Aleppo - A guerra civil na Síria — que se arrasta há dois anos e já matou cem mil pessoas — mudou para sempre a vida dos cidadãos do país. Para o menino Issa, significou o fim da infância aos 10 anos de idade. Em vez de ir à escola, ele trabalha dez horas por dia, seis dias por semana, numa fábrica em Aleppo, a segunda maior cidade do país. Ao lado do pai, coloca carga em granadas e faz reparos em lançadores de morteiros. As armas são usadas pelos combatentes do Exército Livre Sírio, principal organização rebelde que tenta derrubar o presidente Bashar Al-Assad.
Ontem, o governo sírio — sob ameaça de bombardeio dos Estados Unidos — aceitou proposta russa de entregar o controle de suas armas químicas à comunidade internacional. Afirmou, ainda, estar pronto para revelar a localização de seu arsenal e mostrar as suas instalações a representantes internacionais. No mesmo dia, a ONG Human Rights Watch anunciou ter indícios de que o ataque químico do dia 21, quando 1,4 mil civis morreram, foi obra de Assad, como acusam os EUA, e não de rebeldes, como alega o presidente sírio.
Enquanto as potências mundiais discutem a possibilidade de bombardeio ao país árabe em represália ao ataque químico, o povo segue sofrendo. Dia 7, o fotojornalista da Reuters Hamid Khatib acompanhou a rotina do menino Issa. Com o rosto sujo de graxa e as mãos machucadas, o garoto tem o olhar conformado. Seu único dia de folga é a sexta-feira, reservada pelos muçulmanos às orações. Sua escola está entre as mais de três mil destruídas pelos bombardeios. Outras mil abrigam desalojados, segundo o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância).
Dados da organização mostram que dois milhões de crianças deixaram de ir às aulas e mais de um milhão tiveram que fugir do país. Muitas também não vão ao colégio devido ao clima de insegurança, afirma Leila Zerrougui, representante especial da ONU para crianças em conflitos armados. Ela acrescenta, ainda, que relatórios revelam que crianças estão sendo doutrinadas ou recrutadas para lutar na guerra civil. Outros dados dão conta de que cerca de sete mil crianças foram mortas desde o início do conflito. Relatório da Inteligência dos EUA diz que 429 foram vítimas do ataque com armas químicas, dia 21.
Assad promete entregar armas
Foi o ministro das Relações Exteriores da Síria, Walid al-Muallem, que comunicou ontem ao mundo a decisão do governo de entregar o controle de seu arsenal químico à comunidade internacional e revelar locais de suas instalações. Pouco antes, o secretário de Estado americano, John Kerry, afirmou que receberá do governo russo proposta de retirada de armas químicas da Síria. O representante do governo Barack Obama disse ainda que os EUA não estão dispostos a esperar muito tempo pela atitude de Assad. Obama segue buscando apoio entre congressistas de seu país para que autorizem um ataque aéreo.