Por adriano.araujo

Rio - O bullying, problema frequentemente associado ao ambiente escolar, também pode acontecer dentro de casa. E o pior: entre irmãos. Pesquisa publicada na revista americana ‘Pediatrics’, com 3.599 pessoas, revelou que 32% sofrem do mal. Foram entrevistados, por telefone, cuidadores ou responsáveis por crianças de até 9 anos, além de adolescentes entre 10 e 17. Todos os analisados tinham pelo menos um irmão também menor de 18 anos morando na mesma casa.

De acordo com os pesquisadores, as vítimas do ‘bullying fraterno’ apresentaram sérios danos na saúde mental, como depressão e ansiedade. Entre as ações sofridas foram citadas: agressão física, lesão com ou sem arma de fogo, roubo e furto, dano de pertences da vítima de propósito, além de palavras que fizeram a criança se sentir mal, com medo ou não querida.

“Cabe aos pais ficarem atentos a qualquer sinal de mudança de comportamento na criança e agir rápido. Eles também devem ser bons exemplos”, disse o pediatra Moises Chencinski. A pesquisa foi publicada em julho. Cerca de 70% dos jovens moravam com pai e mãe e 20% com apenas um dos dois.

O estudo ressaltou ainda que, enquanto a agressão na escola é reconhecida socialmente, a intimidação dentro de casa, muitas vezes, é considerda ‘normal’ e ‘aceitável’. O psiquiatra Ricardo Krause, da Santa Casa de Misericórdia, alerta que o bullying entre irmãos é mais nocivo, já que a família é o local de segurança e acolhimento.

“Quando ocorre na escola, a criança tem a família para recorrer e receber apoio. Mas o bullying dentro de casa sinaliza incapacidade dos pais em protegê-la. Ela se sente sem lugar no mundo”, aponta.

Segundo ele, há casos de bullying praticado por irmãos e responsáveis em conjunto, normalmente quando a criança não atende às expectativas dos pais ou quando apresenta um temperamento diferente dos demais moradores da casa. “Isso é muito danoso e pode gerar até depressão”, declara.

O que diferencia as tradicionais implicâncias entre os irmãos do bullying? Para o especialista, danos na vida da criança, como queda do rendimento escolar, retração e tristeza são as características mais comuns de que a brincadeira passou dos limites.

“Em todo grupo social há competição e a família não é diferente. Uma criança que foi filha única por muitos anos pode sofrer ao perder esse posto com a chegada de um mais novo”, explica.

Pais devem agir rápido e não achar que ‘vai passar’

PARTICIPAÇÃO DOS PAIS

Em alguns casos, os pais podem ter responsabilidade no bullying entre irmãos. É o caso de responsáveis que não tratam os filhos de maneira equilibrada e privilegiam um deles. O ciúme pode motivar as agressões contra o filho ‘mais querido’. Além disso, pais que apresentam comportamento agressivo e costumam ‘zombar’ dos próprios familiares podem servir de mau exemplo para os pequenos. Nesse caso, o comportamento é imitado e a vítima é o irmão.

COMO AGIR

Ao perceber o bullying dentro de casa, os responsáveis devem ser rápidos para cortar o problema e não achar que vai passar com o tempo. É importante deixar claro ao agressor que o comportamento é inaceitável e que fere a vítima. Em alguns casos, escola e babás podem ajudar no processo.

SINTOMAS

A vítima do bullying pode apresentar tristeza, irritabilidade, depressão, dor de cabeça, náusea, além de atos como fazer xixi na cama, por exemplo.

TRATAMENTO

Envolve terapia familiar e individual. Os pais são orientados a revisar a própria conduta e a criança é estimulada a ser mais assertiva e a enfrentar os próprios problemas. Não há necessidade de medicamentos.

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