Pesquisa usa dentes de leite de crianças com a doença para obter células-tronco que são transformadas em neurônios
Por bferreira
Rio - Dentes de leite estão ajudando pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) a entenderem as alterações cerebrais em portadores de autismo. As células do interior do dente de crianças com a doença são coletadas e reprogramadas para virarem células-tronco e, em seguida, se transformarem em neurônios a serem analisados.
Conhecido por ‘A Fada do Dente’, o projeto recebe dentes enviados por pais de autistas. De acordo com Patrícia Beltrão Braga, coordenadora do estudo, além de analisar o comportamento dos neurônios, a pesquisa pretende comparar as células do sistema nervoso de crianças autistas com as de não portadoras da doença. “Queremos testar medicamentos que possam reverter o problema e transformar os neurônios”, explica a cientista da USP.
Ainda segundo Patrícia, um vírus que carrega genes presentes nas células embrionárias é inserido na região que fica no interior do dente (polpa). “Com o vírus, a célula do dente volta no tempo e passa a se comportar como uma embrionária”. A partir daí, os neurônios são produzidos, num processo que dura cinco meses. A bióloga explica que o material é melhor para estudar a doença do que a partir de células funcionais.
Publicidade
“Não é possível retirar tecido cerebral de pessoas vivas, e em mortos não é possível estudar as conexões, por isso a importância de recriar neurônios”, diz. Desenvolvido em parceria com a Universidade da Califórnia, o projeto surgiu em 2009 e é feito na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP.
Pais de todo o Brasil, cujos filhos são diagnosticados com autismo, podem entrar em contato com os pesquisadores ( projetoafadadodente@yahoo.com.br), quando o dente da criança estiver mole. Eles são cadastrados, preenchem um questionário sobre o comportamento da criança e recebem um kit para colher o dente quando ele cair ou for retirado. O kit contém um frasco com um líquido e gelo reciclável, que mantêm as células vivas. O material é enviado por correio e o dente precisa ser colhido com rapidez.