Rio - A greve dos profissionais de ensino da Prefeitura do Rio acabou ontem, após 79 dias de paralisação. As aulas voltam na próxima terça-feira, já que segunda é feriado pelo Dia do Servidor Público. A categoria também decidiu promover uma passeata no próximo dia 28, a partir das 17h, da Candelária a Cinelândia, no Centro do Rio.
A assembleia foi marcada por confusão entre os participantes. Duas pessoas foram retiradas do Ginásio do Clube Municipal, na Tijuca, local da reunião, acusadas de estarem infiltradas entre os servidores. Outro momento crítico foi a agressão de um suposto professor em uma aluna da Escola Municipal México, em Botafogo, durante os discursos sobre o término ou não da greve. A aluna foi identificada como Claudia, de 35 anos. O professor teria ficado aborrecido por ela não ter mantido o silêncio durante a explanação de um outro docente. Claudia ficou com um corte na cabeça, mas foi atendida e retornou à assembleia. O suposto professor se retirou e não voltou.
Foi necessário contar os votos em grupos para definir os rumos da greve. Nas duas tentativas de votar visualmente, não foi possível já que a base do Sepe (Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio) estava dividida. A contagem final foi de 1.085 a favor da suspensão da greve e 888 contra o término.
Segundo Gesa Linhares, da coordenação do Sepe, a categoria vai sair da greve, mas continua achando que o plano aprovado na Câmara de Vereadores não atende aos pleitos. E que é necessário manter a vigilância sobre os pontos que foram acordados no Supremo Tribunal Federal (STF) para ter certeza de que serão cumpridos pela Prefeitura do Rio.
Em nota, a Secretaria Municipal de Educação informou que “recebeu com satisfação a decisão da assembleia dos profissionais da educação de encerrar a greve”. A pasta ressaltou que todos os acordos firmados pela prefeitura com o sindicato serão cumpridos, “como já vinha sendo feito desde o início das negociações”. A SME também agradeceu aos professores que “continuaram trabalhando apesar da greve”.
“Ele sente falta dos coleguinhas”
Cuidadora de crianças há 15 anos, Marta de Souza Braga, 42 anos, contou que chegou a cuidar de 23 pequenos alunos durante a greve em um só dia, na comunidade Gardênia Azul. “Tive que recusar muitas crianças, pois não teria como cuidar de todas. Segundo Marta, os preços variam de acordo com o tempo de permanência, de R$150 a R$ 250.
A mãe do pequeno Gabriel, de 6 anos, Meire Ramos, 36 anos, foi uma das pessoas que bateram à porta de Marta. “Tive que desembolsar R$ 250 por mês para que a cuidadora ficasse com o meu filho. A cada dia eu pensava quando a greve ia acabar. O Gabriel adora a escolinha dele, sentiu muito a falta dos coleguinhas e das tias. Todo dia o meu filho me perguntava “mamãe, quando vou voltar pra escolinha?”.
Estudante da rede municipal, Hanna Gabriela Marques, 13, conviveu com outras crianças atingidas pela greve na casa de Jaqueline Marques, 33 anos, que cuidava delas. “Esse tempo sem aula vai prejudicar a gente. Acho que no final, os professores vão passar todo mundo. Minha mãe prefere que eu repita e eu concordo que seria melhor para fixar o conteúdo.”
Aulas até janeiro de 2014
Segundo a Secretaria Municipal de Educação, caberá à direção de cada unidade escolar dimensionar as ausências ocorridas e elaborar seu plano de reposição. Haverá de aulas adicionais de duas formas: a partir do plano específico de cada escola e uma recuperação emergencial de aprendizagem por meio de intensificação do reforço escolar para os mais prejudicados. Haverá ainda leitura e dever de casa com material preparado para essa reposição, além de aulas da Educopédia.
Poderá ser usada a semana prevista para o período de recesso do mês de dezembro de 2013, os sábados e os dias em que não estejam previstas atividades regulares nas unidades escolares, horários vagos na grade escolar e também o mês de janeiro de 2014.
No Estado do Rio, não haverá, em princípio, reposição aos domingos.
PONTOS APROVADOS DURANTE A GREVE
AUMENTO DE 8%
Os professores e funcionários administrativos da Secretaria Municipal de Educação ganharam 8% de aumento este mês, além dos 6,75% que foram pagos a todo o funcionalismo municipal em agosto.
EQUIPARAÇÃO
Os Professores 2 e Professores da Educação Infantil tiveram a hora-aula equiparada aos Professores 1. A correção equivale a aumento entre 53,5% e 62,1% ao final de cinco anos, sendo pago também a aposentados e pensionistas. A primeira parcela será creditada em 2014.
ADMINISTRATIVO
O pessoal do quadro administrativo terá aumento entre 15,3% e 44,6%.
QUALIFICAÇÃO
Foi criado um adicional de qualificação para os servidores de apoio da Educação (Merendeiras, Agentes Educadores, Inspetores de Alunos, Serventes e outros).
FORMAÇÃO
Será concedido adicional de formação para os docentes que fizerem pós-graduação, Doutorado e Pós-Doutorado.
TRIÊNIOS
O plano aprovado na Câmara de Vereadores também garante a manutenção dos triênios aos servidores.
ENTRE NÍVEIS
A Prefeitura do Rio manteve o aumento de 4% entre os níveis da carreira do Magistério. O Sepe exigia 15% de aumento a cada elevação.
SEM RETIRADA
No acordo entre o Sepe, Prefeitura do Rio e Supremo Tribunal Federal, os dirigentes não conseguiram derrubar o plano de cargos e salários aprovado na Câmara de Vereadores. O Sepe exigia a retirada do texto para suspender a greve.
FALTA ABONADA
A Secretaria Municipal de Educação se comprometeu no STF a abonar as faltas e devolver os valores descontados na folha de pagamento.
PROCESSO ARQUIVADO
Também serão arquivados os processos administrativos, inquéritos e sindicâncias instaurados contra servidores que aderiram à greve.