Por tamyres.matos
A concentração na atmosfera do principal gás do efeito estufa atingiu este mês um nível que não era registrado na Terra há mais de 4 milhões de anos. Na época, a temperatura média no planeta era cerca de 3 graus mais alta do que na atualidade. Com isso, a ONU e entidades ambientalistas passaram a considerar que vivemos numa espécie de panela de pressão prestes a explodir — o que exige ações imediatas de governos, indústrias e populações para abaixar o fogo.
Atingida dia 9, a marca de 400 ppm (partes por milhão) de dióxido de carbono (CO2) é, para os cientistas, limite simbólico que representa o fracasso da luta mundial para controlar as emissões do gás que causa o aquecimento global. O registro foi feito pela Agência Norte-Americana Oceânica e Atmosférica, que monitora a concentração de observatório na ilha do Vulcão Mauna Loa, no Havaí, a 3 mil metros de altitude.
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“Isto põe o planeta numa zona de perigo”, afirma a secretária-executiva da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (UNFCCC), Christiana Figueres, que apela à comunidade internacional que dê uma “resposta política capaz de enfrentar o desafio”. As emissões de CO2 são resultado de atividades humanas que envolvem a queima de combustíveis fósseis (petróleo, gás e carvão mineral).
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A meta da ONU é impedir que a concentração passe de 450 ppm, limite de segurança para mudanças climáticas mais catastróficas. “Este índice deverá ser alcançado nos próximos 25 anos, se mantido o ritmo atual de crescimento das emissões”, afirmou o pesquisador Ralph Keeling, do Instituto Scripps de Oceanografia, em entrevista ao ‘New York Times’. Com isso, a temperatura pode aumentar entre 3 graus e 5 graus.
O objetivo fixado pela comunidade internacional em 2009 foi o de manter o aquecimento global a um máximo de mais 2 graus em relação aos níveis de antes da era industrial. “O mundo precisa acordar e entender o que isso significa para o desenvolvimento econômico, a segurança e o bem-estar humano”, diz Christiana Figueres.
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Humanidade em direção a um ‘túnel do tempo climático’
Há 4 milhões de anos, não havia surgido o Homo Sapiens, que daria origem ao ser humano. As temperaturas eram mais elevadas e, como quase não havia geleiras, os oceanos eram estavam cerca de 25 metros acima dos níveis atuais. “Esse mundo irreconhecível está sendo recriado pela intervenção humana na atmosfera terrestre, com o agravante de que é evidente que a concentração de CO2 não se estabilizará em 400 ppm”, afirma Alexandre Costa, professor da Universidade Estadual do Ceará, Ph.D. em Ciências Atmosféricas, em artigo ao Ecodebate. “Estranho ‘progresso’ este que nos empurra a um túnel do tempo do clima”, acrescenta.
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A OMM (Organização Meteorológica Mundial) avaliou que, após superado o limite de 400 ppm, este pico pode se tornar a média anual mundial. E mais: “A concentração de CO2 superará o limite de 400 ppm em 2015 ou 2016”, informou a agência da ONU.
Governos vão se reunir durante duas semanas — a partir do dia 3 de junho, em Bonn, Alemanha — para a próxima rodada de negociações sobre o tema, sob coordenação da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática. O próximo grande encontro será a cúpula climática da ONU, que ocorrerá na França em 2015.
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Temporais e secas mais extremos
As mudanças climáticas irão aumentar as chuvas de maior intensidade em certas regiões do planeta, como os trópicos, e intensificar as secas nas áreas temperadas, indicou pesquisa da Nasa.
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Segundo a análise, para cada 0,55 grau a mais na temperatura média global, as chuvas extremas aumentarão em 3,9%, enquanto as chuvas leves, em 1%. Já nas regiões de seca, para cada grau Fahrenheit de aquecimento, a ausência de chuvas aumentará em 2,6%. William Lau, cientista do Centro Goddard de Voos Espaciais da NASA, explicou que as secas devem afetar mais a população do que as chuvas extremas, pois estas ocorrem mais em áreas sobre os oceanos.
No Hemisfério Sul, as secas provavelmente se tornarão ainda mais severas no Nordeste do Brasil, Sul da África, no Noroeste da Austrália e na costa da América Central. No Hemisfério Norte, as áreas mais afetadas são os desertos e zonas áridas do sudoeste dos Estados Unidos, o México, o norte da África, o Oriente Médio, o Paquistão e o noroeste da China.
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Embora outros estudos anteriores já indicassem a relação entre as mudanças climáticas e os eventos extremos, esta nova pesquisa da Nasa é a primeira a mostrar como as emissões de CO2 afetam diferentes padrões de precipitação existentes.