Por tamyres.matos
Aos 23 anos, Daniel Oliveira era dono de uma produtora no Rio de Janeiro. Uma ladainha de preocupações generalizadas, de compromissos pessoais a reuniões no trabalho, ocupava sua mente todos os dias. Não dormia. Queria fazer e controlar tudo, inclusive a reação das outras pessoas. Pode parecer mais um caso de profissional atarefado, mas trata-se do Transtorno de Ansiedade, mal que afeta cerca de 25% da população mundial e que passa despercebido por muitos pacientes, em meio a agendas e cabeças lotadas.
Sentimento inerente aos seres humanos, que indica possível ameaça, a ansiedade pode se tornar uma doença e o Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) é um dos tipos mais recorrentes. Segundo o psiquiatra Luiz Vicente Figueira de Mello, do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP), pacientes com este diagnóstico sofrem com a sensação de tempo insuficiente para muitos afazeres. Mas, segundo o especialista, o problema não está no relógio, mas em não priorizar as tarefas mais importantes e querer ‘dar conta de tudo’.
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Para caracterizar o transtorno, os sinais devem permanecer por ao menos dois anos. Luiz Vicente alerta que o estresse decorrente da preocupação faz o organismo liberar substância chamada cortisol, que favorece a depressão. Sobre os sintomas físicos, dor de cabeça, no estômago, insônia, problemas gastrointestinais e cardiovasculares são os mais comuns. “São pessoas que querem fazer tudo, mas não conseguem e ficam frustradas e deprimidas. A doença gera preocupação excessiva com coisas simples e até prazerosas, como festas”, declara.
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Há casos em que o TAG surge na infância e fica mais grave na fase adulta. “Casos não diagnosticados na infância tornam-se mais graves nos adultos, pois eles têm mais compromissos e afazeres”. O tratamento consiste em psicoterapia cognitiva comportamental, mas, segundo o psiquiatra, as pessoas com transtorno procuram primeiro um médico para tratar dos sintomas físicos. “A pessoa precisa entender que é ansiosa. O psiquiatra vai ajudá-la a organizar a vida”, garante.
Existem dez tipos de transtornos
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O Transtorno de Ansiedade Generalizada é apenas um dos quase dez tipos já catalogados por especialistas. A lista inclui os transtornos de pânico, obsessivo compulsivo (TOC), de estresse pós-traumático, de ansiedade induzido por substâncias (uso de drogas e álcool), além de fobia social e específicas, e agorafobia (medo de passar mal e não ter como ser socorrido).
O transtorno mais comum é a fobia específica, medo excessivo e irracional pela presença de objeto, animal ou situação, como andar de elevador. Segundo Luiz Vicente, parte dos transtornos tem origem genética, mas qualidade de vida pode diminuir as chances da doença. Cerca de 70% dos pacientes diagnosticados possuem também depressão. “A exposição ao estresse abre as portas para a ansiedade”.
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Medo exagerado e taquicardia
Uma crise de ansiedade, em 2006, mostrou ao músico Daniel, 30 anos, que ele não conseguiria resolver todos os problemas que ocupavam sua cabeça. Em São Paulo, enquanto trabalhava na produção de um espetáculo, ele teve taquicardia, sensação de morte e medo exagerado. Os sentimentos apareceram outras vezes, mesmo em situações não ligadas ao trabalho. “Eu não tinha noção dos meus limites e cuidava menos de mim para ter mais tempo para resolver outras coisas”, relata.
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A recuperação veio graças à consciência da doença, aliada à alimentação saudável e prática de exercícios. Daniel teve ainda acompanhamento psiquiátrico e fez uso de remédios.