Por thiago.antunes

Rio - Na matemática do ensino público fluminense, o resultado é inversamente proporcional à riqueza do município. Na ponta do lápis, quanto maior a receita de royalties recebida pelas prefeituras pior tem sido o desempenho escolar medido pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

Apesar do dinheiro que jorra do petróleo, os 20 municípios mais ricos, encabeçados por Campos, que tem a maior participação em royalties, não conseguiram alcançar média 6 no Ideb, indicador de qualidade do Ministério da Educação (MEC), que oscila numa escala de 0 a 10. Os dados estão no Anuário de Finanças Fluminenses.

A rede municipal de Rio das Ostras é a única%2C entre as cidades com mais de R%24 100 mi em receita do petróleo%2C que se destacou entre as 20 prefeituras com melhores índicesDivulgação

Lição que essas cidades ainda não aprenderam com as pequenas prefeituras do interior. Como é o caso de Comendador Levy Gasparian, cidade no Centro-Sul fluminense, com 8 mil habitantes. Sem receber um centavo de royalties, ela obteve o melhor Ideb do estado, 6,5, contando apenas com recursos próprios. Depois de Levy Gasparian, as três melhores redes municipais de educação — Paty do Alferes (6,2), Mendes e Santo Antônio de Pádua (ambos com 6) — recebem juntas R$ 21 milhões do petróleo.

O caso mais espantoso é o de Campos. Nos últimos seis anos, a receita em royalties do município pulou de R$ 847,86 milhões para R$ 1,3 bilhão. No mesmo período, o gasto anual por aluno subiu muito pouco — de R$ 4.457,40 para R$ 5.281,16. Valor até menor do que o investimento feito por Mendes: R$ 5.530,47, cidade que recebe somente R$ 6,35 milhões do petróleo.

Receita obtida por prefeituras não melhora o ensinoArte%3A O Dia
Receita obtida por prefeituras não melhora o ensinoArte%3A O Dia

Ao longo desse período, o Ideb de Campos pouco variou: passou de um sofrível 2,9, em 2007, para 3,9, em 2013, o terceiro pior desempenho entre os 92 municípios, só comparável à média de estados pobres como Acre e Sergipe. Procurada, a Secretaria Municipal de Educação de Campos não comentou os resultados.
Para o pesquisador da Universidade Federal Fluminense (UFF), Nicholas Davies, o volume de recursos aplicados na Educação tem pouca influência na qualidade do ensino.

“Infelizmente não é um problema exclusivo da educação. É da administração pública como um todo. Uma prefeitura pode ter muito dinheiro e desperdiçá-lo por má gestão ou desviá-lo por superfaturamento”, critica. Segundo o levantamento feito pelo educador, Niterói tem a terceira maior despesa por aluno — R$ 9.358,52 —, R$ 100 milhões de royalties e o 56º lugar na avaliação do Ideb no primeiro segmento (1º ao 5º ano). Embora tenha subido de 4,6 para 4,7, as turmas de 5º ano não alcançaram a meta de 5 pontos. “Não adianta gastar mais se não há resultado nos indicadores de Educação. Se não há compromisso com o que é público, é jogar dinheiro fora”, garante Davies.

Em Levy Gasparian%2C estudantes fazem simulados desde o 2º anoDivulgação

Parceria com as famílias, simulados e horário integral

Na Escola Municipal São João Batista, em Levy Gasparian, os 610 alunos passam a maior parte do dia na unidade, onde fazem três refeições. A receita do saboroso sucesso da escola, cujo Ideb saltou de 5,4 para 6,9, em 2013, foi despertar nos estudantes a fome pelo conhecimento.

“Nossos alunos fazem simulados desde o 2º ano e recebem reforço em Matemática e Português. Nós cobramos resultado dos professores, e eles, por sua vez, cobram da turma”, ensina a diretora Adriana Berião Sedócio, que atribui o desempenho acima da média à parceria entre escola e família. “Os pais são muito presentes. Isso faz toda a diferença”, reconhece Adriana.

A rede de Campos teve desempenho de estados pobres como o AcreDivulgação

Além disso, os professores têm um dia livre na semana para ficar em casa planejando as aulas. “Os alunos ficam mais satisfeitos em estudar numa escola limpa, bem cuidada, refrigerada e onde todos estão comprometidos com o seu aprendizado”, diz a secretária de Educação, Ana Paula Azevedo.

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