 - Contra o Projeto meritocrático e neoliberal de Eduardo Paes para a educação.
4 - Por um Plano de Cargos discutido com a categoria e que represente todos os profissionais da educação.
Pauta da educação estadual:
1 - Plano de carreira para funcionários.
2 - Uma matrícula, uma escola - que cada professor se dedique a uma escola.
3 - Um terço da carga horária para planejamento de aulas.
4 - Gestão democrática com eleição direta para diretores.
5 - Fim dos exames meritocráticos(SAERJ)
Pautas gerais:
- Mais democracia, menos violência policial e pela liberdade de manifestação.
Beltrame reconhece excessos
O secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, reconheceu no último sábado que houve excessos por parte da PM na manifestação dos professores ocorrida no último dia 1º, durante votação do Plano de Cargos e Salários do magistério municipal pela Câmara dos Vereadores.
“Na minha opinião, em alguns casos, principalmente os que estão revelados publicamente, houve excessos. Mas também tenho que dizer que se houve intransigência e excessos dos policiais, isso veio de duas partes, da polícia e de alguns manifestantes. Nós temos 15 pessoas que precisaram de atendimento médico, nove delas são policiais. Houve, sim, preliminarmente, excesso dos policiais, mas esse excesso veio também, por vezes, dos dois lados”, disse Beltrame, em conversa com jornalistas, durante evento de ação social, no Jacarezinho, na Zona Norte.
Além de diversas cenas de violência policial contra os representantes dos professores e também de manifestantes ligados aos black blocs, imagens mostradas posteriormente comprometeram a PM, como a de policiais alegando injustamente que um jovem carregava um morteiro em sua mochila, um outro policial flagrado em cima do prédio da Câmara jogando objetos contra os manifestantes e a foto de um PM no Facebook, mostrando um cassetete quebrado com a legenda “foi mal fessor”.
“Os três casos estão sendo analisados. Não estamos em uma ditadura. Não se pode, através de uma fotografia, expulsar um policial. A imagem é importante, ela fala por si, mas não se pode sumariamente demitir ou fazer uma punição a um policial. Não quero, absolutamente, defender policiais, até porque já expulsamos mais de mil e quinhentos”.
Beltrame disse que a polícia vai agir para preservar o direito de manifestação dos professores, mas o secretário não quis garantir que equipamentos como gás e balas de borracha não serão utilizados.
“A polícia está ali para garantir a manifestação. Os equipamentos de uso, como gás e bala de borracha, acreditem os senhores, são um avanço. Porque anos atrás você tinha o cassetete e o escudo. Hoje você tem outros equipamentos. A questão toda é: quando, como e por que usar esses equipamentos. Se uma manifestação ocorrer pacificamente, a polícia militar está ali para garantir isso. A manifestação é do processo democrático e a obrigação da PM é garantir isso.”