Por juliana.stefanelli

Damasco (Síria) - As forças governamentais e os grupos opositores radicalizados pela infiltração de combatentes estrangeiros seguem praticando crimes de guerra na Síria, entre os quais a "violência sexual", afirmou um detalhado relatório divulgado nesta quarta-feira por uma comissão investigadora da ONU liderado pelo diplomata brasileiro Paulo Sergio Pinheiro.

"As forças governamentais e pró-governo (milícias ligadas ao regime) seguem realizando amplos ataques contra a população civil, perpetrando assassinatos, torturas, estupros e desaparições forçadas consideradas crimes contra a humanidade", afirmam os autores do relatório. A comissão apresentou em seu documento uma recopilação de evidências sobre os crimes mais graves ocorridos entre 15 de maio e 15 de julho no contexto do conflito armado sírio.

Manifestantes pedem paz na SíriaEFE

O conteúdo do relatório, junto com uma atualização dos fatos mais recentes, será apresentado pela comissão na próxima segunda-feira no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, em Genebra. O documento volta a acusar as forças do governo de Bashar al Assad de um grande número de "violações dos direitos humanos e de crimes de guerra", como torturas, sequestros, assassinatos, execuções sem processo judicial e ataques contra hospitais ou escolas, que deveriam estar protegidos de atos violentos. As forças antigovernamentais também são acusadas de crimes de guerra similares, assim como de ter sitiado e bombardeado de maneira indiscriminada bairros civis.

O dossiê também faz referência a grupos armados curdos, que operam no norte da Síria e são acusados de recrutar e utilizar menores, a partir de 14 anos, como soldados. O relatório, o sétimo que a comissão apresenta desde sua criação, coincide com os preparativos para uma reunião de último minuto que ocorrerá amanhã em Genebra entre os chefes da diplomacia da Rússia e Estados Unidos.

O ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, e o secretário de Estado americano, John Kerry, tentarão chegar a um acordo sobre a proposta de Moscou de pôr sob controle internacional as armas químicas do regime sírio. Sobre a evolução do conflito, o relatório encarregado pela ONU confirma que a forças governamentais recuperaram o controle de cidades e centros econômicos importantes na Síria, com exceção de Aleppo.

Além disso, o documento confirma temores sobre a radicalização da oposição pela infiltração de combatentes estrangeiros e a importância assumida por grupos extremistas que entraram na luta, alguns dos quais estão em listas internacionais de organizações terroristas.

Os membros da comissão afirmaram que o fracasso de uma solução política ao conflito não só levou a "uma maior intransigência" das partes que se enfrentam na Síria, mas também a um agravamento da situação, "com novos atos e crimes antes inimagináveis". "Optar por uma ação militar na Síria intensificará o sofrimento dos civis dentro do país e servirá para que uma solução fique fora de alcance", acrescentaram.

Entre os crimes relatados, o texto afirmou que "a violência sexual" tem um papel predominante nesta guerra e que "ocorre em batidas, postos de controle, centros de detenção e prisões em todo o país". "A ameaça do estupro é usada para aterrorizar e castigar as mulheres, homens e crianças percebidos como da oposição", segundo o documento.

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