São Paulo - O número 42 da rua Dom Sebastião, na Vila Brasilândia, zona norte de São Paulo, recebe agora olhares curiosos de vizinhos e moradores do bairro. A casa que teve o muro e o portão pichados foi palco do assassinato de uma família de policiais militares, cujo principal suspeito é o filho, de apenas 13 anos. Na residência dos Pesseghini, pai, mãe, avó e tia foram mortos antes do suposto suicídio do garoto. Outros imóveis também ficaram marcados por crimes que chocaram a opinião pública no País. Por conta disso, acabaram abandonados ou comprados por preços bem abaixo do seu valor. E os novos proprietários preferem manter o anonimato.
São vários os exemplos recentes de vítimas que tiveram a vida interrompida dentro da própria casa. O iG visitou alguns imóveis, como os das famílias Nardoni, Matsunaga e Von Richthofen. Veja abaixo:
Richthofen - A casa onde morava Manfred e Marísia von Richthofen, na rua Zacarias de Góes, no Campo Belo, zona sul de São Paulo, é um exemplo emblemático. Logo após o casal ser assassinado, em 2002, a residência foi pichada com frases ofensivas à a filha do casal, Suzane von Richothofen, condenada a 39 de prisão por participação na morte. Desde então, a mansão segue vazia. Mas, 11 anos depois, carros que passam pela rua ainda diminuem a velocidade quando chegam em frente à fachada. Com o tempo e a ajuda dos vizinhos, no entanto, a casa passou a chamar menos atenção.
Peukert - Um crime - pouco conhecido entre a geração que nasceu depois dos anos 1990 - ocorreu na rua José Vieira Netto Leme, na Vila Santa Catarina, zona sul da capital paulista. A casa de número 47 continua até hoje estigmatizada por uma chacina de 1985. Na época, Roberto Agostinho Peukert, então com 18 anos, matou o pai, 46 anos, funcionário da Mercedes-Benz; a mãe, 42, operadora bilingue da multinacional ZF do Brasil; a irmã, Cristina, 16; e os irmãos, Paulo, 17, e André, 8, com tiros e golpes de facadas depois de uma discussão por conta do som alto. Em seguida, Robertinho, como era chamado, colocou os corpos no carro e abandonou o veículo próximo ao Cemitério de Congonhas. Um casal morou no local na década passada. Mas a casa ficou alugada por um pouco mais de um ano.
Nardoni - A morte da menina Isabella Nardoni chocou o País. Ela foi atirada da janela do 6º andar do apartamento que pertencia ao casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá em 2008. Ambos, pai e madrasta, foram condenados a, respectivamente, 31 e 26 anos de prisão. O imóvel no edifício London, na rua Santa Leocádia, zona norte de São Paulo, ficou vazio até o começo deste ano. Os novos proprietários, "sem filhos" segundo os vizinhos, querem ficar no anonimato.
Matsunaga - Ano passado, foi a vez do edifício Roma, na rua Carlos Weber, Vila Leopoldina, na zona oeste da cidade de São Paulo, ficar conhecido por um crime passional. Em uma das coberturas do prédio, em maio de 2012, o ex-diretor da Yoki Marcos Kitano Matsunaga foi assassinado e esquartejado pela sua mulher. Ré confessa, Elize Matsunaga foi presa e o apartamento, até hoje, está vazio. Após a repercussão na imprensa, a placa com o nome do condomínio foi retirada na tentativa de chamar menos a atenção dos curiosos.
Rua Cuba, 109 - Um assassinato que entrou para a história da crônica policial brasileira foi o caso da rua Cuba, no Jardim Europa, zona central da capital paulista. O assassinato do casal Maria Cecília e Jorge Toufic Bouchabki marcou tanto a casa número 109 que o episódio é mais lembrado pelo endereço do que pelo nome da família envolvida. Na véspera do Natal de 1988, marido e mulher foram encontrados mortos sem que o sobrado onde moravam tivesse sinais de arrombamento. A história fez com que a casa fosse vendida apenas 14 anos depois do assassinato, em 2002. Ainda assim, mais de dez anos depois de se mudarem, os novos donos da casa resistem em dar entrevista sobre o caso.
Eloá Pimentel - O trauma causado pelo assassinato da jovem Eloá Pimentel, então com 15 anos, levou a mãe da vítima, Ana Cristina Pimentel, a procurar a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) para pedir transferência da moradia, logo após o desfecho do caso em 2008. Elas moravam no apartamento 24 de uma unidade habitacional da companhia no Jardim Santo André, no ABC Paulista, quando Lindemberg Alves, de 22 anos, manteve a ex-namorada sequestrada na própria residência antes de matá-la com um tiro na cabeça. Mas, pouco tempo depois, o órgão encontrou uma nova família disposta a morar no local.
Goleiro Bruno - O local exato da morte de Eliza Samudio nunca foi descoberto, assim como o que aconteceu com seu corpo, mesmo após a condenação do goleiro Bruno Fernandes a 22 anos de prisão pela morte da ex-amante. Mas, as informações de que o sítio do ex-jogador de futebol serviu de cativeiro antes do assassinato da jovem não impossibilitaram a venda do imóvel localizado em Esmeraldas (MG) no início deste ano, quando a Justiça autorizou o negócio.
Para concluir a transação, no entanto, a defesa do jogador teve de reduzir bastante o valor da propriedade. No início, de acordo com um anúncio feito num jornal, o sítio estava à venda por cerca de R$ 800 mil. Por causa da polêmica, no entanto, acabou sendo passado a um novo proprietário por pouco mais de R$ 300 mil, de acordo com o advogado da família de Eliza, José Arteiro Cavalcante.
As informações são de Renan Truffi