Por bferreira

Rio - Saem as carteiras enfileiradas, cadernos e quadros-negros. Entram mesas redondas, notebooks e lousas digitais. Na primeira escola tecnológica no Município do Rio, em funcionamento há um ano na Rocinha, não há salas de aula. Os alunos se dividem em times e ficam distribuídos em dois grandes salões, num ambiente sem paredes e repletos de pufes no chão.

Alunos de séries diferentes se dividem em times e estudam em horário integral%2C em dois grandes salões%2C num ambiente sem paredesDivulgação

As três únicas séries da unidade — sétima, oitava e nona — estudam juntas, em horário integral, com apoio de mentores, em vez de professores. Toda a inovação do Ginásio Experimental de Novas Tecnologias Educacionais (Gente) existe para conquistar um único objetivo: a autonomia do aluno.

"Ele fica livre para criar seu método de estudo e, com isso, adquire responsabilidade”, diz a coordenadora pedagógica da instituição, Renata Martielo, à frente da unidade desde a criação.

O lema no Gente é não ter rotina. A cada aula, os alunos ficam à vontade para sentar em qualquer uma das quatro mesas redondas com seis lugares. Em cada salão, cinco mentores são encarregados de orientar os estudantes, que usam a ‘educopédia’ — plataforma digital com videoaulas, jogos e animações — em vez de cadernos.

As clássicas avaliações no papel não existem. Na escola, a ‘máquina de testes’ causa sensação. Pelo computador, alunos fazem avaliações semanalmente de cada disciplina. Se o jovem errar a mesma questão duas vezes, o teste é bloqueado, e ele é direcionado à revisão de todo o conteúdo. “Por ali sabemos qual é o conteúdo que ele tem mais dificuldade”, completa.

Além das matérias regulares, cada jovem pode escolher uma das seis disciplinas eletivas: robótica, ginástica rítmica, natação, teatro, produção de videoclipes e cinema. No próximo semestre, outras serão incorporadas.

Método de ensino já foi conhecido por 300 profissionais e exportado

O espaço físico e a metodologia de ensino do Gente estão sendo exportados para fora do país. No ano passado, a instituição recebeu quase uma visita por dia. “Tivemos a presença de mais de 300 profissionais da Educação na escola. Desde o ministro da Educação do Equador até professores da Finlândia”, orgulha-se o relações públicas da Secretaria Municipal de Educação, Cristiano Americano.

Na quinta-feira passada, um grupo de seis professores de Brasília viajou até a Rocinha só para conhecer o colégio. “Dá para copiar várias propostas pedagógicas, como a forma de sentar em círculo e não em fila”, conta Fabiana Queiroz, professora de Espanhol do Centro Interescolar de Línguas do Distrito Federal.

Duas escolas municipais do Rio — a Bolívar, no Engenho de Dentro; e a Epitácio Pessoa, no Andaraí — já começam a importar a infraestrutura do Gente. Ambas derrubaram as paredes e criaram salões em vez de salas de aula.

Para o idealizador do Ginásio, o ex-subsecretário de Novas Tecnologias, Rafael Parente, a escola da Rocinha é a tendência do futuro. “O modelo atual é muito fracassado e o Gente vem como uma alternativa para estimular o interesse dos alunos”, afirma.

Redes sociais não podem ser usadas nas aulas

No Gente vale tudo menos navegar no Facebook. Por conta do mau comportamento de alguns alunos, as redes sociais foram vetadas neste ano. “Foi muito doloroso ter que bloquear o Facebook porque queríamos trazer as redes sociais para o ambiente escolar, mas não deu certo. Eles ficavam navegando escondido e isso atrapalhava o rendimento”, explica a coordenadora Renata.

Outro artifício adotado pela unidade para combater os alunos bagunceiros foi a filmagem das aulas. “Os mentores filmam e depois mostram o vídeo para a classe. É impressionante, pois os próprios colegas apontam aquele que tem mau comportamento. Isso é autonomia com responsabilidade”, acrescenta a coordenadora.

Nas assembleias semanais de alunos, professores e diretores, todos passam uma hora debatendo sobre a escola. O evento começa com a distribuição de um papel em branco em que os jovens escrevem o que elogiam, criticam e solicitam do colégio. Nas reclamações, há desde a porta do banheiro quebrada até a desorganização na hora da saída.

“Vimos que as queixas dos alunos são coisas que eles provocam. O bom do debate é que eles acabam percebendo o próprio equívoco”, conta a pedagoga.

Entre as dezenas de elogios, estudar numa escola de referência mundial e a tecnologia são os itens mais citados por eles.

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