Rio - A declaração do Papa Francisco de que os homossexuais não podem ser discriminados, durante o voo de volta ao Vaticano, na madrugada de ontem, foi bem recebida por entidades de defesa da causa gay. Ativistas viram nas palavras da mais alta autoridade da Igreja Católica um avanço decisivo contra a homofobia no mundo. Para um grupo de jornalistas que o acompanhava na viagem, o Pontífice afirmou que “se uma pessoa é gay, procura Deus e tem boa vontade, quem sou eu, por caridade, para julgá-la?”.
O Papa condenou o lobby gay, mas disse que ninguém deve ser discriminado por sua orientação sexual, mas integrado à sociedade. “Devemos ser como irmãos”, disse. A tolerância do Santo Padre deu esperanças para toda a comunidade LGBT, que enfrenta um assassinato de gays por dia no Brasil. “Só pelo fato de não atacar a comunidade gay já ajuda muito. Já me dá uma esperança de que a Igreja possa, futuramente, mudar”, afirma Carlos Magno, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais.
Para os ativistas, pela primeira vez um Pontífice se mostrou sensível e diferente de todos os papas que o antecederam. “É um marco importante que pode contribuir para um novo momento do homossexualismo, que em muitos países é tratado como crime e pena de morte”, comemorou Cláudio Nascimento, coordenador do Programa Rio Sem Homofobia, do Governo do Estado.
Segundo ele, apesar de condenar as relações homoafetivas e o casamento gay, o Papa Francisco demonstrou estar aberto ao diálogo. “Era um assunto que estava dentro do armário, o Papa o levou para ante-sala e quem sabe no futuro, seja discutido na sala de jantar”, espera Nascimento.
A postura de Sua Santidade não altera os dogmas católicos que não condenam a orientação homossexual, mas tratam os atos como pecaminosos. “A Igreja tem suas posições que devem ser respeitadas. O importante é que a mensagem do Papa vai além da Igreja e prega a inclusão dos homossexuais em toda a sociedade”, reconhece Cláudio Nascimento.
Frases do Papa
Carismáticos
“Eles são importantes para a própria Igreja, a Igreja que se renova”.
Pedidos de orações
“Sempre pedi isso. Preciso da ajuda do Senhor. Eu de verdade me sinto com tantos limites, tantos problemas, e também pecador. É um hábito, mas que vem da necessidade”.
Próximas viagens
“No dia 22 de setembro, Cagliari. Depois, em 4 de outubro, para Assis. Fora da Itália, Jerusalém . Acredito que se possa ir à Ásia, mas está tudo no ar. Tive convites para ir ao Sri Lanka e Filipinas”.
Mala preta
“Não tinha a chave da bomba atômica. Sempre fiz isso. Quando viajo, levo minhas coisas. Um barbeador, um breviário (livro de liturgia), uma agenda, tinha um livro para ler, sobre Santa Terezinha. Temos que ser normais”.
Mulheres ordenadas
“A Igreja já disse que não. Esta porta está fechada. Nossa senhora, Maria, é mais importante que os apóstolos”.
Banco do Vaticano
“Não sei como vai ficar. Alguns acham melhor que seja um banco, outros que deveria ser fundo de ajuda. Seja o que for, tem que ser feito com transparência e honestidade”.
Escândalos
“Tem santos na Cúria. Tem alguns que não são. Faz mais barulho uma árvore que cai do que uma floresta que nasce. Isso me dói”.
Aborto
“A Igreja tem doutrina clara. Queria falar de coisas positivas. Os jovens sabem a posição da Igreja”.
'Enjaulado'
“Gostaria de estar nas ruas. Entendo que não é possível”.